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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
golpes

Fraudes digitais se multiplicam e vítimas ainda são responsabilizadas

Golpes por links falsos, promessas de benefícios e invasões via Bluetooth revelam falhas na proteção digital e deixam cidadãos desamparados

Luana Avelarpor Luana Avelar em 16 de junho de 2025
16 MATERIA CREDITOS Freepik

Nos últimos anos, golpes digitais deixaram de ser exceção e se tornaram parte do cotidiano de brasileiros de diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade. Entre janeiro e março deste ano, seis tipos de fraudes se destacaram pela recorrência e pelo impacto nas vítimas, segundo levantamento da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). A entidade aponta não apenas para a sofisticação das técnicas utilizadas pelos criminosos, mas também para a solidão vivida por quem cai nessas armadilhas.

O advogado Francisco Gomes Junior, avalia que, além dos prejuízos financeiros, as vítimas ainda enfrentam julgamentos sociais. “É comum ouvir frases como ‘não acredito que você caiu nisso’ ou ‘caiu porque foi ganancioso’. O resultado é um sentimento de orfandade digital, como se não houvesse para onde correr depois do golpe”, afirma. A percepção de culpa, somada à ausência de políticas públicas robustas de amparo e prevenção, intensifica o sentimento de abandono.

Os criminosos, por sua vez, adaptam seus esquemas conforme o calendário. “Em abril e maio, o tema é Imposto de Renda. Em dezembro, o golpe muda de cara e fala sobre 13º salário, por exemplo”, explica o advogado. A estratégia é simples e eficaz: explorar o contexto emocional, a urgência e a confiança das vítimas.

Entre os golpes mais frequentes estão links maliciosos que simulam mensagens de bancos ou da Receita Federal e redirecionam para sites falsos. Também são comuns fraudes com falsas promessas de benefícios sociais, como o Bolsa Família ou o INSS, em que o criminoso solicita um pagamento inicial para liberar o suposto valor.

Outro método envolve o uso do WhatsApp, no qual a vítima é induzida a clicar em links ou compartilhar códigos de verificação. Com esses dados, os criminosos invadem a conta e podem acessar outros aplicativos. Já o golpe do falso gerente de banco consiste em ligações que informam sobre movimentações suspeitas na conta. A vítima, ao fornecer seus dados, entrega o acesso completo a seus recursos financeiros.

A falsa venda online também segue em alta: sites bem estruturados e visualmente confiáveis anunciam produtos com preços abaixo do mercado. Após o pagamento, o comprador simplesmente não recebe nada. No mesmo caminho estão as ofertas de empréstimo consignado, em que golpistas simulam campanhas governamentais e cobram uma taxa para liberar o valor prometido.

Para Francisco Gomes, as orientações atuais, como não clicar em links suspeitos, usar senhas fortes e ativar a verificação em duas etapas, já não dão conta do problema. “As dicas atuais já estão ultrapassadas. Os criminosos se aproveitam da mudança constante no cenário digital. É preciso uma abordagem mais moderna, com campanhas educativas mais eficazes e apoio real às vítimas”, defende.

Um risco ainda pouco discutido, mas crescente, envolve o uso do Bluetooth. Segundo o levantamento, golpistas têm explorado a conexão em locais públicos para acessar dados de dispositivos próximos, sem que os donos percebam. A entidade classifica a prática como “golpe invisível”, por acontecer de forma silenciosa e sem qualquer ação do usuário.

O cenário atual, segundo o advogado, revela uma falha coletiva: não das vítimas, mas do sistema de proteção digital como um todo. “Os golpes vão continuar crescendo se a gente continuar tratando esse problema como uma falha do usuário. Isso é uma falha do sistema, da estrutura de proteção digital e da falta de responsabilização dos golpistas. E quem paga a conta é sempre a vítima”, conclui.

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