Uso indiscriminado de suplementos cresce e preocupa especialistas
Mais da metade dos goianos pratica atividade física regularmente, com isso trouxe o aumento do consumo de suplementos sem prescrição profissional
A população goiana tem se tornado cada vez mais ativa, segundo o inquérito Vigitel do Ministério da Saúde (MS), 55,5% dos moradores do Estado praticam atividade física de forma regular. Um ponto que é consequência de se praticar exercícios físicos é o consumo de suplementos alimentares.
A suplementação em alguns casos é necessária, mas por muitas vezes feita por conta própria, sem nenhum tipo de prescrição médica. Essa tendência preocupa especialistas, especialmente por ser um padrão que vem sendo seguido não apenas na capital goiana, mas sim em todo o País.
A população brasileira tem recorrido à suplementação e ao uso de vitaminas, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto Locomotiva 75% da população faz uso desses produtos. Também de acordo com a pesquisa, apenas 36% da população faz efetivamente o acompanhamento e recomendação médica ou nutricional.
A nutricionista Nayara Rios, pontua que os suplementos podem ter papel importante em determinados casos, entretanto não substituem uma alimentação equilibrada. “Existe uma falsa ideia de que tomar vitaminas e suplementos é sempre positivo, mas o excesso pode ser tão prejudicial quanto a falta. O uso indiscriminado pode levar à sobrecarga hepática, problemas renais e até à interferência na absorção de outros nutrientes”, afirmou.
A profissional destaca que a suplementação em alguns casos pode sim ser benéfica, em situações específicas, desde que venha acompanhada por profissionais da saúde. “Existe uma falsa ideia de que tomar vitaminas e suplementos é sempre positivo, mas o excesso pode ser tão prejudicial quanto a falta. O uso indiscriminado pode levar à sobrecarga hepática, problemas renais e até à interferência na absorção de outros nutrientes”, afirmou.
Ela ainda alerta para o uso frequente, sem orientação, de substâncias populares como whey protein, creatina e multivitamínicos. “Nem tudo que funciona para uma pessoa será adequado para outra. Produtos aparentemente inofensivos podem, na verdade, agravar condições pré-existentes ou causar novos desequilíbrios”, disse.
O alerta também aparece em iniciativas públicas. Uma nova cartilha do Procon de São Paulo, voltada aos riscos da automedicação, traz recomendações específicas sobre suplementos alimentares. O material alerta que o uso desnecessário ou excessivo de substâncias como whey protein, creatina, ômega 3, probióticos, vitaminas e minerais pode causar efeitos adversos, especialmente em crianças, idosos, gestantes, lactantes e pessoas em tratamento de alguma doença.
A cartilha orienta ainda que, antes de iniciar qualquer suplementação, o consumidor deve buscar acompanhamento profissional qualificado. Outro ponto de atenção é a procedência dos produtos: vendedores desconhecidos, principalmente na internet, podem oferecer itens falsificados ou com substâncias proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com o Procon, os rótulos devem obrigatoriamente apresentar a expressão “suplemento alimentar”, informar a finalidade do produto, público a que é destinado, recomendações de consumo, restrições de uso, tabela nutricional, advertências, data de validade, origem, número de lote e a indicação da presença de alergênicos como glúten.
O aumento da procura por suplementos e alimentos funcionais também está remodelando hábitos de consumo e políticas de segurança alimentar em todo o mundo. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), apesar da percepção de que esses produtos são seguros, o uso indiscriminado pode trazer riscos significativos à saúde pública.
A FAO alerta para possíveis interações medicamentosas, contaminação, toxicidade por overdose e reações alérgicas. Compostos antioxidantes como resveratrol e quercetina, por exemplo, podem alterar a eficácia de medicamentos contra câncer, anticoncepcionais, antidepressivos e antidiabéticos. Outro ponto de atenção é a variação na composição, que depende do tipo de planta utilizada, método de extração, condições de cultivo e armazenamento, o que dificulta a avaliação de segurança.
O relatório da agência da ONU também destaca a falta de uniformidade global na regulação. O que em alguns países é considerado suplemento, em outros pode ser classificado como medicamento, como ocorre com a vitamina D e a melatonina. No Brasil, a Anvisa regula a comercialização desses produtos com base na Resolução RDC 243/2018, que define parâmetros de composição, rotulagem e indicações de uso.
A FAO recomenda que os governos mantenham fiscalização rigorosa, promovam rótulos claros e invistam na conscientização dos consumidores sobre o uso seguro dos suplementos. A entidade lembra que, embora esses produtos ganhem espaço em meio ao avanço da nutrição personalizada, sua segurança e qualidade precisam ser garantidas para proteger a saúde pública.
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