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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Misturinhas

Misturas de produtos de limpeza disparam intoxicações domésticas no Brasil

Relatórios da Anvisa e dados de centros de toxicologia apontam aumento de casos, com crianças liderando as estatísticas

Luana Avelarpor Luana Avelar em 23 de junho de 2025
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Variety house cleaning product on wood table close up

A combinação de produtos de limpeza feita de forma caseira e sem orientação técnica tem elevado significativamente o número de intoxicações domésticas no Brasil. Segundo boletim da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mais de 6.700 casos de intoxicação por saneantes foram registrados apenas em 2021, ficando atrás apenas dos medicamentos, que lideraram o ranking de notificações.

No mesmo período, os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) contabilizaram mais de 3.400 atendimentos em todo o país. Os dados revelam que crianças de até quatro anos são as mais afetadas, respondendo por 40% das ocorrências. Minas Gerais, por exemplo, notificou 145 casos de intoxicação em crianças entre 2023 e 2024, sendo que mais de 30 resultaram em internações por complicações respiratórias.

Entre os fatores que contribuem para esse cenário está o uso disseminado das chamadas “misturinhas” — receitas populares compartilhadas em redes sociais que misturam água sanitária com vinagre, álcool ou amônia. A combinação desses produtos libera gases como cloro e clorofórmio, que afetam diretamente o sistema respiratório e o sistema nervoso central. Mesmo misturas aparentemente inofensivas, como vinagre com bicarbonato de sódio, podem provocar acidentes graves, como a explosão de frascos fechados devido à liberação de gás carbônico.

Os sintomas das intoxicações variam conforme a substância e o tempo de exposição. Os mais comuns são ardência nos olhos, nariz e garganta, dor de cabeça, tosse, náusea e dificuldade para respirar. Casos mais graves incluem queimaduras químicas, edema pulmonar e desmaios. Idosos, gestantes e pessoas com doenças respiratórias crônicas também estão entre os grupos de risco.

A inflação sobre os produtos industrializados tem levado muitos consumidores a buscar alternativas mais baratas, o que contribui para a adoção dessas misturas perigosas. Em 2023, o setor de produtos de limpeza cresceu 5,6% e movimentou US$ 7,5 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). O crescimento foi acompanhado pelo aumento da venda informal de produtos sem registro na Anvisa, muitas vezes reutilizados em embalagens improvisadas e sem informações sobre riscos.

Para garantir a segurança durante a higienização da casa, órgãos de saúde recomendam que não se misturem produtos diferentes, que se respeitem as instruções dos rótulos e que os ambientes estejam ventilados durante a limpeza. O uso de luvas e máscaras também é indicado para evitar o contato direto com substâncias químicas. Em caso de exposição, é essencial buscar atendimento médico imediato, especialmente diante de sintomas persistentes ou intensos.

Além da orientação médica, os números de emergência como o Disque-Intoxicação, disponível nos rótulos dos produtos, podem oferecer suporte rápido. A popularização de conteúdos digitais com receitas de limpeza caseira, embora atraente, tem contribuído para o aumento desses acidentes evitáveis, transformando um gesto cotidiano em uma situação de risco.

 

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