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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
MandaVê

Bruno Morais expõe bastidores da música em Goiás

Em conversa com Juan Allaesse, cantor relata erros, recomeços e a dificuldade de se manter no mercado musical sem entrar nas “panelas”

Luana Avelarpor Luana Avelar em 10 de julho de 2025
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No último episódio do podcast MandaVê, que foi ao ar na última quarta-feira (9), o cantor Bruno Morais se apresenta com menos pose de artista e mais disposição para dizer o que muitos músicos não dizem. Em quase duas horas de conversa com o apresentador Juan Allaesse, ele refaz os caminhos de sua carreira e expõe, com lucidez e sem rodeios, os bastidores do mercado musical goianiense: as duplas que não duraram, a pressão por visibilidade, os bastidores de casas noturnas e os conflitos internos que minaram sua trajetória até aqui. Aos 33 anos, o cantor admite que só se tornou solo depois de perder quase tudo.

Filho de um artista que também atuava na área audiovisual, Bruno cresceu em meio a fios, câmeras e microfones. Foi no improviso dos barzinhos que aprendeu a cantar. Antes disso, tentou duplas com amigos e com o próprio pai. O sertanejo veio primeiro, depois o pagode. Passou por nomes como Flávio & Henrique, Sabrina & Gabriel e, mais marcadamente, Bruno & Felipe. “Sempre fui segunda voz, porque tinha vergonha de aparecer. Só fui assumir a primeira quando precisei”, contou.

A parceria com Felipe durou oito anos. Foi também o período em que Bruno reconhece ter vivido o auge e o início da queda. “Era arrogante, descontrolado, achava que sabia tudo”. Quando o rompimento aconteceu, o cantor admite que a culpa foi dele. Felipe hoje trabalha como produtor do sertanejo Murilo Huff. “Queria estar com ele até hoje, mas eu perdi. Precisei perder para crescer”. O tom confessional atravessa toda a entrevista. Bruno não tenta parecer vitorioso. Ele fala de derrotas, erros e aprendizado com quem se viu obrigado a amadurecer na marra.

Entre as fases da carreira, a passagem pela Turma do 62, grupo de pagode com quem percorreu o interior do Pará, ocupa um capítulo especial. “Dormíamos em barcos, fazíamos shows sem estrutura nenhuma. Mas aprendi como nunca.” A rotina exaustiva e as histórias de bastidor — como a vez em que tocou pandeiro por três horas seguidas até o braço inchar — contrastam com a superficialidade do que se vê nas redes sociais. Segundo Bruno, o artista goiano que não pertence a um círculo fechado precisa insistir mais, gastar mais e receber menos.

Já com carreira solo consolidada, ele aposta agora em um trabalho autoral, com equipe própria e foco em qualidade musical. Mesmo assim, as portas continuam difíceis de abrir. “Tem casa que nunca me chamou, mesmo eu tendo pago para cantar só para mostrar meu trabalho”. Ele diz que a cidade tem artistas talentosos demais para viverem à margem de uma elite musical. “Custa nada variar. O público gosta de novidade”.

A crítica mais dura do episódio é dirigida ao funcionamento dos bastidores da música em Goiânia. Bruno fala abertamente de práticas como atrasos nos pagamentos, falta de espaço para artistas independentes e as chamadas “panelas” que controlam a agenda de bares e casas de show. “Tem cantor que canta hoje e só recebe daqui um mês. Eu não posso trabalhar assim. Vivo disso. Minhas contas não esperam”.

Apesar das críticas, Bruno não se coloca como vítima. Ao contrário: assume os erros do passado, os rompimentos causados por sua própria postura e a imaturidade que o impediu de aproveitar melhor oportunidades. “Sempre tive alguém para me ajudar. Quando fiquei só, percebi o quanto era dependente”. Hoje, diz que é outro artista — mais paciente, mais verdadeiro e mais preocupado com o que realmente importa. “Prefiro dormir tranquilo a fingir que está tudo bem”.

Durante a conversa, o artista também relembra participações na televisão, como no Programa do Ratinho, e conta que sonhava em ser ator. Fã de Chiquititas, pensou em seguir carreira na atuação, mas a música falou mais alto. “Sempre gostei de atuar, mas a música me puxou mais forte”. A fala mistura humor e frustração, mas aponta para um artista que não perdeu o desejo de se reinventar.

O episódio termina com uma reflexão sobre o futuro do mercado musical. Bruno não acredita em grandes transformações, mas defende pequenos deslocamentos possíveis. “Tem gente muito boa esperando oportunidade. A cena só muda quando quem está no topo começa a olhar para os lados. Não estou falando só de mim. Tem muita gente boa em Goiânia. Mas ninguém vê”.

A entrevista completa está disponível no YouTube, no canal oficial do podcast MandaVê.

 

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