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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Entre o humor e a crítica

Jaguar, fundador do Pasquim, morre aos 93 anos

Cartunista foi referência do humor gráfico e símbolo da resistência cultural à ditadura

Luana Avelarpor Luana Avelar em 24 de agosto de 2025
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O cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, conhecido como Jaguar, morreu neste domingo (24), no Rio de Janeiro, aos 93 anos. Internado no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, tratava de uma infecção respiratória que evoluiu para complicações renais. Nos últimos dias, estava sob cuidados paliativos.

Nascido em 1932, Jaguar passou a juventude entre os campos de futebol de Ipanema e o expediente no Banco do Brasil. Foi ali, ainda funcionário, que em 1952 publicou seu primeiro desenho no jornal Última Hora, na coluna Penúltima Hora. Pouco depois, colaborou com a revista Manchete e abandonou o terno do banco para vestir a irreverência do humor. O pseudônimo que o consagraria surgiu por sugestão do cartunista Borjalo.

Nos anos da ditadura, sua assinatura tornou-se sinônimo de resistência. Em 1969, fundou O Pasquim, ao lado de Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis e outros nomes que moldaram a imprensa alternativa. O semanário tornou-se um espaço de confronto direto com a censura, usando a sátira como arma. Jaguar foi preso, processado, interrogado. Continuou a desenhar. Sua figura consolidou-se como a de um artista que não recuava diante da repressão.

Entre os personagens criados nesse período, o mais lembrado é Sig, um rato batizado em homenagem a Freud, que virou mascote do jornal e metáfora do espírito contestador da publicação. O humor de Jaguar, ácido e popular, ultrapassava fronteiras: falava aos intelectuais, mas também aos leitores comuns que encontravam ali uma tradução gráfica da vida sob o regime.

Sua atuação, porém, não se limitou ao Pasquim. Colaborou com revistas como Senhor, Civilização Brasileira e Pif-Paf, além de jornais como Tribuna da Imprensa. Na televisão, criou as vinhetas do famoso “plim plim” da TV Globo, que se tornariam parte da memória sonora do país. Nos livros Átila, você é bárbaro e Ipanema, se não me falha a memória, registrou lembranças e histórias que misturavam humor e crônica de costumes.

A notícia da morte repercutiu entre colegas de profissão. O cartunista Chico Caruso afirmou que Jaguar era “o melhor cartunista brasileiro, meu amigo querido e uma perda irreparável para o humor e para o Brasil”. Para Caruso, “Millôr era grande, Ziraldo era grande, mas só ele era o Jaguar. Inigualável, inestimável, inimitável”. O também cartunista Aroeira destacou a relevância de sua obra: “Jaguar foi mestre, professor, amigo, inspiração, gênio, um dos maiores chargistas que eu já vi no planeta como um todo. Incansável, trabalhou até o último minuto, sempre absolutamente crítico, sempre feroz, sempre amado por gerações e gerações seguidas de cartunistas”.

Mesmo após o fim da circulação do Pasquim, Jaguar não se afastou dos encontros culturais. Na Festa Literária Internacional de Paraty de 2014, divertiu a plateia ao recordar histórias com Millôr Fernandes e Chico Buarque, em tom de anedota de botequim. O riso do público naquela noite reafirmava a vitalidade que sempre acompanhou seu trabalho.

Foram mais de setenta anos de atuação entre charges, livros e conversas que atravessaram diferentes épocas do Brasil. A morte de Jaguar encerra um ciclo do humor gráfico, mas sua obra permanece como referência de como o riso pode ser, ao mesmo tempo, crítica política e memória da vida cultural de um país.

 

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