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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Evangélicos na política

Igrejas cheias e críticas ao PT: o que dizem líderes evangélicos de Goiás

Bispo Oídes do Carmo e apóstolo César Augusto afirmam, ao O HOJE, que dados do IBGE sobre redução no ritmo de crescimento evangélico estão distorcidos e questionam a tentativa do PT de conquistar a comunidade sem mudanças reais em pautas morais

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 24 de junho de 2025
Igrejas cheias e críticas ao PT: o que dizem líderes evangélicos de Goiás
Bispo Oídes lidera a Assembleia de Deus em Goiás; apóstolo César Augusto, a Igreja Fonte da Vida. Foto: Reprodução

Bruno Goulart

Após mais de seis décadas de crescimento acelerado, a comunidade evangélica no Brasil apresentou sua primeira desaceleração, conforme apontam os dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE. O crescimento, que havia sido de 6,5% entre 2000 e 2010, foi de 5,2% na última década. Embora ainda represente um acréscimo de mais de cinco milhões de fiéis, o dado chamou atenção por quebrar a tendência de crescimento contínuo. Em Goiás, dois dos maiores líderes evangélicos do estado – o bispo Oídes José do Carmo, presidente da Convenção Estadual das Assembleias de Deus, e o apóstolo César Augusto, fundador da Igreja Fonte da Vida – veem o cenário com ceticismo e fazem críticas ao PT, que tenta se reaproximar do público evangélico.

“Estão superdimensionando esse dado sobre desaceleração”, disse o bispo Oídes à reportagem. Segundo ele, o crescimento precisa ser analisado em termos proporcionais: “Crescer 5,2% sobre uma base já muito maior é algo matematicamente expressivo. Não dá pra comparar com quando éramos uma minoria. Só esse crescimento já representa mais de 5 milhões de pessoas”. Ele também questionou a metodologia da pesquisa. “Na minha casa mesmo ninguém veio perguntar minha religião. Esses dados são por amostragem. Para mim, não houve diminuição. Em pouco tempo seremos maioria”, afirmou.

Para o bispo, a tentativa do PT de se aproximar da comunidade evangélica esbarra na ideologia. “O melhor caminho não é cooptar um ou outro evangélico, mas mudar a ideologia. Mostrar que estão dispostos a não defender mais o aborto, a ideologia de gênero, a desconstrução da família tradicional”, argumentou. Ele cobra respeito à fé cristã e afirma que há um histórico de propostas que atacam os valores da igreja. “Não adianta falar de aproximação se continuam apresentando projetos que dificultam a ação da igreja”, completou.

Leia mais: Crescimento evangélico desacelera e divide conservadores e progressistas

Na mesma linha, o apóstolo César Augusto, uma das lideranças mais influentes da região Centro-Oeste, minimiza os dados do IBGE e afirma que o crescimento é visível no cotidiano das igrejas e nas ruas. “Isso não é o que a gente vê nos cultos, nos ginásios lotados, nas marchas para Jesus com centenas de milhares de pessoas. Cada dia abre-se uma igreja nova, cada dia tem gente se convertendo. É impossível mensurar isso com precisão”, disse. Para ele, o órgão que produziu a pesquisa carece de credibilidade. “É dirigido por um petista. O PT não tem interesse nenhum em divulgar a verdade sobre o crescimento evangélico”, disse referindo-se ao atual presidente do IBGE, Marcio Pochmann, filiado ao partido de Lula.

Simpatia da esquerda

César também vê como superficial o esforço do PT de conquistar a simpatia de evangélicos progressistas, num momento em que o partido tenta romper a associação direta entre fé cristã e bolsonarismo. “A aproximação do governo com a igreja é apenas teórica. Não houve nenhuma mudança real nas pautas. Não tem como haver aproximação da esquerda com o cristianismo verdadeiro”, declarou

Em abril, reportagem do O Globo destacou uma análise do sociólogo Paul Freston, especialista em religião, segundo a qual a população evangélica deve atingir no máximo 35% da população brasileira, sem chegar à maioria. O pesquisador relembra que, até a redemocratização, muitos evangélicos se mantinham “apolíticos”. A politização atual, com forte identificação à direita, seria uma transformação recente. Sobre essa mudança, o bispo Oídes vê como natural o engajamento crescente. “A igreja não pode se omitir. A fé tem implicações sociais, éticas e políticas. E os evangélicos passaram a perceber isso.”

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