Juventude brasileira antecipa doenças da velhice
Infartos, hipertensão e até osteoporose atingem cada vez mais jovens; estilo de vida urbano acelera desgaste do corpo
O corpo brasileiro envelhece depressa. O que antes parecia exclusividade da terceira idade agora ronda a juventude: infartos, AVCs, hipertensão, diabetes tipo 2. Segundo o Ministério da Saúde, as internações de pessoas com até 39 anos cresceram 59% na última década. O hospital, antes território distante para quem não havia chegado aos quarenta, tornou-se parte da rotina de jovens adultos.
As causas estão entranhadas na vida contemporânea: jornadas de trabalho sem pausa, noites em claro, alimentos ultraprocessados que substituem refeições, poluição e longas horas diante das telas. O corpo reage cedo. Um levantamento do Observa Infância/Fiocruz revelou que, em 2022, o país já triplicava a média global de excesso de peso em crianças de até cinco anos, 14,2% contra 5,6%. A infância, que deveria funcionar como reserva vital, converteu-se em prenúncio de velhice antecipada.
Até doenças neurológicas deslocam fronteiras. O Alzheimer, antes tema distante, já é investigado em adultos na casa dos 40. Casos raros, mas suficientes para indicar que a blindagem da juventude se rompeu. Também a fragilidade óssea se adiantou: pesquisas internacionais apontam aumento de 20% da osteoporose em homens jovens e 45% em mulheres. O déficit de vitamina D, a pressa em evitar o sol e a rotina sedentária corroem os ossos antes dos trinta.
A hipertensão, maior doença crônica do planeta, atinge 30% dos brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão. Entre eles, 5% são crianças e adolescentes, um dado que desmancha a ideia de infância imune ao desgaste. O cenário vai além da estatística: mexe com a própria cultura. A juventude, vendida como sinônimo de potência, hoje se descobre em estado de vigilância permanente, exames de sangue aos vinte, check-ups aos trinta, remédios aos quarenta. O futuro, que deveria chegar devagar, resolveu passar correndo.