A destruição do Cerrado tem ganhado manchetes, mas raramente é vista sob a ótica de quem dedica a vida a observar o céu. É essa perspectiva que guia a série documental Asas do Cerrado, que estreia no sábado (5), em Goiânia. Com cinco episódios de 26 minutos, a produção transforma a observação de aves em fio narrativo para contar histórias de resistência, ciência e vínculo com a natureza em um bioma que perde cerca de um milhão de hectares por ano, segundo dados do MapBiomas (2023).

A série será lançada no Adufg-Sindicato, no Setor Leste Vila Nova, e marca um esforço de retratar a relação entre humanos e aves como parte do enfrentamento à degradação ambiental. No centro da narrativa está o Cerrado goiano, território de encontro entre a beleza e o colapso. O episódio de abertura, “Origens da Observação”, acompanha o ornitólogo Jayrson Araújo de Oliveira, professor universitário e pesquisador, em sua busca por catalogar espécies e registrar comportamentos de aves nativas e migratórias. A jornada revela as rotas dos pássaros e os caminhos emocionais que ligam os observadores à paisagem em risco.

Nos episódios seguintes, a série alterna registros de campo com entrevistas imersivas, compondo uma cartografia afetiva do Cerrado. “Busca pela Espécie Rara” apresenta uma expedição em busca de aves em extinção, enquanto “Cerrado Desolado” expõe o impacto da expansão agropecuária sobre habitats inteiros. Em “Belezas Nativas”, o foco retorna à biodiversidade, destacando plumagens, cantos e comportamentos. Já o episódio final, “Turismo Ecológico”, aponta caminhos possíveis para aliar conservação e desenvolvimento econômico, sem repisar fórmulas prontas.

O idealizador da série, Vitor Karrijo, destaca que o Cerrado segue subvalorizado frente à Amazônia no debate ambiental, apesar de abrigar 5% da biodiversidade mundial, de acordo com a Conservação Internacional (2022). Para ele, observar aves é mais do que um hobby: é um gesto político. Ao tornar visíveis espécies ameaçadas e modos de vida invisibilizados, a obra propõe um deslocamento do olhar: do macro para o detalhe, do número para o canto.

A estética adotada contribui para essa imersão. Filmado em linguagem sensorial, com som direto e imagens que evitam narração em off, o documentário aposta na presença. O espectador acompanha a rotina dos observadores, acorda de madrugada com eles, encara o mato fechado, espera o voo, a cor, o silêncio que antecede o canto. A série foi pensada para ser vivida, não apenas assistida.

Além da exibição do episódio inicial, o evento de lançamento contará com a exposição fotográfica “Uma Janela para o Céu do Cerrado”, composta por imagens captadas pelos membros do Goiaves – Grupo de Observadores de Aves de Goiás. A mostra amplia a proposta da série, revelando fragmentos do céu goiano registrados por lentes pacientes. Entre os fotógrafos está o próprio Jayrson, personagem da narrativa e parte ativa do movimento de preservação.

Ao reunir ciência, arte e afeto, Asas do Cerrado oferece respostas fáceis, mas tensiona o espectador. Diante do desaparecimento de espécies e paisagens, resta a pergunta: ainda é possível preservar aquilo que mal conseguimos ver? Em tempos de urgência climática, talvez observar seja o primeiro passo para agir.

SERVIÇO 

Quando: sábado (5)

Onde: Adufg-Sindicato, Setor Leste Vila Nova, Goiânia

Horário: 19h

Entrada gratuita