Censo 2022 revela 2,6 milhões de brasileiros com autismo
Dados sobre o TEA indicam desigualdades regionais, avanço na escolarização e desafio de garantir políticas públicas inclusivas
Pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluiu no Censo Demográfico dados específicos sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A nova métrica revelou que o Brasil possui oficialmente 2,6 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo, uma marca que reforça a urgência de políticas públicas direcionadas à inclusão e ao atendimento dessa população.
A distribuição geográfica mostra concentração significativa no Sudeste, com pouco mais de 1 milhão de registros. Em seguida, aparecem o Nordeste (633 mil), o Sul (348 mil), o Norte (202 mil) e o Centro-Oeste, com o menor número absoluto, 180 mil. A ausência histórica de dados sobre autismo no Censo impossibilita comparações precisas com levantamentos anteriores, mas a sistematização atual permite traçar perfis sociodemográficos e apontar desigualdades de acesso e cobertura.
Entre as faixas etárias, a maior prevalência do diagnóstico está entre crianças de 5 a 9 anos. Nessa faixa, 2,6% da população declarou ter TEA, indicando um número expressivo de diagnósticos em idade escolar. A taxa de escolarização também surpreende: entre as pessoas com autismo, 36,9% estão matriculadas em instituições de ensino, número que supera os 24,3% da população geral. O índice é ainda maior entre os homens com TEA, alcançando 44,2%, frente aos 24,7% dos homens em geral. Já entre as mulheres com autismo, a taxa de escolarização é de 26,9%, pouco acima dos 24% registrados na população feminina total.
A análise por raça ou cor revela nuances importantes. Entre pessoas brancas, a prevalência foi de 1,3%, o equivalente a 1,1 milhão de pessoas. Pretos e pardos aparecem empatados com 1,1% cada, o que representa, respectivamente, 221 mil e 1,1 milhão de brasileiros diagnosticados. A menor taxa foi observada entre indígenas (0,9%) e pessoas de raça amarela (1,2%).
Embora os dados revelem uma ampliação da identificação do transtorno, a leitura não permite afirmar se houve aumento real no número de casos. A inclusão do autismo no Censo 2022 representa, sobretudo, um marco para o planejamento público. Ao disponibilizar dados desagregados por idade, sexo, cor e localização geográfica, o IBGE oferece aos governos a possibilidade de mapear demandas com maior precisão e desenvolver ações integradas.
O levantamento reforça a necessidade de políticas intersetoriais que articulem saúde, educação e assistência social. A escolarização elevada entre crianças autistas pode ser um reflexo de maior reconhecimento dos sinais precoces e da expansão de serviços de diagnóstico. Ainda assim, os números indicam um país que começa a enxergar com mais clareza uma parcela da população historicamente invisibilizada.