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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
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O impacto da vida online nas relações de amizade

No mês da amizade, especialistas refletem sobre os vínculos em tempos digitais e reforçam o papel das conexões afetivas para a saúde mental e física

Luana Avelarpor Luana Avelar em 28 de julho de 2025
16 MATERIA CREDITOS FreePik

Neste mês de julho, quando se comemora o Dia da Amizade, um tema reaparece entre as inquietações contemporâneas: o que permanece de genuíno nos vínculos humanos num tempo em que relações são mediadas por redes sociais, curtidas e mensagens instantâneas? Com o predomínio das interações digitais, as fronteiras da amizade se expandiram. Mas, com elas, também cresceram os desafios de cultivar laços verdadeiros diante de conexões cada vez mais voláteis.

O avanço das tecnologias transformou a lógica das relações. A proximidade geográfica deixou de ser pré-requisito para manter o contato. Hoje, grupos de mensagens, videochamadas e interações constantes em aplicativos formam uma nova paisagem de afetos. Ao mesmo tempo, a sobrecarga de estímulos e a superficialidade de muitos contatos digitais levantam dúvidas sobre a qualidade desses vínculos.

A psicóloga Camila da Silva Conceição, alerta que, mesmo em meio às mudanças de comportamento, os fundamentos da amizade permanecem intactos. “Podemos definir a amizade como uma relação interpessoal onde há um vínculo afetivo, baseado em afinidade mútua, reciprocidade emocional e suporte social”. Segundo ela, é essa estrutura construída por empatia, respeito e acolhimento que garante a profundidade do vínculo, independentemente do meio utilizado para mantê-lo.

Uma das pesquisas mais longevas da história da ciência, conduzida desde 1938 pela Universidade de Harvard, comprova o que muitos já intuíam: amizades sólidas são um dos principais preditores de uma vida longa e feliz. O estudo revela que, mais do que sucesso financeiro ou prestígio social, são os relacionamentos duradouros e de confiança que contribuem para o bem-estar ao longo do tempo. O professor Robert Waldinger, psiquiatra e atual diretor da pesquisa, destaca que amizades onde há crescimento mútuo e apoio emocional constante estão entre os fatores centrais para uma vida plena.

Camila reforça esse olhar. “A confiança em um amigo é essencial, pois sustenta a estabilidade da relação, promovendo assim uma conexão mais profunda e duradoura”. Ela explica que esse sentimento de segurança possibilita o compartilhamento de experiências íntimas e a construção de uma rede de apoio emocional robusta.

Além do impacto psicológico, os benefícios das amizades também se estendem à saúde física. Estudos mostram que amigos estimulam hábitos saudáveis, como boa alimentação e prática de exercícios, além de reduzirem o impacto do estresse crônico sobre o sistema imunológico e cardiovascular. A presença constante de alguém que escuta, compreende e apoia é capaz de mitigar sintomas de ansiedade e prevenir quadros de solidão extrema, uma epidemia que cresce em diferentes faixas etárias.

A psicóloga observa ainda que, embora as plataformas digitais ampliem as possibilidades de contato, é preciso ter discernimento. O imediatismo das redes pode gerar um falso senso de intimidade, esvaziando a profundidade do vínculo. “Redução do estresse, aumento da autoestima, senso de pertencimento e suporte emocional durante os desafios da vida são alguns dos benefícios proporcionados por amigos”, lembra Camila. Em tempos de adversidade, essas relações atuam como âncoras de estabilidade emocional.

O desafio, portanto, não é abandonar as tecnologias, mas requalificar a forma como se constrói presença por meio delas. Entre a multiplicação de interações superficiais e o esvaziamento da escuta atenta, é urgente resgatar o valor do vínculo humano, esse que se alimenta do tempo, da vulnerabilidade compartilhada e do desejo sincero de estar ao lado, mesmo que por uma tela.

Mais do que uma data simbólica, o Dia da Amizade convida à reflexão sobre o lugar que os vínculos afetivos ocupam em meio à pressa cotidiana. Em tempos de conexões instantâneas e relações voláteis, ainda sabemos cultivar amizades que resistem ao tempo?

 

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