Ibaneis pode ser o presidenciável que MDB busca como opção a Lula
Atual presidente empaca mesmo atribuindo os pecados do mundo a Trump e Eduardo Bolsonaro e deixando partidos e governadores com a caneta atrás da orelha
Nilson Gomes-Carneiro
A pesquisa Datafolha publicada neste fim de semana foi um balde de neve jogado sobre a cabeça dos governistas. Aguardava-se melhor desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após os discursos de “Nós contra eles”, “Soberania nacional”, “Eduardo Bolsonaro conspirou com Donald Trump contra o Brasil”. Ao contrário. Permanece empacado. A manchete dominical da Folha de S.Paulo, o jornal dono do instituto, foi “Lula mantém reprovação de 40% e aprovação de 29%”.
Para salvar os nove dedos, na iminência de os anéis terem ido, o segredo está no concorrente da FSP, O Estado de S.Paulo: “Petistas querem Alckmin na corrida ao Bandeirantes e Haddad no Senado”. Rompe-se o casco do navio e o MDB pode retomar o planejamento inicial de lançar o governador Ibaneis Rocha (DF), uma vítima da polarização, afastado do mandato pelo ministro Alexandre de Moraes (STF) durante 66 dias.
Como nenhuma estratégia de reeleição parece vingar, foi em vão jogar os pecados do mundo sobre o clã Bolsonaro, estão todos querendo uma vaga onde houver possibilidades de (se) arrumar. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) jamais deixaria a chapa de Lula se a vitória fosse certa. Fernando Haddad de maneira alguma sairia do mais importante ministério, o da Fazenda, para se arriscar em mais uma eleição – vem de três derrotas seguidas, pode até pedir sofrência no Fantástico.
No Brasil, há quatro cargos majoritários, Haddad já perdeu para prefeito (2016), presidente (2018) e governador (2022). Só falta apanhar para senador. Se o céu estivesse azul para a manutenção de Lula no Palácio do Planalto, todo ministro ficaria quietinho onde está, criando impostos e impostores.
O Bandeirantes a que se refere o título do jornal é a sede do Governo do Estado de São Paulo, onde Tarcísio de Freitas (Republicanos) dá expediente e é favorito a continuar. Alckmin não quer tê-lo pela frente, pois já esteve quatro vezes no Executivo paulista, mantém-se invicto em disputas estaduais e, se for de sua livre e espontânea vontade, só sai do Jaburu, a casa oficial do vice-presidente da República, para o Planalto, o palácio nº 1, sonhado por todos os políticos, a começar dos governadores filiados a siglas com cargos na esplanada em frente: o MDB de Ibaneis, o União Brasil de Ronaldo Caiado (GO) e o PSD de Ratinho Jr (PR) têm três ministérios cada, e o Republicanos de Tarcísio, um. Dos pré-candidatos que chefiam Estados, apenas Romeu Zema é membro da oposição a Lula, o Novo.
Os dois MDBistas que chegaram à Presidência, José Sarney e Michel Temer, ainda são muito ouvidos internamente. Ibaneis é ligado a ambos. Antes de cuidar das questões sociais do DF, a função de Mayara Noronha Rocha, mulher de Ibaneis, era a mesma no governo de Temer. Dias atrás, o marido de Mayara e o de Marcela se reuniram para discutir o Movimento Brasil, um conjunto de propostas que o ex-presidente quer implantar com a chegada do MDB ao Palácio do Planalto. Temer defende a união dos governadores, inclusive Ibaneis, para enfrentar Lula.
UM CACIFE DE RESPEITO
O que está disponível para o governador do DF é um respeitável patrimônio político e social. Seu partido, o MDB, é o maior do Brasil, com mais de 2 milhões de filiados. Advogado, tem 1 milhão e 500 mil colegas. Há décadas é o maior defensor de servidores públicos da ativa (12 milhões entre federais, estaduais e municipais) e aposentados (24 milhões entre previdência social e particular). Sua cota do Fundão Eleitoral ultrapassa R$ 404 milhões, além de o próprio Ibaneis ser muito rico e conseguir bancar sozinho uma campanha, caso seja necessário. Nasceu em Brasília, mas é filho de nordestinos e quando menino morava no Piauí, atraindo mais uma fatia da população que tem conterrâneos em todos os lugares do Brasil, inclusive São Paulo e Rio de Janeiro.
Qualquer que seja o adversário, os atuais ocupantes do cargo não vão mudar o timoneiro. Neste domingo 3/8, Lula disse no 17º Encontro Nacional do PT: “Eu vou ser candidato para ganhar as eleições”. Ele já bateu três e foi surrado em três. Agora, é o desempate. Ibaneis continua invencível. Tudo bem, concorreu apenas duas vezes, ambas a governador do DF. No aspecto ideológico, Ibaneis está à direita. Inclusive, sua primeira vitória, em 2018, foi contra o pior governador da história candanga, o esquerdista Rodrigo Rollemberg, do PSB, uma goleada de 70% a 30%. Em 2022, nem 2º turno houve: Ibaneis massacrou o candidato lulista Leandro Grass (PV) por 50% a 26%. Olhando o placar, parece que foi fácil, mas Ibaneis enfrentou dois senadores, Leila do Vôlei (PDT) e Izalci Lucas (PSDB), que nem chegaram a 5%, além do ex-governador e senador Paulo Otávio (PSD), que mal passou dos 7%, além de cinco nanicos.
O ERRO DA JUSTIÇA QUANTO AO 8/1
Muita gente sofreu e continua penando em virtude das manifestações de 8 de janeiro de 2023. O detentor de cargo público que mais pagou por pecados não cometidos foi Ibaneis. A acusação inicial era que o Governo do DF não havia mobilizado efetivo suficiente para conter eventuais visitantes na Praça dos 3 Poderes.
O Supremo Tribunal Federal o afastou do cargo por 90 dias. Bastava olhar as imagens para concluir que a Polícia Militar de Brasília, se teve alguma culpa, foi menor que a do Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, que deveria proteger o Palácio do Planalto; as Polícias Legislativas do Senador e da Câmara dos Deputados; a segurança disponível para o STF, além de integrantes das Forças Armadas. Com isso, Ibaneis voltou ao cargo 24 dias antes do previsto e não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Ainda não foi indenizado pelos crimes cometidos contra sua honra nem recebeu pedido de desculpas.
Mulheres vão ser o diferencial
Duas mulheres, em especial, vão fazer a diferença em favor de Ibaneis na campanha rumo à Presidência da República, caso o MDB queira disputar o cargo que teve com dois vices, José Sarney e Michel Temer. A secretária que cuida das pessoas humildes de Brasília, Mayara Noronha Rocha, e a vice-governadora Celina Leão (PP) estão de braços dados com os projetos de Ibaneis.
Além de o Progressistas ter uma governadora capaz de mobilizar a força feminina do País, Celina é de Goiânia, o que ajuda na votação em Goiás, sobretudo nas cidades goianas do Entorno de Brasília. Mayara é uma revelação entre as pessoas que promovem as conquistas das famílias em vulnerabilidade financeira. Os programas que criou refletem a sensibilidade que apenas quem viveu na periferia consegue sentir. Mayara passou infância e juventude em Taguatinga Sul e Norte, estudou sempre em escola pública e seria uma primeira-dama da República com a juventude de Marcela Temer e Maria Thereza Goulart, a discrição de Ruth Cardoso e a afetividade e efetividade de Sarah Kubitschek.