Esteatose hepática afeta 44% dos adultos na América Latina
Diabetes é um fator de risco importante para a doença hepática
A esteatose hepática, popularmente conhecida como “fígado gorduroso”, tem se consolidado como um problema de saúde pública de escala global. Desde a década de 1990, a prevalência da condição aumentou mais de 50%, saltando de 25,26% para cerca de 38% da população mundial. Na América Latina, o cenário é ainda mais alarmante: estima-se que 44% dos adultos estejam afetados.
Recentemente, a enfermidade passou a ser classificada como Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica (DHEADM). Segundo especialistas, o avanço está diretamente ligado a fatores típicos do estilo de vida contemporâneo, como má alimentação, sedentarismo, excesso de peso, aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e a crescente incidência de doenças crônicas como diabetes tipo 2 e hipertensão.
Diabetes é um fator de risco importante para a DHEM. A prevalência global da DHEM em pessoas com diabetes tipo 2 aumentou em 23,2%, atingindo 68,81% de 2016 até 2021.
Um dos maiores desafios no enfrentamento da DHEADM é sua natureza silenciosa. A maioria dos casos não apresenta sintomas nas fases iniciais, dificultando o diagnóstico precoce. Alguns pacientes podem relatar sintomas como fadiga, mal-estar geral ou desconforto na região do hipocôndrio direito. A presença de hepatomegalia é observada em até 75% dos casos.
Já a esplenomegalia tende a surgir nos estágios mais avançados da doença, quando a fibrose hepática se instala, sendo frequentemente o primeiro indicativo de hipertensão portal. Nos casos de cirrose decorrente da DEHADM, a maioria dos indivíduos permanece assintomática, sem apresentar os sinais clássicos de uma doença hepática crônica.
Em geral, a doença é identificada acidentalmente, durante exames de rotina ou investigações para outras condições de saúde. A confirmação costuma vir por meio de exames de imagem, como ultrassonografia e ressonância magnética, associados a alterações em enzimas hepáticas.
Nos casos em que a doença progride, o acúmulo de gordura no fígado pode levar à inflamação. Estimativas indicam que entre 12% e 40% dos pacientes com esteatose avançam para essa forma inflamatória, e de 15% a 25% podem desenvolver cirrose, estágio em que o tecido hepático é substituído por cicatrizes, comprometendo a função do órgão.
Com o avanço da condição, cresce também o número de transplantes de fígado atribuídos à esteatose avançada, enquanto os procedimentos ligados à hepatite C vêm diminuindo. De acordo com especialistas, boa parte desses casos graves seria evitável com diagnóstico precoce e mudanças sustentáveis no estilo de vida.
Grupos considerados de maior risco incluem pessoas com obesidade, presente em mais de 70% dos casos, diabéticos tipo 2 (75%), hipertensos, indivíduos com colesterol HDL baixo e aqueles com histórico familiar da doença. No entanto, a esteatose também pode atingir pessoas magras, além de crianças e adolescentes, especialmente quando há predisposição genética. A estimativa é que a doença atinja entre 7% e 14% da população pediátrica.
O tratamento varia conforme o estágio da doença, mas tem como base a adoção de hábitos saudáveis: perda de peso, alimentação equilibrada, redução do consumo de álcool, prática regular de exercícios físicos e controle rigoroso de condições associadas. Em estágios iniciais, essas medidas são capazes de reverter completamente o quadro.
No campo dos medicamentos, substâncias como semaglutida e tizerpatida, já utilizadas no tratamento do diabetes tipo 2, têm apresentado bons resultados contra a esteatose. Mais recentemente, o resmetirom, fármaco desenvolvido pela empresa americana Madrigal Pharmaceuticals, recebeu aprovação da FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, para o tratamento da MASH com fibrose moderada a avançada, em adultos sem cirrose. A medicação ainda não está disponível no Brasil.
Com o objetivo de ampliar a conscientização, o Global Liver Institute, dos Estados Unidos, institui o Dia Mundial do Fígado Gorduroso, celebrado anualmente em 12 de junho. A iniciativa busca alertar tanto o público quanto os profissionais da saúde sobre uma condição silenciosa, mas com potencial de evolução, reforçando a importância do rastreamento e da prevenção.