Nos Estados Unidos, médicos e pacientes passaram a adotar um novo medicamento desenvolvido para tratar especificamente a depressão pós-parto. A zuranolona, primeira substância do tipo em formato oral, apresentou resultados significativos em poucos dias de uso. No Brasil, o pedido de liberação está em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A publicitária Shari Eisenberg, mãe de duas meninas, relatou à equipe do Fantástico a experiência com o novo tratamento. Após o nascimento da primeira filha, Shari desenvolveu sintomas de depressão pós-parto e recebeu o diagnóstico logo na primeira sessão de terapia. “Comecei a sentir uma tristeza absoluta. Alguém vinha falar comigo, eu começava a chorar. Minhas amigas disseram para eu procurar ajuda. Em cinco minutos de terapia, não conseguia parar de chorar”, contou.

Na época, o tratamento indicado incluiu antidepressivos e remédios para ansiedade, mas os efeitos demoraram a surgir. Os efeitos colaterais também impactaram sua rotina, dificultando o cuidado com a criança. Foram cinco anos até que Shari se sentisse pronta para ter outro filho. Durante a segunda gravidez, buscou orientação médica antecipada.

Resultados rápidos e tratamento mais curto

Foi nesse contexto que Shari conheceu a zuranolona. A médica informou sobre o novo remédio, já disponível nos Estados Unidos, e Shari adquiriu o produto para uso futuro. Cerca de um mês após o parto da segunda filha, sentiu novamente os sintomas da depressão. “Uma noite, as duas começaram a chorar ao mesmo tempo. Me senti sobrecarregada. Gritei no banheiro e percebi que tinha chegado ao meu limite”, afirmou.

Na noite seguinte, iniciou o tratamento com o novo medicamento. “Em dois dias, já me sentia diferente. Ao fim dos 14 dias de tratamento, me sentia como a ‘antiga’ eu. Estava feliz, curtindo as crianças, a maternidade”, relatou.

A psiquiatra Julia Riddle explicou que a zuranolona atua no sistema GABA, ligado à regulação do humor e do sono. A queda abrupta de hormônios após o parto reduz a atividade desse sistema. O novo medicamento ajuda a equilibrar novamente essa atividade cerebral. “Os médicos usaram dois grupos: um com histórico de depressão pós-parto e outro sem. Simularam o ambiente hormonal da gravidez e depois interromperam. Apenas o grupo com histórico apresentou sintomas”, disse.

Testes clínicos realizados na Universidade da Carolina do Norte indicaram melhora significativa em 85% das pacientes. O tratamento completo dura duas semanas, com efeitos que se mantêm por até um mês e meio após o uso.

Situação no Brasil e expectativa de liberação

Nos Estados Unidos, a zuranolona recebeu aprovação da FDA (agência reguladora) em agosto de 2023 e passou a ser comercializada em 2024. No Brasil, o processo de avaliação está em andamento na Anvisa. A previsão é que a liberação possa ocorrer até 2027. O preço ainda não foi definido pelas autoridades brasileiras, mas nos EUA o tratamento completo custa cerca de R$ 88 mil.

Segundo a entrevista exibida no programa Fantástico, a nova opção tem despertado esperança em mulheres que enfrentam o transtorno. “Consegui amar minha bebê como ela merecia. Hoje, me sinto como se realmente pudesse caminhar na praia e aproveitar esses momentos”, concluiu Shari.

O quadro é distinto do chamado “baby blues”, caracterizado por tristeza leve nas primeiras semanas pós-parto. Os sintomas da depressão pós-parto incluem desânimo constante, dificuldade de conexão com o bebê, pensamentos intrusivos e crises de ansiedade. Casos mais graves envolvem pensamentos suicidas ou de agressão ao próprio filho.

Com a possibilidade de um tratamento mais rápido e eficaz, pacientes e profissionais acompanham com atenção os próximos passos da liberação da zuranolona no país.

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