Estudo genômico identifica variantes que explicam Covid-19 grave em jovens brasileiros
Pesquisadores brasileiros identificam 104 variantes raras em genes ligados à inflamação em pacientes internados na UTI
Um artigo recém-publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, apresenta os resultados do primeiro estudo genômico latino-americano focado em pacientes jovens, sem comorbidades, que evoluíram para formas graves de Covid-19. Os pesquisadores identificaram 104 variantes genéticas raras e potencialmente deletérias em 79 genes, que podem estar associadas à piora clínica desses pacientes.
Para chegar a esses resultados, os cientistas fizeram o sequenciamento completo do genoma de 161 voluntários com idades entre 18 e 60 anos. A idade média foi de 44 anos, e a maioria era do sexo masculino (69,6%). A amostra incluiu apenas indivíduos com infecção confirmada por Covid-19, que necessitaram de internação em UTI, sem histórico de doenças crônicas e que não haviam sido vacinados.
“A principal contribuição desse projeto é o conhecimento genético acerca de cada indivíduo, específico da população brasileira. Uma população sobre a qual o conhecimento disponível é muito escasso”, explica o pesquisador da Fiocruz Pernambuco e coordenador do projeto, Luydson Vasconcelos.
Ele destaca que a pandemia de Covid-19 foi bastante impactante e que estudos como este podem ajudar na preparação para novas emergências em saúde pública. “Especificamente em doenças respiratórias, que tenham a inflamação como sintoma significativo no agravamento do quadro do paciente, conhecer possíveis genes que estão associados a essa inflamação exacerbada é importante para que possamos ter ferramentas no futuro tanto para combater a doença em si, como para se precaver antes da infecção. Por meio do desenvolvimento de novos fármacos e terapias, que se utilizem do conhecimento prévio dessas variantes”, complementa.
O banco de genomas da pesquisa encontra-se disponível para novas investigações voltadas para o perfil genético da população brasileira. Financiado pelo Programa Inova Fiocruz, o estudo contou com a participação de instituições de sete estados (Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pará).
A colaboração envolveu quatro unidades da Fiocruz: Fiocruz Pernambuco, Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) e Fiocruz Bahia, além do Hospital Nossa Senhora da Conceição (RS) e das universidades federais Fluminense (UFF), de Mato Grosso (UFMT), do Pará (UFPA), de Minas Gerais (UFMG) e do Vale do São Francisco (Univasf).