Pornografia compromete saúde sexual e emocional de jovens
Exposição infantil a conteúdos pornográficos afeta o desenvolvimento psíquico, antecipa riscos e molda percepções distorcidas sobre sexo, afeto e poder
A pornografia tornou-se onipresente. Sem barreiras eficazes, crianças e adolescentes acessam conteúdos explícitos com poucos cliques, muitas vezes antes mesmo de saberem nomear o que estão vendo. O resultado não é apenas precoce, é perigoso. Estudos têm revelado que esse contato antecipado interfere no amadurecimento da sexualidade, no equilíbrio emocional e na construção das relações afetivas.
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2021, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 21% dos meninos e 11% das meninas entre 11 e 17 anos relataram ter visto imagens ou vídeos de conteúdo sexual na internet nos 12 meses anteriores à pesquisa, indicando que a exposição a esse tipo de conteúdo começa ainda na adolescência e, em muitos casos, sem supervisão adulta. Esse dado, por si só, revela o tamanho do abismo entre o que se deseja proteger e o que realmente ocorre. O problema não está apenas na imagem, mas na ausência de mediação: sem adultos que expliquem o que é desejo, consentimento e respeito, a criança interpreta o que vê a partir do que sente, medo, confusão, excitação, culpa.
Há evidências de que o consumo precoce está relacionado a um início sexual mais cedo, queda na autoestima e aumento de comportamentos de risco. O que se aprende com a pornografia não é o sexo, mas uma performance. Nela, o prazer está dissociado do afeto, a violência é erotizada e os papéis de gênero são empurrados ao limite. O impacto não é apenas simbólico: o cérebro em desenvolvimento responde a estímulos intensos com alterações duradouras nos circuitos de recompensa e controle, o que pode comprometer vínculos futuros.
De acordo com uma revisão publicada na revista Addictive Behaviors em 2025, o uso problemático de pornografia entre adolescentes está associado a sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades emocionais, indicando que o consumo excessivo pode afetar negativamente a saúde mental nessa faixa etária. A normalização da violência sexual, a desvalorização da intimidade e a expectativa irreal sobre corpos e performances passam a compor o imaginário erótico desses jovens.
Diante disso, especialistas e organismos internacionais, como a UNESCO, defendem a implementação urgente de uma educação sexual integral, que aborda não apenas prevenção de doenças, mas também questões como respeito, autonomia, prazer, diversidade e uso crítico da internet. É nesse vácuo que a pornografia se instala: como primeira referência sobre o que é sexo, mas sem nenhum compromisso com o que é humano.
Pais, escolas e políticas públicas precisam abandonar a negação e assumir uma pedagogia ativa da sexualidade. Não se trata de censura, mas de cuidado. A sexualidade não nasce pronta, ela se constrói. E o que a criança vê antes de saber quem é, molda não só sua vida íntima, mas também sua capacidade de estabelecer vínculos baseados em respeito e afeto.