Plantas como aliadas do bem-estar psíquico
Cultivo doméstico de ervas, flores e hortaliças fortalece saúde mental, combate a ansiedade e aproxima o ser humano da natureza
Na paisagem cada vez mais cinza das cidades, cultivar uma horta ou algumas flores em casa tem se mostrado um gesto simples com efeitos importantes. Estudos têm apontado que a jardinagem doméstica pode funcionar como terapia natural para ansiedade, depressão e estresse. Além dos benefícios físicos de uma alimentação mais saudável, cuidar de plantas em casa tem sido associado à melhora na autoestima, na cognição e até nas relações sociais.
O contato com a terra, as folhas, a umidade e os ciclos de crescimento das plantas ajuda a restaurar o que especialistas chamam de “atenção suave”, um estado de presença e concentração que, ao contrário das telas e dispositivos eletrônicos, não sobrecarrega o cérebro. A jardinagem, nesse contexto, atua como um antídoto para a pressa, o ruído e o excesso de estímulo digital. Um estudo publicado na revista científica Environmental Science & Technology demonstrou que apenas 30 minutos de jardinagem são suficientes para reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, no corpo humano.
Ao mesmo tempo, atividades como cavar a terra, plantar e regar contribuem para a liberação de endorfinas, neurotransmissores ligados ao prazer. A prática também favorece a criação de uma rotina com propósito. A cada novo broto ou flor, quem cultiva experimenta uma sensação de conquista, algo que, segundo a psicologia comportamental, está diretamente ligado ao fortalecimento da autoestima e da resiliência emocional.
Entre os públicos que mais têm se beneficiado da prática estão os idosos. Estudos internacionais, como os publicados pelo National Institute on Aging, nos Estados Unidos, apontam que a jardinagem ajuda a manter ativa a função cognitiva em pessoas com mais de 60 anos. Planejar o que plantar, reconhecer as fases de cada espécie e lembrar os cuidados diários exigem atenção, memória e organização. Há, inclusive, centros de cuidados em países europeus que adotaram a jardinagem como parte da reabilitação de pacientes com demência em estágios iniciais.
Outro benefício da prática é a promoção da socialização. Mesmo que inicialmente solitária, a atividade estimula o convívio. Pessoas que cultivam plantas em casa frequentemente compartilham dicas, mudas ou alimentos com vizinhos e familiares. Em ambientes urbanos, grupos de hortas comunitárias vêm se expandindo, especialmente em centros como São Paulo e Belo Horizonte, criando redes de apoio e pertencimento.
As ervas medicinais ocupam um lugar especial nesse processo. Camomila, lavanda, alecrim e hortelã são plantas de fácil cultivo e amplamente utilizadas em práticas complementares de saúde. Segundo estudos de fitoterapia e aromaterapia publicados em revistas como Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, essas ervas podem auxiliar no alívio de sintomas leves de ansiedade, insônia e tensão muscular, especialmente quando utilizadas em forma de chá ou óleo essencial. Embora seus efeitos não substituam tratamento médico, podem complementar o cuidado com a saúde mental. A lavanda, por exemplo, é frequentemente recomendada por terapeutas ocupacionais para compor ambientes de relaxamento, com base em seu aroma calmante.
Além dos efeitos diretos no humor e na saúde emocional, cultivar ervas, flores ou hortaliças também pode contribuir para tornar o ambiente mais agradável. Um estudo da NASA publicado em 1989, conhecido como Clean Air Study, indicou que algumas plantas são capazes de filtrar substâncias como benzeno e formaldeído em ambientes altamente controlados. No entanto, pesquisas mais recentes, como a do Journal of Exposure Science & Environmental Epidemiology (2019), alertam que o impacto real em ambientes domésticos é limitado. Seriam necessárias dezenas de plantas por metro quadrado para gerar uma melhoria na qualidade do ar. Ainda assim, a presença de vegetação contribui para a percepção de frescor e conforto ambiental, influenciando positivamente o bem-estar.
Em tempos de burnout coletivo, onde o cuidado com a saúde mental tornou-se uma necessidade pública, plantar é também um ato político e restaurador. Uma flor que desabrocha em uma sacada, um tempero fresco colhido no vaso da cozinha ou um pé de alface que cresce ao lado da janela passam a ser mais que produtos da terra, tornam-se sinais de uma reconciliação possível entre o ser humano e o tempo que ele perdeu.
Como fazer uma horta em casa
Montar uma horta doméstica é mais simples do que parece. Com poucos materiais e alguma dedicação diária, é possível cultivar temperos, ervas e até hortaliças frescas mesmo em pequenos espaços. Veja o passo a passo:
- Escolha o local
Dê preferência a áreas que recebam pelo menos 4 horas de sol por dia, como varandas, janelas, sacadas ou mesmo um canto da cozinha com boa iluminação.
- Escolha o que plantar
Ervas como manjericão, hortelã, alecrim, sálvia e lavanda são ideais para iniciantes. São resistentes, exigem poucos cuidados e podem ser usadas em chás ou na culinária.
- Prepare os recipientes
Use vasos com furos no fundo para facilitar a drenagem. Reaproveitar garrafas PET, potes de vidro ou caixas de madeira também é uma alternativa sustentável.
- Use substrato de qualidade
Misture terra adubada com areia e composto orgânico. O solo deve ser leve e fértil. Evite o uso de terra de jardim sem preparo.
- Regue com moderação
A rega deve ser feita quando o solo estiver seco ao toque. Evite encharcar. A maioria das plantas morre por excesso, não por falta de água.
- Cuide da manutenção
Retire folhas secas, observe pragas e faça pequenas podas. Isso ajuda no crescimento saudável da planta.
- Colha com cuidado
Na hora de colher, use tesouras limpas e evite arrancar a planta inteira. Colher aos poucos estimula a brotação.