Bruna Siqueira, a voz que vem do Centro-Oeste
Da infância musical em Inhumas às composições que circulam entre nomes consagrados, a artista prepara retorno aos palcos
Na última segunda-feira (25), o podcast MandaVê, conduzido por Juan Allaesse, dedicou-se a uma figura que traduz o espírito da nova música brasileira feita a partir do Centro-Oeste: Bruna Siqueira. Natural de Inhumas, a artista cresceu em meio a rodas de viola, timidez vencida com o violão e a certeza de que a música era menos uma escolha e mais uma necessidade. A conversa no estúdio retratou essa carreira que se desdobra em recomeços e que, aos poucos, ocupa o espaço que lhe cabe.
Tudo começou dentro de casa. Bruna cresceu cercada por encontros atravessados pela música, cenário que tinha no pai o seu centro. Ele não era músico profissional, mas cultivava o hábito de tocar violão e cantar com a mesma constância de quem respira. O gosto era vasto: passava pelo samba, alcançava o pagode, se abria ao forró. A mãe costumava dizer que a filha herdara dele mais do que a voz — herdara a naturalidade com que a música se misturava à vida cotidiana. Nas lembranças da infância, uma cena permanece: o pai carregando o violão em viagens, reuniões de família ou simples deslocamentos, pronto para transformar qualquer pausa em canção.
Aos seis anos, Bruna recebeu o primeiro violão, proporcional ao seu tamanho, mas carregado de promessas. O presente era símbolo de um destino traçado antes mesmo que ela pudesse compreender. O encanto, no entanto, durou pouco: antes de uma viagem ao Araguaia, o braço do instrumento quebrou, não resistindo a dois meses de uso. O fim do instrumento não interrompeu a experiência: apenas deslocou a música para outros suportes. Restaram a voz e os improvisos, que ganharam corpo nas batucadas sobre coolers cheios de gelo. Na ausência do violão, o som se espalhava de outras formas.
Na casa da avó, chegou o segundo violão: preto, robusto, presente que se tornaria companheiro inseparável da infância. Não era apenas um objeto, mas um passaporte para um território novo, em que as tardes se dividiam entre cadernos escolares e cordas dedilhadas. Aos oito anos, começaram as aulas formais de música. A timidez persistia, mas bastava encostar nos acordes para que se desfizesse.
Na escola, o pátio virava palco improvisado. Entre recreios e festividades, Bruna se arriscava em pequenas apresentações que revelavam cedo a disposição de enfrentar plateias. Um episódio ficou gravado: quando ainda estava aprendendo os acordes, decidiu tocar uma música. “Eu disse: não, confia, eu sei tocar violão. E toquei a música inteira só no acorde de sol”. O gesto, ao mesmo tempo ingênuo e firme, já anunciava a ousadia que guiaria sua relação com a música. Poucos anos depois, aos doze anos, Bruna atravessou pela primeira vez a porta de um barzinho para cantar diante de uma plateia desconhecida. Na mesma idade, compôs sua primeira música, gesto inaugural de um percurso que já se mostrava sem retorno.
Juan Allaesse conduziu a conversa de forma a destacar o processo de amadurecimento artístico. Aos 16, Bruna mudou-se para Goiânia, decidida a viver de música. Durante seis anos esteve ligada a um escritório artístico, gravando, fazendo shows e se firmando como intérprete. O ciclo, no entanto, se encerrou em 2022. O que parecia pausa transformou-se em virada: longe dos palcos, a artista mergulhou na composição.
No podcast, a artista detalhou como a caneta, antes exercício íntimo, passou a ser profissão. Em parceria com outro compositor, escreveu diariamente, até que as primeiras músicas começaram a circular. Em menos de um ano, foram gravadas por Mari Fernandez, Solange Almeida, Fred & Fabrício, Matheus & Kauan, Rodolfo Lopes, entre outros. A experiência consolidou a transição de cantora para compositora profissional, sem que um papel anulasse o outro.
As referências também ganharam espaço no episódio. Martinho da Vila, Milionário & José Rico, o repertório eclético herdado do pai. Bruna comentou que sempre entendeu a importância das influências para que algo se torne tendência: para ela, a base é o que dá conceito. Essas memórias de formação, aliadas ao hábito de escrever todos os dias, explicam como suas letras ganharam espaço na voz de artistas de diferentes caminhos musicais.
No encerramento do episódio, a narrativa apontou para o futuro. Bruna contou que reserva composições para um lançamento autoral. A escrita das músicas é parte do percurso, mas não o ponto de chegada. O retorno aos palcos aparece como horizonte declarado, agora sustentado por maturidade e repertório acumulado.