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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
OPINIÃO

COP em Goiás passaria mais vergonha que no Pará

Após 16 anos de obras de Iris, 20 de construções de Marconi, mas 8 sem nada de Caiado, Estado precisa melhorar estrutura para grandes eventos

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 25 de agosto de 2025
Belém, no Pará, está apanhando no mundo inteiro pelas deficiências apresentadas para receber representantes dos países na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, de 10 a 21 de novembro Foto: Roni Pereira/Agência Pará
Belém, no Pará, está apanhando no mundo inteiro pelas deficiências apresentadas para receber representantes dos países na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, de 10 a 21 de novembro Foto: Roni Pereira/Agência Pará

Belém, no Pará, está apanhando no mundo inteiro pelas deficiências apresentadas para receber representantes dos países na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, de 10 a 21 de novembro. São esperados 196 países, porém até agora menos de 50 confirmaram presença. Fala-se dos altos preços das hospedagens e da logística capenga, com obras inacabadas a dois meses e meio do início da COP 30 Amazônia. Aventa-se a possibilidade de mudar a sede. Caso quisessem transferi-la para Goiânia, uma COP 30 Cerrado, os problemas seriam os mesmos. E até maiores.

Em 2021, Goiás sediou de última hora um grupo da Copa América, após a desistência de Colômbia e Argentina, que dividiriam a responsabilidade. Nada a ver com a COP, pois houve apenas sete jogos, sem torcida, em apenas um estádio, o Olímpico, no Centro de Goiânia. Fora isso, a estrutura é muito pequena. Quando há um show de artistas famosos e um jogo do Campeonato Brasil de futebol no mesmo fim de semana, a cidade passa aperto. Então, imagine um mês inteiro (oficialmente, são 11 dias, mas está havendo conferências desde agora) com delegações, jornalistas e turistas de 198 países, como foi a mais recente, a COP 29, no ano passado em Baku, no Azerbaijão…

Doçuras, não; travessuras, muitas

As grandes festas goianienses, como a do Halloween, superlotam hotéis e bares e fazem de outubro um caos nas locações. Ótimo para o comércio e o setor de serviços, mas é só o que se consegue, ainda assim a muito custo. Como o das festas, o público da COP é basicamente de jovens, igual aos integrantes de milhares de ONGs de todos os cantos do planeta. Há dezenas de festas por noite. DEZENAS! POR NOITE! Aí, o que assusta não é a máscara de monstro dos participantes, é o acúmulo de lixo, é o desordenado movimento de táxis, Uber e 99, em carros e motos.

Nada pior do que não fazer nada

Nos últimos 60 anos, Goiás teve quatro ciclos de políticos na chefia do Executivo estadual, o da ditadura militar (1964/1983), do PMDB (1983/1998), do marconismo (199/2018) e de Ronaldo Caiado (2019/2025). Foram construídos dois centros de convenções em Goiânia (Iris Rezende) e Anápolis (Marconi Perillo). Iris transformou um limão num banquete. Num terreno abandonado na Rua 4, região central de Goiânia, foi encontrado o aparelho que deu origem ao maior acidente nuclear do mundo, fora o de Chernobyl. O então governador desapropriou a área e ergueu o maior complexo de eventos da cidade. Marconi construiu o Centro Cultural Oscar Niemeyer, que sedia os grandes eventos trazidos para Goiânia. Mas as obras nessa área de turismo estão paradas no Governo Caiado. E é impossível falar de incremento ao turismo quando não se tem sequer onde os participares se reunirem.

Sofrência na música e no evento

Os grandes festivais de música sertaneja, estilo em que Goiás lidera do compositor ao empresário, das duplas aos odontólogos dos artistas, costumam causar engarrafamentos em restaurantes e prédios administrados por gestores de Airbnb e outras plataformas de locação de imóveis por temporada. Goiânia tem ainda o turismo de compras, principalmente na região da 44, e o de eventos na área de saúde. Pronto!, sextou, estabelece-se o bug do milênio.

