A busca por leveza em um cotidiano que não para
Psicóloga propõe a contemplação e o respeito aos limites para enfrentar o esgotamento emocional
Em um mundo marcado pela velocidade e pelo excesso de demandas, encontrar leveza no dia a dia se tornou um desafio. Na última quarta-feira (2), a psicóloga e empresária Ludimila Paim trouxe uma reflexão necessária sobre saúde mental e autoconhecimento durante participação no podcast MandaVê, apresentado por Juan Allaesse. Com uma abordagem sincera e pessoal, ela compartilhou experiências que ilustram como a contemplação e o respeito aos próprios limites podem ser ferramentas poderosas contra o esgotamento emocional.
Nascida em Brasília, a psicóloga mudou-se ainda bebê para Goiânia, onde cresceu em uma família que ela descreve como “comum, brasileira”. Filha de psicóloga, tentou por muito tempo evitar a profissão da mãe. Passou pela pedagogia, trabalhou com educação infantil e também no setor administrativo de um restaurante. Só mais tarde decidiu se permitir viver a psicologia. “Foi uma coisa que eu sempre quis e neguei. Acho que, por ter uma psicóloga dentro de casa, eu negava. Mas depois eu entendi”, disse.
Essa trajetória não-linear, com pausas, desvios e recomeços, parece se refletir diretamente em sua maneira de encarar a vida e a prática profissional. Para ela, autoconhecimento não é um destino, mas um processo contínuo. “Eu falo que o autoconhecimento é cíclico. A gente vai se regulando. É subir, descer, subir de novo. Não é linear. Só é linear quando a gente morre”, afirmou.
Empresária da área de saúde mental e criadora de conteúdo, Ludimila resistiu por muito tempo a entrar nas redes sociais. “Eu achava que a internet era uma mentira. Que tudo era uma farsa”. Foi apenas após participar de um evento em São Paulo voltado ao marketing digital que percebeu o potencial das plataformas como ferramenta de verdade e acolhimento. Hoje, grava vídeos em formatos que respeitam seu tempo e sua essência. “Eu gravo tentando levar um pouco da minha verdade. Existe um processo, mas eu busco me encontrar dentro dele”.
Durante o episódio, ela destacou como pequenas atitudes cotidianas podem ser ferramentas de regulação emocional. “Você se lembra de como você gosta de tomar banho? Qual a cor verde da copa da árvore te chama mais atenção? Às vezes é isso que falta: olhar para o céu, respirar melhor”, explicou. A contemplação, segundo ela, não é perda de tempo, mas uma forma legítima de resgate interno. “Meditação é contemplar o belo. Quando eu passeio com meus cachorros, normalmente é a hora em que eu vou me autorregular”.
A psicóloga também falou sobre a pressão constante por produtividade, acelerada pelas redes sociais e pelas exigências do mundo corporativo. “Hoje tudo precisa ser rápido. O ritmo externo é acelerado. Se a gente não aprende a se olhar, a gente se perde”, alertou. Para ela, o esgotamento emocional não é um erro individual, mas resultado de um sistema que desconecta o sujeito de si mesmo e das suas necessidades mais básicas.
Em um dos momentos mais marcantes da entrevista, ela relembrou o incêndio que destruiu o restaurante de sua família. Foi a partir desse evento traumático que compreendeu, de forma definitiva, os limites do controle. “O fogo foi um divisor de águas. Eu entendi que eu estou aqui enquanto instrumento de Deus, mas eu não sou Deus. Eu não tenho controle de nada. Só posso ajudar a atravessar a ponte”, disse.
A virada emocional, no entanto, veio junto de uma física. Depois de reconstruir o restaurante, ela iniciou um processo de emagrecimento. “Se eu dei conta de construir isso aqui, eu dou conta de fazer qualquer outra coisa na minha vida”, disse, ao lembrar da força que encontrou ao ver o bar de pé novamente. Desde então, o autoconhecimento passou a ser não só método, mas prática cotidiana.
A metáfora da baleia, tatuada em seu braço, sintetiza a filosofia que orienta sua caminhada: emergir para respirar. “A baleia sobe para respirar e continua a jornada dela. Todo ser humano precisa aprender isso”. Para ela, a chave está em respeitar o próprio tempo e reconhecer os limites. “A gente precisa entender que a autorregulação é interna”. Ao relatar seus acordos com a fé, revela o quanto a regulação emocional também passa por um sentimento de pertencimento e confiança. “Tem coisas na sua cabeça que só você sabe. Mas é ali, nesse lugar, que você precisa se ouvir”.
No encerramento da conversa, Ludimila enfatizou a importância de respeitar os próprios limites, inclusive diante da necessidade de dizer não. “Quando a gente diz sim querendo dizer não, a gente se esgota. Vai tentando agradar todo mundo, mas no fim do dia está esgotado e ainda se sentindo culpado”, afirmou. Para ela, amar o próximo só faz sentido quando se aprende, primeiro, a amar a si mesma. “Se eu não me dou o direito, vou querer controlar o outro. E aí tudo fica mais pesado”.