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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Convivência

Condomínios: até onde vai o direito de usar áreas de lazer?

Piscina lidera as reclamações, especialista destaca que síndicos só podem aplicar punições com base em provas, regras claras e direito de defesa

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 1 de setembro de 2025
11 abre Divulgacao
Foto: Divulgação

Nos condomínios, as áreas de lazer são motivo de orgulho e atração para novos moradores. Piscina, academia, brinquedoteca, salão de festas e churrasqueira ajudam a valorizar o empreendimento e oferecem qualidade de vida a quem escolhe viver nesse modelo de moradia. No entanto, os mesmos espaços que unem vizinhos também são palco frequente de discussões e desentendimentos.

Festas prolongadas, excesso de convidados, barulho fora do horário permitido e descumprimento das regras do regimento interno estão entre os principais motivos de reclamações. Em situações mais graves, já houve registros de agressões físicas e até processos judiciais envolvendo o uso das áreas comuns. É nesse contexto que surge uma dúvida recorrente: afinal, o condomínio pode proibir um morador de usar os espaços de lazer?

Segundo o advogado Diego Amaral, especialista em Direito Imobiliário, o morador tem direito ao uso das áreas comuns, mas esse direito encontra limites. “Não existe direito absoluto. O condômino pode usar piscina, churrasqueira ou academia, mas precisa respeitar o sossego, a salubridade e a segurança dos demais. Quando há abuso, o condomínio pode aplicar sanções, que vão de advertências a multas e, em situações específicas, à suspensão temporária do uso das áreas”, explica.

Esse entendimento encontra respaldo no Código Civil. O artigo 1.336 obriga o condômino a não prejudicar a coletividade, enquanto o artigo 1.337 prevê punições mais severas para quem insiste em descumprir regras, incluindo a possibilidade de restrição de acesso.

O condomínio não pode agir de forma arbitrária ao restringir o uso das áreas comuns. Para aplicar qualquer medida, é necessário comprovar a infração por meio de registros, testemunhas ou imagens, além de notificar o morador e garantir seu direito de defesa. A punição deve ser proporcional e temporária, sempre fundamentada em regras previstas no regimento interno ou aprovadas em assembleia.

“O que não pode acontecer é o síndico decidir sozinho, sem provas ou sem dar oportunidade de defesa. Isso fere direitos básicos e pode levar o morador a questionar judicialmente a decisão”, acrescenta o advogado.

Piscina é campeã de reclamações

Dados da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC) revelam que 17% das queixas registradas em 2024 envolviam áreas de lazer, sendo a piscina a principal fonte de atritos.

O motivo é simples: trata-se de um espaço coletivo de grande uso, especialmente no verão. Entre os problemas mais comuns estão excesso de visitantes, consumo de bebidas em excesso, uso inadequado de boias ou objetos, som alto e até episódios de violência.

Muitos condomínios limitam a entrada de convidados, exigem reservas prévias ou bloqueiam o acesso quando a lotação máxima é atingida. “A piscina é o espaço que mais exige fiscalização porque, além de tudo, envolve risco à segurança, especialmente das crianças”, destaca Amaral.

Enquanto salões de festas e churrasqueiras foram pensados para receber visitantes e costumam permitir maior flexibilidade, academias e brinquedotecas seguem o caminho oposto. Nesses locais, o acesso costuma ser exclusivo de moradores, justamente para evitar sobrecarga dos equipamentos e problemas de responsabilidade em caso de acidentes.

Já nos parquinhos e piscinas infantis, a regra mais comum é a exigência de que uma criança esteja sempre acompanhada por um responsável. Visitantes podem ter acesso, mas em número limitado e sob supervisão do morador.

Quem é considerado visitante?

Outro ponto polêmico é a definição de quem realmente é visitante. Casos comuns geram discussões: o namorado que frequenta o condomínio diariamente deve ser tratado como morador? E o neto que passa as férias na casa dos avós, pode usar a piscina sem restrições?

Essas situações não têm resposta única. Cada condomínio precisa deliberar em assembleia e deixar claro no regimento interno como tratar esses casos. “A clareza das regras evita constrangimentos e reduz conflitos. O que não está escrito abre margem para interpretações e discussões”, reforça o advogado.

Para evitar abusos e garantir que as medidas tenham validade legal, especialistas orientam que os síndicos mantenham o regimento sempre atualizado, registrem as ocorrências em atas ou notificações, busquem provas sempre que houver irregularidades e acionem assessoria jurídica nos casos em que forem necessárias punições mais severas.

Para os moradores, a principal recomendação é respeitar o espaço coletivo. Cumprir regras e zelar pela boa convivência são atitudes que beneficiam a todos. “As áreas comuns são extensão da casa de cada condômino, mas não deixam de ser coletivas. Usar com responsabilidade é essencial para manter a harmonia”, conclui Amaral.

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