Quatro patas e muitos quilos a mais
Estudos mostram que obesidade em cães e gatos cresce no Brasil e já reduz expectativa de vida dos animais
O sobrepeso deixou de ser um problema restrito aos humanos. Hoje, ele late, mia e se arrasta com dificuldade pelas casas brasileiras. Um levantamento da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) indica que 40,5% dos cães avaliados estavam acima do peso ideal e, destes, 14,6% já eram obesos. A epidemia dos quilos extras avança nas coleiras e arranha as estatísticas de saúde animal.
As consequências são graves. A obesidade em cães e gatos provoca inflamação sistêmica e sobrecarga articular, empurrando os bichos para doenças ortopédicas, problemas na coluna, distúrbios metabólicos como o diabetes, além de maior risco de câncer, enfermidades renais e dermatológicas. A ciência é taxativa: animais obesos vivem menos e vivem pior.
O peso do diagnóstico
A responsabilidade pelo diagnóstico é do médico-veterinário. Em alguns casos, o ganho de peso é resultado de doenças endócrinas ou articulares. Mas, na maioria das vezes, o vilão está no prato: tutores oferecem calorias em excesso. Para mensurar o problema, os profissionais usam o Escore de Condição Corporal (ECC), criado em 1997. O método atribui notas de 1 a 9: entre 4 e 5 está o peso ideal, 6 e 7 indicam sobrepeso, 8 e 9 significam obesidade.
A avaliação não depende apenas do olhar, mas também da mão. Palpa-se costelas, base da cauda, tórax e pescoço. Um cão saudável tem costelas facilmente identificáveis ao toque, mas invisíveis ao olhar. Visto de cima, deve exibir uma cintura bem definida. Nos gatos, o acúmulo de gordura abdominal, aquela pelanquinha que tantos tutores acham graciosa, é um sinal de alerta.
Dois anos a menos de vida
O excesso de peso não pesa apenas no corpo. Animais obesos tornam-se mais sonolentos, menos dispostos a brincar, cansam-se com facilidade. A longo prazo, isso significa custos veterinários mais altos e menos anos de companhia. Dados da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA) mostram que cães obesos podem viver até dois anos a menos do que os de peso adequado. Gatos têm risco aumentado de desenvolver lipidose hepática, doença grave ligada ao acúmulo de gordura.
O papel do tutor
A prevenção passa pelo tutor. É dele a tarefa de questionar o veterinário sobre o peso ideal do animal e seguir as orientações. O tratamento exige ajuste na dieta, controle de porções, incentivo a exercícios e acompanhamento clínico. A obesidade, lembram os especialistas, não é detalhe, é doença.
Num país em que a urbanização limita espaços de atividade e a alimentação industrializada se multiplica, cães e gatos refletem o estilo de vida de seus donos. E pagam com anos de vida a mais ou a menos.