O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
mundo digital

Redes sociais impactam saúde mental de idosos e ampliam riscos de desinformação

Cresce o número de pessoas com mais de 60 anos afetadas pelo uso excessivo do celular; especialistas alertam para prejuízos cognitivos, alterações no humor, distúrbios do sono e maior vulnerabilidade a golpes digitais

Luana Avelarpor Luana Avelar em 11 de julho de 2025
istockphoto 1192312019 612x612 1

O uso das redes sociais já é reconhecido como um comportamento potencialmente viciante. Curtidas, comentários e notificações ativam os circuitos de recompensa do cérebro, os mesmos acionados por substâncias como álcool e nicotina. O que passa despercebido, porém, é que esse vício não se restringe aos jovens. Um número crescente de pessoas idosas desenvolve uma relação disfuncional com o ambiente digital, com impactos significativos na saúde física e emocional.

Fatores como solidão, aposentadoria, isolamento social e falta de atividades estimulantes tornam os idosos especialmente suscetíveis ao uso prolongado do celular. O aparelho, muitas vezes, preenche lacunas de convivência e se torna uma ferramenta para manter vínculos. Entretanto, o envelhecimento cerebral, especialmente no córtex pré-frontal — responsável pelo controle dos impulsos — dificulta a percepção de excesso. Quando há indícios de comprometimento cognitivo leve, o risco se agrava.

Entre os quadros mais severos, está a nomofobia, o medo irracional de ficar longe do celular. A condição provoca ansiedade intensa, tremores, sudorese e irritabilidade. Além disso, o uso contínuo das redes prejudica a memória de curto prazo, compromete a atenção e desregula o ciclo do sono, inibindo a produção de melatonina. O resultado é uma rotina marcada por cansaço constante, alterações de humor e perda de disposição para atividades presenciais.

Outro ponto crítico é a desinformação. Pesquisa publicada na revista Science Advances revelou que usuários do Facebook com mais de 65 anos compartilham quase sete vezes mais notícias falsas do que jovens. A falta de familiaridade com o ambiente digital e a confiança em fontes informais, como grupos de WhatsApp e mensagens privadas, expõem essa população a golpes, fraudes e conteúdos manipulativos.

A inclusão digital do idoso exige mais do que acesso à internet. É preciso investir em capacitação, alfabetização midiática e uso da tecnologia. Saber navegar, identificar fontes confiáveis, proteger dados e interpretar criticamente as informações consumidas são habilidades fundamentais. Especialistas recomendam que ações educativas envolvam também cuidadores e profissionais de saúde, especialmente em instituições de longa permanência e comunidades em situação de vulnerabilidade.

No âmbito familiar, o diálogo sem julgamentos e o incentivo a atividades presenciais ajudam a equilibrar o tempo de tela. Aplicativos de monitoramento e a prática de desligar notificações são estratégias simples que favorecem a autorregulação. Em casos mais graves, a terapia cognitivo-comportamental tem se mostrado eficaz para modificar padrões disfuncionais de uso da tecnologia.

Apesar dos riscos, o uso consciente do ambiente digital pode ser benéfico. Estudo publicado na revista Nature Human Behavior, com mais de 400 mil pessoas com mais de 50 anos, apontou que o uso moderado da tecnologia reduz em até 58% o risco de declínio cognitivo. Atividades como videochamadas com familiares, leitura de notícias, jogos de memória e cursos online estimulam a chamada reserva cognitiva, ajudando o cérebro a manter sua capacidade de adaptação.

A tecnologia não precisa ser um vilão na velhice. Quando usada de forma intencional, com orientação e limites claros, ela pode ampliar horizontes, fortalecer vínculos e contribuir para o envelhecimento saudável. O desafio está em substituir o uso automático por uma relação crítica e equilibrada com o mundo digital.

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Tags:
Veja também