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sábado, 6 de dezembro de 2025
Nuclear

Relatório afirma que urânio iraniano permanece intacto após bombardeios dos EUA

Relatorio contradiz versão dos EUA sobre destruição do programa nuclear

Lalice Fernandespor Lalice Fernandes em 26 de junho de 2025
Relatório afirma que urânio iraniano permanece intacto após bombardeios dos EUA
Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei. (Foto: Reprodução @khamanei_ir)

Relatórios de inteligência entregues a países europeus indicam que o estoque de urânio enriquecido do Irã resistiu aos bombardeios lançados pelos Estados Unidos contra instalações nucleares no país. Os documentos, revelados por fontes oficiais ao Financial Times, apontam que o material não estava nos alvos atingidos — as usinas de Fordow, Natanz e Isfahan — contrariando declarações do presidente norte-americano Donald Trump, que havia classificado os ataques como um golpe definitivo contra o programa nuclear iraniano.

De acordo com os relatórios, parte significativa do urânio foi deslocada para outros locais antes das ofensivas. A movimentação dificultou a destruição do material e reforçou a suspeita de que o Irã ainda mantém a capacidade técnica para retomar rapidamente o enriquecimento. O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, reconheceu danos estruturais nos complexos atacados, mas afirmou que as alegações de eliminação total do programa são exageradas. Ele defendeu a retomada das inspeções presenciais para verificar o destino de cerca de 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, nível considerado próximo ao necessário para armas nucleares.

Ainda, a justificativa usada pelos Estados Unidos e por Israel para realizar os ataques também vem sendo alvo de críticas. Em entrevista à Agência Brasil, o major-general português Agostinho Costa, especialista em geopolítica e segurança, afirmou que o estopim do conflito foi um relatório baseado em inteligência artificial. “É a primeira guerra iniciada por IA”, disse, ao se referir ao uso do software Mosaic pela AIEA. Segundo ele, a tecnologia não apresentou evidências concretas de que o Irã estivesse construindo uma bomba atômica, mas sim projeções interpretadas como fato pelo Conselho de Governadores da agência.

O Mosaic é um sistema de previsão criado pela empresa norte-americana Palantir, especializada em segurança e contraterrorismo. O programa foi adquirido pela AIEA em 2015 por € 41 milhões, com o objetivo de ampliar a vigilância sobre programas nucleares no mundo. Fundada por Peter Thiel, bilionário do Vale do Silício e apoiador declarado de Donald Trump, a Palantir tem ligações com figuras influentes da política americana, como JD Vance, atual vice-presidente dos EUA.

Na avaliação de Costa, a influência de potências ocidentais no conselho da AIEA comprometeu a imparcialidade do relatório que embasou o ataque. “Esses são os riscos do novo mundo, os riscos da IA”, afirmou. O general acrescentou que o enriquecimento de urânio a 60% por parte do Irã foi uma resposta a sabotagens anteriores promovidas por Israel, e não uma iniciativa voltada à produção de armamento nuclear. Para fins bélicos, o urânio precisa atingir 90% de pureza.

Após o cessar-fogo mediado pelos EUA, o Parlamento iraniano aprovou a suspensão da cooperação com a AIEA, acusando a agência de agir politicamente. A medida incluiu a proibição da entrada de inspetores e o envio de relatórios técnicos. Teerã alega que não descumpriu o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e sustenta que o seu programa sempre teve fins civis.

Embora o relatório da AIEA aprovado no início de junho não apresentasse provas concretas de militarização do programa iraniano, o texto alertava para o risco de avanço em direção a esse objetivo. Após isso, os bombardeios começaram e desde então, o governo de Trump tem indicado disposição para negociar com Teerã, mas também afirma que um novo acordo pode não ser necessário após os ataques.

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