Tarifaço dos EUA ameaça agronegócio e acende alerta no mercado imobiliário goiano
Medida norte-americana que eleva em até 50% as tarifas de importação pode reduzir exportações brasileiras e gerar cautela nos investimentos do setor da construção civil, sobretudo no interior de Goiás
O anúncio do governo dos Estados Unidos de elevar em até 50% as tarifas de importação sobre produtos brasileiros reacendeu o debate sobre os impactos da medida — conhecida como tarifaço — para a economia nacional. A decisão atinge diretamente segmentos que têm forte representatividade na balança comercial brasileira, em especial o agronegócio, que responde por uma parcela significativa das exportações do país.
Em Goiás, onde o setor agropecuário exerce papel central na geração de empregos, renda e arrecadação, o clima é de atenção, com possíveis efeitos indiretos sobre o mercado imobiliário e a construção civil.
De acordo com Felipe Melazzo, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Estado (Ademi-GO), o agronegócio representa um dos pilares da economia local e tem reflexo direto no ciclo de investimentos da iniciativa privada.
“Um eventual recuo nas exportações, provocado pelo tarifaço, pode gerar um ambiente de maior cautela, especialmente nas regiões em que a cadeia produtiva do campo é mais representativa”, avalia. Segundo ele, isso não significa uma suspensão imediata dos investimentos, mas sim um acompanhamento mais criterioso da viabilidade de novos empreendimentos, até que o cenário internacional apresente maior previsibilidade.
Até o momento, a entidade não identificou um movimento generalizado de retração, mas as incorporadoras já demonstram uma postura mais analítica, sobretudo em municípios do interior do Estado, onde o agronegócio é a base da atividade econômica. “É um comportamento natural do mercado em momentos de incerteza, mas, por enquanto, não há sinais de paralisação ou cancelamento de projetos”, afirma Melazzo.
Na avaliação da Ademi-GO, caso o fluxo de exportações reduza e, consequentemente, haja queda na renda gerada pelo agronegócio, os segmentos mais sensíveis seriam os de imóveis de médio e alto padrão no interior. Essas regiões concentram um público com forte vinculação à cadeia produtiva rural, que costuma responder por uma parte importante da demanda imobiliária. Além disso, empreendimentos comerciais e logísticos também podem sentir efeitos, já que a dinâmica do agronegócio movimenta outros setores, como transporte, armazenagem e serviços.
Diante desse cenário, o setor imobiliário tem buscado diversificar seu portfólio e avançar em nichos com demanda mais estável, como a habitação popular e os projetos vinculados a programas habitacionais. De acordo com Melazzo, o fortalecimento de parcerias com instituições financeiras e o estímulo à inovação também são estratégias utilizadas para manter a competitividade do setor em períodos de incerteza econômica.
Em Goiânia, onde a economia é mais diversificada, a previsão da entidade é de que o ritmo de lançamentos se mantenha, principalmente nas faixas residenciais voltadas para a classe média e alta, que continuam apresentando boa demanda. No interior do Estado, no entanto, pode haver ajustes nos cronogramas, especialmente em empreendimentos logísticos e residenciais diretamente ligados ao desempenho do agronegócio. “Ainda assim, não vemos um cenário de estagnação, mas de prudência na tomada de decisões”, ressalta o presidente da Ademi-GO.
Enquanto o governo brasileiro busca alternativas diplomáticas para reverter o tarifaço norte-americano, o mercado acompanha os desdobramentos com atenção. A expectativa é de que os impactos sejam minimizados e que os setores produtivos continuem atuando de forma integrada, garantindo a manutenção do ciclo de investimentos e o desenvolvimento econômico do Estado.
Com base nas projeções da entidade, o desempenho do mercado nos próximos meses dependerá do equilíbrio entre os efeitos externos e os fatores internos, como o acesso ao crédito e a continuidade dos programas de habitação. Caso o governo consiga atenuar as consequências do tarifaço por meio de negociações bilaterais, o setor imobiliário tende a recuperar a confiança rapidamente e manter o ritmo de crescimento observado nos últimos anos.