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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Doença crônica

Lipedema atinge milhões de brasileiras e ainda é confundido com obesidade

Doença crônica causa dor, acúmulo anormal de gordura e compromete autoestima; reconhecimento oficial pela OMS é recente

Luana Avelarpor Luana Avelar em 24 de agosto de 2025
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O lipedema, condição crônica e progressiva que provoca acúmulo anormal e doloroso de gordura, sobretudo em pernas e braços, pode afetar até 8,8 milhões de brasileiras. Estimativas internacionais apontam prevalência entre 10% e 18% da população feminina mundial, o que corresponde a cerca de 500 milhões de mulheres. No Brasil, estudos indicam que 12,3% das mulheres apresentam sinais compatíveis com a doença, mas o diagnóstico ainda é raro, frequentemente confundido com obesidade ou retenção de líquidos.

“A confusão acontece porque o aumento de volume corporal pode lembrar sobrepeso ou inchaço, mas a característica fundamental é a dor à palpação e a desproporção entre tronco e membros”, explica a médica endocrinologista Sandra Campos. Ela acrescenta que o lipedema se caracteriza pelo acúmulo simétrico e doloroso de gordura nos membros, preservando mãos e pés.

As mulheres são quase exclusivamente afetadas. Puberdade, gravidez e menopausa, fases marcadas por alterações hormonais, estão entre os períodos de maior risco. Pesquisas recentes sugerem que a interação entre predisposição genética e ação dos estrogênios explica a alta incidência. “O padrão hormonal feminino favorece o depósito anormal de gordura característico do lipedema, por isso a doença é tão prevalente nesse grupo”, afirma Sandra.

Os sintomas incluem dor e sensibilidade ao toque, irregularidades sob a pele, hematomas espontâneos, sensação de peso nas pernas, fadiga constante e aumento simétrico do volume corporal. Nos estágios mais avançados, a mobilidade pode ser comprometida. O perfil mais recorrente de paciente é o de mulheres jovens com histórico familiar, que notam o crescimento desproporcional de gordura logo após a puberdade.

O diagnóstico depende da avaliação clínica, com base no histórico e no exame físico. Exames de imagem, como ultrassom de alta frequência, auxiliam na exclusão de linfedema ou na detecção de fibrose, mas não confirmam o lipedema. “Hoje, às diretrizes internacionais recomendam que o diagnóstico seja feito por médicos treinados, sempre com apoio multidisciplinar”, destaca a endocrinologista.

Embora não haja cura, o tratamento pode controlar os sintomas. Meias de compressão, dieta balanceada, exercícios de baixo impacto e suporte psicológico compõem a linha de cuidados. “Em alguns casos mais graves e de acordo com a avaliação criteriosa do médico, procedimentos como lipoaspiração, radiofrequência e Vaser, uma tecnologia de lipoaspiração ultrassônica que usa ondas sonoras de alta frequência para emulsificar, desfazer e liquefazer as células de gordura, facilitando sua remoção, podem ajudar a reduzir o volume e aliviar a dor”, observa Sandra Campos.

O acompanhamento deve ser integrado. “É fundamental que o manejo seja multidisciplinar, envolvendo médico, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo. Só assim conseguimos melhorar a qualidade de vida das pacientes”, reforça a especialista.

Além das limitações físicas, o impacto emocional é profundo. Muitas mulheres relatam frustração diante da ausência de resultados estéticos com dietas e exercícios, o que compromete a autoestima e pode desencadear quadros de ansiedade e depressão.

Descrito há mais de 80 anos, o lipedema só foi reconhecido oficialmente em 2022 pela Organização Mundial da Saúde, com inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Para Sandra, visibilidade é determinante: “Dar visibilidade ao lipedema é essencial. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais eficaz é o manejo e menor o impacto na vida da paciente”.

 

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