Roupas de brechó pedem lupa antes da sacola
Especialista alerta para os principais erros cometidos por consumidores ao comprar peças usadas: zíperes falhando, manchas disfarçadas e tecidos deformados
O crescimento dos brechós como alternativa de consumo consciente trouxe uma nova exigência para os consumidores: o olhar técnico. Se antes bastava procurar por preços baixos, hoje é preciso atenção redobrada para evitar peças com defeitos ocultos, tecidos comprometidos ou estruturas deformadas. De acordo com levantamento da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), o setor de roupas de segunda mão movimenta mais de R$ 10 bilhões por ano no Brasil, mas ainda carece de critérios padronizados de qualidade e avaliação. A falta dessa régua comum pode transformar um achado em prejuízo ou em descarte.
A stylist Marcia Jorge, com mais de 20 anos de experiência, afirma que garimpar exige atenção. “O brechó pode ser um paraíso de achados incríveis, mas também esconde armadilhas. Saber avaliar a peça com atenção é essencial para garantir que o barato não saia caro”, diz.
O alerta vale para detalhes como botões, zíperes e costuras. Um botão faltando pode parecer simples, mas encontrar um idêntico nem sempre é possível. Zíper emperrado ou torto costuma exigir troca especializada. “Tecido com aparência áspera, brilho estranho ou sem elasticidade indica desgaste”, explica. Em peças de malha, ela recomenda o “teste do estica”: se o tecido não volta ao formato original, a peça tende a deformar.
Manchas em axilas, golas e punhos são difíceis de remover. Verificar a peça sob luz natural ajuda a identificar marcas que passam despercebidas no ambiente interno da loja. Já acessórios metálicos merecem inspeção. “Itens enferrujados ou com aspecto esverdeado podem manchar a roupa e até a pele”, alerta. Elásticos ressecados também denunciam o fim da vida útil da peça.
Nem todo defeito, porém, inviabiliza a compra. “Um botão solto, uma barra descosturada ou uma pequena mancha em local discreto podem ser facilmente resolvidos. O importante é entender se o custo-benefício realmente compensa”, afirma.
Em compras online, o cuidado deve ser maior. Pedir fotos detalhadas da peça é importante. “Se o vendedor se recusar a mostrar, desconfie. Transparência é essencial”. Preços muito baixos podem indicar problemas ocultos ou procedência duvidosa.
Ao receber a peça, é importante prová-la, testar a mobilidade e lavar antes do uso. “Mesmo que a roupa pareça limpa, é fundamental higienizar antes de misturar com outras peças do guarda-roupa”, reforça Marcia.
A moda de segunda mão continua sendo uma alternativa inteligente, desde que acompanhada de critério. “Garimpar em brechó é um investimento inteligente. Uma peça de qualidade pode durar muitos anos. Mas é preciso critério para não transformar a economia em dor de cabeça”, conclui.