Tarifa dos EUA atinge em cheio exportações de Goiás e pode gerar prejuízo de R$ 1,4 bilhão
A carne bovina, um dos principais produtos de exportação de Goiás, ficou de fora da lista de exceções, produto este que exportou mais de US$ 1,3 bilhão somente em 2024
A decisão do governo dos Estados Unidos (EUA) de aplicar uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros pegou em cheio o agronegócio e a indústria de Goiás. Embora 694 itens tenham ficado de fora da medida — entre eles combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis — os principais produtos exportados por Goiás, como carne bovina, açúcar, café, couro e sebo, não receberam o mesmo alívio e agora enfrentam barreiras comerciais que podem custar caro à economia do Estado.
A medida foi oficializada na quarta-feira, 30 de julho, por meio de uma Ordem Executiva assinada pelo presidente norte-americano Donald Trump. Desde então, provocou forte apreensão entre produtores, entidades de classe e representantes do setor industrial.
Segundo levantamento da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), os setores mais atingidos foram justamente os que sustentam a balança comercial goiana com os EUA. “Carne bovina, açúcar, couros, café e sebo bovino representaram 94% das exportações do agro goiano para os Estados Unidos no primeiro semestre de 2025”, explica Edson Alves, gerente técnico e econômico da entidade. Só a carne bovina deve perder US$ 162 milhões em exportações — cerca de R$ 907 milhões. Ao todo, o prejuízo pode chegar a US$ 248 milhões (aproximadamente R$ 1,4 bilhão).
O impacto já é sentido no mercado interno. “A arroba do boi caiu de R$ 320 para menos de R$ 260. Isso compromete diretamente o fluxo de caixa dos produtores e pode até reduzir o plantel para abate nos próximos meses”, alerta Alves.
Embora a exclusão de alguns produtos da tarifa tenha sido comemorada por parte do setor, os itens beneficiados não têm peso expressivo na pauta de exportação goiana. “Minérios, fertilizantes e combustíveis são relevantes, mas ainda representam pouco nas relações entre Goiás e EUA”, avalia.
A Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços (SIC) de Goiás acompanha os desdobramentos com atenção. Em nota, destacou que a taxação compromete a competitividade dos produtos goianos e impacta setores estratégicos como o agronegócio, a mineração e a indústria de transformação. “Além da queda nas exportações, há efeitos como instabilidade cambial, aumento nos custos de produção e insegurança jurídica para investidores”, afirma a pasta.
Para mitigar os efeitos do tarifaço, o governo estadual reforça sua estratégia de diversificação comercial. “Goiás tem avançado em relações comerciais com países da Ásia, Europa, América Latina e África. A abertura de novos mercados será essencial para absorver a produção que perdeu espaço nos Estados Unidos”, diz a SIC.
O setor industrial também monitora o cenário com preocupação. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), André Rocha, as exceções anunciadas não foram suficientes para amenizar o impacto para o Estado. “Ainda teremos grandes déficits, mesmo com algumas exceções. Goiás continua muito exposto”, afirma. Segundo ele, o ponto positivo foi o Brasil ter conseguido negociar antes da entrada em vigor das tarifas, o que abre espaço para novas rodadas de diálogo com os norte-americanos.
Rocha conta que a Fieg tem atuado junto ao governo estadual em articulações com empresários, sindicatos e também com compradores internacionais de produtos goianos. “Estamos conversando diretamente com os compradores para manter os canais comerciais abertos e criar alianças estratégicas, para que todos saiam ganhando, mesmo com a tarifa em vigor”, explica.
O anúncio das exceções foi recebido com surpresa na noite do dia 30. Rocha acredita que os primeiros dias de agosto serão decisivos para que o governo federal responda e intensifique as negociações com os EUA. “Esperamos que outras concessões sejam feitas, principalmente para o setor do agronegócio, que é o mais atingido.”
Além disso, Rocha defende que as políticas públicas adotadas por Goiás em apoio ao agro e à indústria sirvam de modelo para outros Estados e até para o governo federal. “Estamos mostrando que é possível enfrentar adversidades com articulação, estratégia e cooperação entre o poder público e o setor produtivo. Isso fortalece o Estado e pode fortalecer o Brasil.”
Enquanto isso, produtores rurais permanecem em alerta, trabalhando em propostas de curto e médio prazo. “Estamos dialogando com os governos estadual e federal para buscar soluções. A reversão das tarifas para itens como carne e café é uma das prioridades”, reforça Edson Alves, da Faeg.
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