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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
doce viral

“Morango do amor” coloca em risco dentes, próteses e aparelhos, alertam especialistas

Popularizado nas redes sociais, o doce viral combina alto teor de açúcar com casquinha dura e pegajosa, o que pode causar fraturas dentárias, deslocamento de próteses e acidentes com aparelhos ortodônticos

Luana Avelarpor Luana Avelar em 30 de julho de 2025
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Foto: IA

O doce que virou febre nas redes sociais agora está no centro de uma preocupação de saúde pública. Conhecido como “morango do amor”, a nova obsessão gastronômica da internet combina a acidez natural da fruta com duas camadas de alta densidade calórica: uma de brigadeiro e outra de caramelo rígido, herdada da clássica maçã do amor. A receita, que acumula milhões de visualizações no TikTok e Instagram, não tem conquistado apenas influenciadores e confeitarias, mas também o radar de alerta dos profissionais de odontologia.

A popularidade do doce impulsionou uma série de vídeos em que consumidores relatam experiências negativas após consumir o “morango do amor”. Fraturas dentárias, desprendimento de lentes de contato e quebra de contenções ortodônticas são alguns dos episódios registrados. Em resposta ao grande número de relatos, o Conselho Federal de Odontologia (CFO), por meio do programa CFO Esclarece, divulgou orientações específicas à população, advertindo sobre os riscos reais à integridade bucal.

Segundo o órgão, a casquinha de caramelo que reveste o morango atinge elevada dureza, o que, em contato direto com dentes ou dispositivos protéticos, pode ocasionar acidentes com danos irreversíveis. Em pacientes com restaurações extensas nos dentes anteriores, o risco é ainda maior. Embora o consumo de doces seja prática comum, a rigidez e a aderência do caramelo presente no “morango do amor” conferem à sobremesa um potencial lesivo incomum.

A recomendação dos especialistas é que, caso o doce seja consumido, a mordida inicial ocorra sobre as partes mais finas do caramelo. A mastigação deve ser feita preferencialmente com os molares, dentes posteriores com maior capacidade de trituração, evitando o uso dos dentes da frente. Idealmente, o caramelo deve ser fracionado com o auxílio de uma faca antes do consumo.

Outro ponto crítico apontado pelo CFO está no conteúdo de açúcar. A receita viral concentra níveis elevados de sacarose, o que favorece a formação do biofilme dental, condição ideal para o desenvolvimento de cáries. Esse risco se intensifica diante de práticas de higiene bucal deficientes ou adiadas, especialmente em públicos mais jovens, público majoritário das redes onde o doce se popularizou.

A orientação, nesse caso, é a escovação imediata após o consumo, com especial atenção à remoção de resíduos entre os dentes e nos sulcos gengivais. O caramelo, por ser pegajoso, tende a permanecer aderido às superfícies dentárias mesmo após ingestão completa, o que exige higienização rigorosa e uso de fio dental.

Mas é entre os pacientes que utilizam dispositivos odontológicos que o alerta ganha maior gravidade. Facetas, próteses fixas ou removíveis, lentes dentais e aparelhos ortodônticos são incompatíveis com a consistência rígida e a aderência da casca caramelada. Quando tracionados pelo caramelo, esses dispositivos podem ser deslocados, fraturados ou romper sua fixação, gerando não apenas prejuízo estético ou financeiro, mas lesões internas na cavidade oral.

Para esses casos, a recomendação é categórica: a sobremesa não deve ser consumida. Substituições mais seguras podem ser feitas com uso de coberturas cremosas ou opções menos agressivas à estrutura bucal.

A conselheira do Conselho Federal de Odontologia, Bianca Zambiasi, professora universitária e doutora em Odontologia com área de concentração em Dentística Restauradora, reforça o apelo à precaução.

“É fundamental reforçar que pacientes com aparelhos ortodônticos, lentes, facetas e próteses em geral, não devem ingerir alimentos duros e pegajosos. Os demais pacientes também não estão isentos do risco de acidentes e devem tomar cuidados na mordida e mastigação. E, havendo acidentes, devem procurar pelo cirurgião-dentista o quanto antes, para que seja realizado o atendimento de urgência”, pontua.

O crescimento da popularidade do “morango do amor” evidencia mais uma vez a distância entre tendências digitais e práticas seguras de saúde. O mesmo algoritmo que dissemina vídeos de consumo recreativo em massa é incapaz de emitir alertas sobre os potenciais efeitos adversos desse comportamento. 

Apesar de parecer trivial, o impacto de um doce viral carrega implicações sérias. Para o sistema de saúde bucal, trata-se de um caso exemplar de como a cultura digital pode impulsionar condutas prejudiciais sem que haja, na mesma velocidade, uma contrapartida informativa suficiente. A lógica da viralização, centrada no desejo, no espetáculo e na performance, não se detém para considerar efeitos colaterais.

O alerta emitido pelo Conselho Federal de Odontologia é, portanto, mais do que uma recomendação pontual. Ele materializa o papel da ciência diante de fenômenos sociais de grande adesão, atuando como freio e baliza numa cultura cada vez mais regida pelo impulso do clique e pela estética da indulgência.

O consumo do “morango do amor”, portanto, não deve ser demonizado, mas compreendido dentro dos seus limites fisiológicos e clínicos. A odontologia, como campo científico e prático, reafirma seu compromisso não com o prazer momentâneo, mas com a saúde de longo prazo. Entre o desejo imediato e o cuidado duradouro, cabe ao consumidor escolher em qual lado morder.

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