Metade dos brasileiros não praticam atividade física
Pesquisa Datafolha revela que renda, escolaridade, gênero e idade influenciam fortemente o sedentarismo no país, com falta de tempo liderando as justificativas para a inatividade

Quase metade da população brasileira com 16 anos ou mais não realiza qualquer atividade física no dia a dia. É o que mostra a nova pesquisa realizada pelo Datafolha, que identificou 47% de sedentarismo entre os entrevistados. Os dados, coletados entre os dias 9 e 11 de dezembro em 113 municípios, revelam um panorama marcado por desigualdades sociais, econômicas e educacionais que influenciam diretamente os hábitos de saúde da população.
Enquanto 53% afirmam se exercitar com alguma frequência, a prática de atividades físicas é menos comum entre aqueles com renda mais baixa e menor grau de instrução. Entre os entrevistados cuja renda familiar não ultrapassa dois salários mínimos, a taxa de praticantes cai para 47%. No extremo oposto, 66% dos que ganham mais de cinco salários mínimos declaram ter uma rotina ativa, um contraste que evidencia a influência do acesso a espaços, tempo e recursos para o cuidado com o corpo.
A escolaridade também interfere diretamente nos índices de atividade física. Apenas 44% das pessoas com ensino fundamental completo relataram hábitos regulares de exercício. Esse número cresce para 56% entre quem completou o ensino médio e alcança 66% entre os que têm ensino superior. O dado sugere que o acúmulo de capital cultural, associado à compreensão dos benefícios do exercício físico, pode ser determinante na formação de hábitos saudáveis.
A pesquisa apontou ainda disparidades entre homens e mulheres. Enquanto 56% dos homens afirmaram praticar exercícios com regularidade, entre as mulheres esse número foi de apenas 50%. A diferença de seis pontos percentuais pode estar relacionada a múltiplas jornadas de trabalho, responsabilidades domésticas desproporcionalmente atribuídas às mulheres e ausência de políticas públicas de estímulo ao autocuidado feminino.
A análise por faixa etária indica que a juventude lidera em hábitos saudáveis: 61% dos brasileiros entre 16 e 24 anos afirmam ter uma rotina ativa. A adesão cai para 47% na faixa dos 45 a 59 anos, sendo superada até mesmo pelo grupo com 60 anos ou mais, que registra 55%. O dado reforça que, mesmo na terceira idade, a prática de exercícios físicos é possível e adotada, enquanto a fase adulta média parece ser o período mais negligenciado em termos de cuidado físico, possivelmente pela sobrecarga profissional e familiar.
Para entender o que leva à inatividade, o Datafolha questionou os 47% que se declararam sedentários. A principal justificativa apontada foi a falta de tempo, mencionada por 49% dos entrevistados. A segunda razão mais citada foi a “preguiça” ou falta de vontade (19%), seguida por “não gostar” (9%), problemas de saúde ou deficiência (5%), “não se sentir bem fisicamente” (4%), falta de recursos financeiros (3%) e desinteresse (2%).
Entre os que se exercitam, a maioria (35%) afirmou realizar atividades físicas de três a quatro vezes por semana. Outros 25% se exercitam diariamente, e apenas 4% se movimentam uma vez por semana. Os dados mostram que, embora exista uma parcela significativa da população que inclui o exercício na rotina, há um desafio persistente em transformar o sedentarismo em exceção e não regra.
A pesquisa acende um alerta para a urgência de políticas públicas que incentivem a prática de atividades físicas e garantam acesso equitativo a espaços adequados, principalmente para mulheres, pessoas com menor escolaridade e baixa renda. Promover a saúde, nesse contexto, significa também combater a desigualdade social que impede que grande parte da população encontre tempo, energia e ambiente para se mover.