Goiânia também não dispõe de gastronomia, hotéis nem estacionamento para anfitrionar 66.778 delegados (como em Baku) dos países, fora a imprensa, os curiosos, os especialistas independentes e os que só viajam mesmo a passeio. Calcula-se em até 150 mil a quantidade de pessoas circulando o tempo inteiro, com dinheiro para gastar, curiosidade imensa para consumir e aquele ímpeto de comprar inutilidades que só turista tem. Goiânia mal conseguiria atender 10% desse volume.

8.502 quartos para 2 milhões

O Censo Hoteleiro de Goiânia de 2022, feito pelo Observatório da Goiás Turismo, órgão do Governo do Estado, informou que há 170 hotéis disponíveis. Na mesma ocasião, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Goiás, a Abih-GO, encontrou 18.696 leitos em 8.502 UHs, ou seja, quartos. Enfim, nem precisa de COP: se na época da Romaria de Trindade houver um grande encontro de evangélicos em Aparecida e cinco eventos médicos em Goiânia, o sistema vai à bancarrota.

Dessas camas disponíveis, nem todas essas camas estão… disponíveis. Estranho, mas é isso mesmo: dos 8.502 quartos, alguns milhares estão reservados para “moradores”. É o aluno de mestrado ou doutorado que fica até dois anos. É o residente do zilhão de cursos de Medicina que passa outros tantos anos. É o negociante que vem com frequência do interior ou de outros Estados com rotina em um dia ou mais na semana, toda semana, o ano inteiro. 

Seria difícil levar os turistas a cidades com atrações de primeira categoria. As rodovias têm pista única para os destinos com águas termais, como Caldas Novas e Rio Quente. Até para a famosa Pirenópolis, a duplicação acaba em Anápolis e o trecho final é perigoso. Enfim, restará ao visitante ficar dentro do hotel – quem conseguir um quarto.

Rede moteleira é ampla e recebe elogios

A maioria dos xingamentos a Belém se deve ao preço das hospedagens em hotéis e da providência em abrigar parte dos visitantes em motéis – que, no Brasil inteiro, tem o mesmo significado, diferente dos Estados Unidos. De Aparecida a Anápolis, atravessando Goiânia, a BR 153 oferece em suas margens cerca de 50 motéis. A ausência de elogios aos hotéis não é sentida em seus congêneres de permanência rápida: Brasília, a vizinha rica e poderosa a 200km de distância, cede parte de sua freguesia a Goiânia devido à qualidade dos motéis da Capital goiana.

Além das opções na BR 153, há motéis em diversos bairros das cidades da Zona Metropolitana. E para todos os bolsos e gostos. O Motel Preto & Branco, ao lado da Comurg, não compete com Memphis e Solarium, na beira da rodovia. Há motéis no Centro de Goiânia, em meio às residências, próximo a estruturas da Secretaria de Segurança Pública. Há nas saídas para Aragoiânia, Goianira, Santo Antônio de Goiás, Nerópolis, Senador Canedo. Enfim, seria uma forma de aliviar o tumulto nas demais alternativas de hospedagem, que permanece como nos tempos de Bartolomeu Bueno, o pai e o filho.

Treinamento da mão de obra

Goiânia e cidades vizinhas não estão nem minimamente preparadas para receber eventos como a COP 30 ou qualquer outro mais duradouro e que envolvam grande número de turistas internacionais. Uma das deficiências é na capacitação dos prestadores de serviço, da troca da moeda por real à sinalização inadequada em ambientes a céu aberto e dentro das edificações.

Não existem lavanderias na maioria das unidades de hospedagem. Na COP 29, por exemplo, apareceram falantes de mais de mil línguas, pois os povos originários comparecem e são protagonistas. Aqui, como em Belém, faltam poliglotas até para atender os idiomas mais comuns, como Inglês, Espanhol, Francês e Alemão. Como atender asiáticos? E os africanos?

O respeito a características próprias, como a dos religiosos (muçulmanos, hindus etc.), seria outro entrave. 

Infelizmente, a COP 30 não será transferida de Belém para Goiânia. Felizmente, também. Cabe à classe política e empresarial cuidar para que, quando houver oportunidade, Goiás estar apto a receber e não passar vergonha. Basta investir. E já, porque o ano que vem está chegando e o autódromo vai voltar a receber o mundial de motociclismo de 2026.

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