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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Redes sociais distorcem a imagem do TDAH

Artigo alerta para o crescimento de autodiagnósticos motivados por vídeos virais e simplificações perigosas

Luana Avelarpor Luana Avelar em 14 de julho de 2025
14 MATERIA CREDITOS iStock 2

O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) deixou de ser tema restrito aos consultórios médicos. Impulsionado pela viralização de vídeos e conteúdos nas redes sociais, o transtorno se tornou uma espécie de rótulo identitário, associado a sintomas genéricos como desatenção, esquecimento e agitação. Essa exposição constante tem gerado um crescimento desordenado de autodiagnósticos e tratamentos sem acompanhamento profissional.

Em artigo publicado por Kátia Assad, psicóloga clínica e CEO da consultoria de saúde mental Psico.delas, o fenômeno é classificado como uma banalização perigosa de uma condição séria. “A sigla virou modinha”, escreve a autora, que há mais de 30 anos atua com atendimento clínico e educação em saúde. Para ela, a popularização do transtorno nas redes mistura visibilidade com desinformação, promovendo um consumo rápido e emocional de conteúdos que, muitas vezes, carecem de embasamento científico.

O crescimento das buscas pelo termo no Google, que subiram 576% nos últimos cinco anos, reflete o interesse popular crescente. A consequência é perceptível no setor público: de acordo com dados do Ministério da Saúde, o SUS registrou quase 1 milhão de atendimentos ambulatoriais relacionados ao TDAH em 2023. Até outubro de 2024, o número já havia ultrapassado 770 mil. No entanto, nem sempre essa procura resulta de avaliação clínica rigorosa. Muitos chegam aos serviços com autodiagnósticos baseados em vídeos de trinta segundos.

Segundo o artigo, o problema central não é o acesso à informação, mas a forma como ela é apresentada. Estima-se que metade dos conteúdos sobre TDAH nas redes sociais contenha informações equivocadas ou superficiais. O excesso de listas de sintomas e de relatos emocionados leva pessoas a ignorar o contexto social, emocional e familiar de seus comportamentos. A partir daí, decisões importantes, como o uso de medicamentos ou a interrupção de outras terapias, passam a ser tomadas sem base profissional.

Kátia Assad alerta para o impacto desse processo na saúde mental coletiva. “Ao tentar enquadrar tudo em um só diagnóstico, corremos o risco de perder a complexidade da saúde mental”. Sintomas como ansiedade, depressão, estresse crônico e dificuldades de aprendizagem podem ser negligenciados em nome de um diagnóstico mais “popular” ou socialmente aceito. A autora reforça que diagnóstico é um processo, e não um palpite.

O artigo conclui com um apelo à curadoria da informação, à alfabetização em saúde mental e à valorização da escuta clínica. Ao transformar o TDAH em uma tendência digital, abre-se espaço para rótulos apressados, medicalização excessiva e estigmas duradouros. Segundo Assad, “mais do que entender o que é o TDAH, é preciso reaprender a perguntar o que não é” — e essa resposta, ela lembra, não cabe em um vídeo curto com trilha sonora de fundo.

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