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sábado, 6 de dezembro de 2025
Saúde

Cigarros eletrônicos sob suspeita: novos estudos revelam riscos à saúde

O uso prolongado de cigarros eletrônicos provoca inflamações nas vias respiratórias e pode agravar doenças pré-existentes, como asma e DPOC

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 2 de agosto de 2025
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Cigarros eletrônicos sob suspeita: novos estudos revelam riscos à saúde. | Foto: Reprodução/Istock

Inicialmente promovidos como uma alternativa menos nociva ao tabagismo tradicional, os cigarros eletrônicos passaram a ganhar espaço entre os consumidores a partir de meados da década de 2010. Apresentados como ferramenta para abandonar o cigarro convencional, os dispositivos conquistaram principalmente os mais jovens com a promessa de menos danos à saúde. No entanto, evidências recentes vêm desafiando essa narrativa.

Uma pesquisa publicada no último mês revelou níveis alarmantes de metais pesados na névoa emitida por modelos populares de vapes nos Estados Unidos. O resultado surpreendeu até mesmo os cientistas envolvidos, a ponto de um dos integrantes da equipe desconfiar que havia um defeito nos equipamentos de medição. Paralelamente, outros estudos vêm associando o uso dos dispositivos a possíveis impactos negativos no coração, nos pulmões e no funcionamento do cérebro.

Apesar do crescimento no consumo, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, ainda há poucas informações sobre os efeitos do uso prolongado desses dispositivos. Como os vapes continuam em constante modificação tecnológica, pesquisadores alertam que os riscos à saúde podem demorar a se manifestar por completo. Mesmo assim, os indícios já levantam preocupações entre especialistas da área médica e autoridades de saúde pública.

Problemas na saúde

Do ponto de vista cardiovascular, os prejuízos são imediatos. Uma tragada de vape é suficiente para causar estresse no sistema circulatório, elevando a frequência cardíaca e contraindo os vasos sanguíneos. O uso contínuo ao longo do dia simula um quadro de hipertensão persistente, favorecendo o desenvolvimento de arritmias, infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). A combinação de altas temperaturas e líquidos aquecidos nos dispositivos intensifica a liberação de substâncias tóxicas, como formaldeído e acetaldeído, que atingem pulmões, corrente sanguínea e coração.

O risco aumenta com a interrupção abrupta do uso, que pode provocar sintomas típicos da abstinência de nicotina: aumento da pressão arterial, aceleração dos batimentos cardíacos, irritabilidade e alterações de humor. Os compostos presentes nos líquidos saborizados, especialmente nos modelos descartáveis, também despertam preocupação. Substâncias como diacetil, associado ao chamado “pulmão de pipoca”, e acetato de vitamina E já estiveram ligados a quadros de lesões pulmonares graves, como o registrado em 2019 nos Estados Unidos, que resultou em dezenas de mortes.

Os pulmões, aliás, são diretamente impactados. O uso prolongado de cigarros eletrônicos provoca inflamações nas vias respiratórias e pode agravar doenças pré-existentes, como asma e DPOC. Tosse crônica e falta de ar são sintomas comuns. Estudos recentes apontaram ainda a presença de metais pesados como chumbo, níquel e antimônio em marcas populares, todos associados ao câncer de pulmão e a efeitos neurotóxicos.

E não se trata apenas de riscos imediatos. Assim como o cigarro tradicional, os cigarros eletrônicos também estão ligados ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer, como os que atingem boca, garganta, esôfago, pulmões, estômago, pâncreas, bexiga e outros órgãos.

Na adolescência, a exposição precoce à nicotina representa um risco adicional. O consumo nessa faixa etária pode comprometer áreas do cérebro responsáveis por funções cognitivas essenciais, como atenção, memória, aprendizado, controle de impulsos e regulação do humor. Especialistas alertam que os déficits podem ser duradouros.

Durante a gestação, os riscos se estendem ao feto. Ainda que os aerossóis dos cigarros eletrônicos contenham menos toxinas do que a fumaça do cigarro convencional, os dispositivos não são considerados seguros para grávidas. A nicotina pode afetar o desenvolvimento dos pulmões e do cérebro do bebê, e certos aromatizantes utilizados nos líquidos eletrônicos são considerados potencialmente prejudiciais ao feto.

Outro efeito menos discutido, mas igualmente relevante, envolve a saúde óssea. O tabagismo, inclusive por meio dos cigarros eletrônicos, está relacionado ao enfraquecimento dos ossos e à maior incidência de osteoporose. Um estudo observacional com mulheres em diferentes fases da menopausa mostrou que as fumantes apresentavam densidade mineral óssea significativamente menor que as não fumantes.

Por fim, os efeitos da exposição passiva aos cigarros eletrônicos merecem atenção. Assim como no cigarro convencional, o uso do vape em ambientes compartilhados faz com que pessoas próximas também inalem substâncias químicas nocivas, mesmo sem consumir diretamente o produto. A chamada contaminação passiva amplia o alcance dos danos, tornando o uso desses dispositivos uma questão de saúde coletiva.

No Brasil

Embora os cigarros eletrônicos ainda sejam menos prevalentes do que os convencionais, utilizados por 5,4% da população adulta, segundo estimativas recentes, o desafio de largar o hábito continua sendo uma preocupação relevante para os profissionais de saúde. Especialistas reforçam que o abandono do tabagismo, seja tradicional ou eletrônico, representa um passo fundamental para a recuperação da saúde física e mental, mesmo que envolva sintomas temporários da chamada síndrome de abstinência.

Essa fase de adaptação pode ser marcada por desconfortos como fissura, dor de cabeça, irritabilidade e outros sinais fisiológicos, mas tende a durar apenas de uma a duas semanas. O organismo, aos poucos, se reajusta à ausência das substâncias tóxicas presentes nos dispositivos. Médicos reforçam que os benefícios são sentidos logo nos primeiros dias sem nicotina, com melhora no bem-estar geral e início do processo de regeneração corporal.

Eventuais recaídas não devem ser vistas como fracassos, mas como parte do processo de superação da dependência. Muitos ex-fumantes obtiveram êxito somente após múltiplas tentativas. O importante, segundo especialistas, é compreender os gatilhos que levaram ao retorno do hábito e redobrar a atenção diante de situações semelhantes no futuro.

O ganho de peso após parar de fumar é comum, mas pode ser controlado com alimentação equilibrada, hidratação e hábitos saudáveis. Evitar café e álcool ajuda a reduzir o desejo por nicotina. Especialistas recomendam apoio emocional e acompanhamento profissional durante o processo. Apesar dos desafios, os benefícios de abandonar o cigarro, como mais saúde, disposição e qualidade de vida, são significativos e compensadores.

 

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