Preservação da fertilidade cresce entre mulheres
O procedimento, cada vez mais acessível em clínicas especializadas, começa com a estimulação ovariana controlada nas mulheres
Com os avanços constantes da medicina reprodutiva, o congelamento de óvulos, técnica conhecida como criopreservação oocitária, tem se consolidado como uma alternativa viável para mulheres que desejam adiar a maternidade. A proposta atrai especialmente aquelas que, por razões pessoais, profissionais ou médicas, optam por postergar a gestação. No entanto, a promessa de preservação da fertilidade futura ainda levanta dúvidas.
O procedimento, cada vez mais acessível em clínicas especializadas, começa com a estimulação ovariana controlada. Durante cerca de 8 a 12 dias, a mulher é submetida a doses hormonais com o objetivo de induzir os ovários a produzirem múltiplos óvulos, diferentemente do ciclo natural, em que apenas um costuma ser liberado. Ao longo desse processo, exames de sangue e ultrassonografias transvaginais frequentes monitoram o desenvolvimento dos folículos.
Quando os folículos atingem o tamanho ideal, aplica-se uma medicação que promove o amadurecimento final dos óvulos. Após cerca de 36 horas, realiza-se a punção ovariana transvaginal, um procedimento feito com sedação e guiado por ultrassom. Os óvulos maduros são então encaminhados ao laboratório, onde passam pela técnica de vitrificação, um método de congelamento ultrarrápido, capaz de minimizar a formação de cristais de gelo e aumentar significativamente a taxa de sobrevivência celular.
A criopreservação é indicada em dois contextos principais: na preservação social da fertilidade, voltada para mulheres que optam por postergar a maternidade, e na preservação oncológica ou médica, recomendada para pacientes que passarão por tratamentos agressivos, como quimioterapia, radioterapia pélvica ou cirurgias que afetam os ovários.
As taxas associadas ao procedimento, embora animadoras, indicam que o sucesso não é garantido. Quando realizada corretamente, a técnica apresenta uma taxa de sobrevivência dos óvulos descongelados em torno de 90%. Já a fertilização por ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide) atinge entre 70% e 80% de eficácia. A formação de embriões viáveis gira em torno de 40% a 50%, enquanto a taxa de implantação no útero varia de 20% a 40%. No entanto, a taxa de nascidos vivos por óvulo congelado permanece entre 2% e 12%, dependendo da idade da mulher no momento da coleta.
A idade, aliás, é o fator mais determinante. Dados populacionais indicam que a chance de uma gravidez futura com óvulos congelados antes dos 30 anos pode chegar a 75%. Esse índice cai para 50% a 65% entre 30 e 34 anos, e se reduz progressivamente a partir dos 35. Mulheres com 38 a 40 anos enfrentam chances entre 20% e 40%, enquanto acima dos 43 anos, as taxas dificilmente ultrapassam os 10%.
Embora os números sejam estimativas médias e variem conforme as condições clínicas de cada paciente, especialistas recomendam o congelamento de pelo menos 15 a 20 óvulos até os 35 anos, como forma de aumentar as chances de sucesso. Mais relevante do que a idade no momento da utilização dos óvulos é a idade em que eles foram congelados: uma mulher que optou pelo procedimento aos 32 anos e recorre ao material genético dez anos depois terá a fertilidade equivalente à de quando realizou a criopreservação.
A técnica, portanto, oferece uma possibilidade real, mas não absoluta. Trata-se de uma decisão que envolve não apenas critérios médicos, mas também aspectos emocionais, financeiros e pessoais e que deve ser tomada com orientação especializada e expectativas bem alinhadas à realidade da biologia reprodutiva.