Estética humanizada propõe cuidados com foco na autoestima e no bem-estar
Abordagem se diferencia de tratamentos padronizados ao priorizar escuta ativa, personalização e impacto emocional
O Brasil ocupa posição de destaque no cenário estético mundial. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), em 2023 o país foi o segundo em número de procedimentos estéticos realizados, atrás apenas dos Estados Unidos. O dado reflete a forte demanda nacional, mas também evidencia o peso de uma sociedade que continua a reforçar padrões de beleza rígidos. Nesse contexto, cresce o interesse por alternativas que aproximem os tratamentos de um cuidado mais consciente, como a chamada estética humanizada.
A proposta é defendida por profissionais como a fisioterapeuta dermatofuncional e biomédica Pollyanna Faria. Para ela, os procedimentos só fazem sentido quando considerados em sua dimensão integral. “Não se trata apenas de apagar marcas, rugas ou sinais do tempo, mas de entender o que aquelas marcas representam para quem as carrega”, afirma.
Escuta no centro do atendimento
A primeira consulta é entendida como etapa fundamental. Em vez de se restringir ao preenchimento de fichas, o atendimento inicial é construído como espaço de escuta ativa, em que o paciente compartilha expectativas, inseguranças e desejos. “Ao adotar esse conceito, o profissional não enxerga apenas um rosto ou um corpo, mas sim um ser humano inteiro, com história, sentimentos, inseguranças e desejos”, explica Pollyanna.
Essa fase desloca o foco do resultado estético imediato para a motivação real do paciente. O vínculo estabelecido nesse momento contribui para reduzir intervenções desnecessárias e fortalece a confiança em escolhas que respeitem o tempo e os limites individuais.
Mercado em expansão e desafios
Dados do ISAPS mostram que o Brasil realizou mais de três milhões de procedimentos em 2023, somando cirurgias plásticas e intervenções minimamente invasivas. Essa dimensão coloca o país como referência mundial no setor, mas também suscita questionamentos sobre os impactos emocionais dessa busca contínua por melhorias estéticas.
“Cada equipamento, cada técnica, cada protocolo é aplicado de maneira personalizada, pensando não só no resultado externo, mas no impacto emocional e psicológico que isso terá na vida do paciente”, ressalta Pollyanna.
O contraste entre a demanda crescente e a necessidade de práticas mais cuidadosas ajuda a explicar a força da estética humanizada. Mais do que atender à vaidade ou oferecer promessas de transformação imediata, ela busca alinhar tecnologia e empatia para tornar os procedimentos experiências de fortalecimento da autoestima.
Impactos além do espelho
Segundo Pollyanna, até o ambiente em que o atendimento ocorre faz parte da proposta. Espaços que transmitem acolhimento e segurança são tão importantes quanto a técnica aplicada. “As mudanças que ela proporciona não se limitam à aparência física. Elas reverberam na forma como cada pessoa se enxerga, se posiciona no mundo e se relaciona com os outros”, afirma.
Esse impacto, muitas vezes negligenciado, amplia o alcance da prática. Intervenções estéticas, quando conduzidas com consciência e respeito, podem transformar relações interpessoais e a forma como o indivíduo ocupa espaços sociais e profissionais. Mas, para isso, é necessário que o desejo parta do paciente, e não de imposições externas.
O dilema dos padrões
Mesmo com a abordagem humanizada, persiste a dúvida: até que ponto os procedimentos estéticos, ainda que individualizados, não acabam reforçando os mesmos padrões que geram frustração? Para Pollyanna, a diferença está na autonomia. “É entender que beleza não é sobre se encaixar, mas sobre se reconhecer, se aceitar e, a partir disso, se transformar, por dentro e por fora”, conclui.
Quando a decisão é tomada de forma consciente, os efeitos podem ser positivos e duradouros. Mas, se determinada pela pressão de comparações sociais, a prática tende a repetir os modelos que critica. Nesse cenário, a estética humanizada busca se diferenciar ao colocar a escuta e o respeito aos limites individuais como critérios centrais.