Pós-pandemia transforma academias em polos de saúde, socialização e bem-estar
Espaço deixou de ser visto apenas como ambiente para jovens em busca de estética e se consolidou como ponto de encontro entre gerações
Ir à academia deixou de ser uma atividade ocasional para se tornar um verdadeiro estilo de vida para milhões de brasileiros. Antes associada a preparações sazonais, como o verão ou datas especiais, a rotina de treinos agora se firmou como parte essencial do dia a dia de boa parte da população. Mais que um local para perder peso ou ganhar músculo, a academia passou a ser reconhecida como espaço de socialização, conexão e bem-estar emocional, um movimento que ganhou força após a pandemia de Covid-19.
O personal trainer Angelo Araújo explica que, no período pré-pandemia, era comum ouvir que “academia é para jovens”. Essa visão, segundo ele, começou a mudar após a pandemia, quando ficou mais claro que o exercício físico vai muito além da estética.
“O público adulto e da melhor idade cresceu bastante nesse período, impulsionado por estudos que comprovam os benefícios do exercício físico e também pelo crescimento acelerado dos influenciadores digitais fitness”, diz. “Hoje, dentro de uma academia, encontramos diversas gerações, cada uma com um objetivo, mas todas praticando e promovendo saúde.”
Angelo observa que, atualmente, treinar também está associado ao senso de pertencimento. “É quase um critério para escolher até mesmo com quem a pessoa vai se relacionar. Já ouvi gente dizer: ‘se a pessoa não treina, não serve para namorar’. Há quem prefira um treino pesado a sair para bares e festas. É o famoso ‘não me chame para sair, me chame para treinar’”, comentou.
Para ele, não há mais um único objetivo predominante na ida à academia. “Socialização, estética e saúde estão fortemente ligados. As pessoas se conectam conversando sobre treino e dieta, diminuem o sentimento de vergonha, se sentem mais felizes e dispostas. É comum ver colegas de trabalho que também treinam juntos, estudantes que marcam para malhar ou grupos que se reúnem para praticar atividades específicas”, relata.
O papel do profissional, segundo Angelo, vai além de ensinar exercícios. “Nossa função é garantir que tudo seja feito de forma segura, organizada e dinâmica, evitando lesões e criando um clima acolhedor. O objetivo é que, ao final do treino, a pessoa queira voltar no dia seguinte porque a experiência foi boa. Queremos ser vistos não só como professores de musculação, mas como amigos que tornam o ambiente exaustivo mais leve e divertido.”
Ele diz que se sente especialmente recompensado quando ouve relatos de alunos que, mesmo após um dia cansativo, vão treinar apenas porque gostam das pessoas da academia ou do atendimento que recebem.
“Nesses momentos, nos tornamos não só professores, mas também psicólogos”, afirma. E, para Angelo, o engajamento também depende de orientação de qualidade: “A boa orientação influencia diretamente, com informações verdadeiras, que ajudam a pessoa a se organizar e não deixar o treino de lado.”
A nutricionista Maria Carolina Bernardes compara o treino sem acompanhamento alimentar adequado a “abastecer um carro de corrida com combustível ruim”. Segundo ela, a alimentação equilibrada é fundamental para fornecer energia, favorecer a recuperação muscular, prevenir lesões e potencializar resultados. “Hoje vivemos o movimento wellness, no qual performance não é só estética: é sobre longevidade, disposição e saúde plena”, afirma.
Maria Carolina destaca que, após a pandemia, houve um aumento significativo na preocupação com a nutrição. “As pessoas entenderam que imunidade, energia e qualidade de vida estão diretamente ligadas à alimentação. Muitas academias já perceberam isso e se tornaram verdadeiros complexos de saúde, oferecendo suporte nutricional e ferramentas digitais, como o aplicativo LigDoctor, que conecta alunos a nutricionistas, médicos e psicólogos, além de permitir monitorar a evolução da saúde”, explica.
A especialista reforça que corpo e mente são inseparáveis e que uma dieta estratégica contribui também para o bem-estar mental. “Uma boa alimentação regula neurotransmissores como serotonina e dopamina, essenciais para o humor, foco e motivação. Também melhora o sono, reduz inflamações e dá energia para enfrentar a rotina. Não existe saúde e performance sem uma boa alimentação e um bom intestino”, destaca.
Erros na alimentação e pressa por resultados atrapalham evolução
A nutricionista alerta que hábitos alimentares equivocados ainda são comuns entre frequentadores de academia. Segundo ela, dois extremos se destacam: consumir calorias de forma insuficiente, acreditando acelerar o emagrecimento, ou exagerar no uso de suplementos sem orientação profissional.
Outro problema recorrente é copiar dietas de terceiros, sem levar em conta fatores individuais como gasto energético, histórico de saúde e objetivos específicos. “Academias que oferecem suporte nutricional individualizado ajudam a corrigir esses erros e a potencializar os resultados”, explica.
A especialista também chama atenção para a pressa em obter mudanças físicas. Para ela, a busca por resultados imediatos é um dos principais obstáculos na jornada fitness. “O corpo precisa de tempo para se adaptar. Nem sempre perder peso significa progresso, já que, em alguns casos, há perda de massa muscular e não de gordura. O melhor resultado é o constante, mesmo que venha aos poucos”, reforça.
A psicóloga Paula Ventura reforça que a prática física vai muito além da estética. “Corpo e mente não funcionam de formas separadas. A atividade física regular libera neurotransmissores como endorfina e serotonina, reduzindo estresse, ansiedade e até sintomas de depressão. Também melhora o sono, a autoestima e ajuda no manejo das emoções”, observa.
Para Paula, o treino também é um espaço de conexão. “Entre uma repetição e outra, há troca, incentivo e construção de vínculos. Isso transforma o treino em um momento de encontro, e não apenas de esforço.” Ela lembra, no entanto, que é essencial respeitar a individualidade: “Para alguns, a academia é estimulante; para outros, pode ser desafiadora. É preciso reconhecer o tempo e a forma de cada um.”