Oftalmologista alerta para riscos do uso indiscriminado de colírios
Automedicação pode causar agravamento de doenças oculares e até comprometer a visão, adverte especialista
Os colírios são medicamentos fundamentais no tratamento de diversas condições oftalmológicas, como conjuntivite, olho seco, alergias oculares, infecções e até doenças crônicas, a exemplo do glaucoma. Apesar de sua importância, especialistas reforçam que o uso inadequado e indiscriminado desses produtos pode trazer sérias consequências à saúde ocular. O alerta foi feito pela oftalmologista Rafaella Nakagaki, que destacou os riscos da automedicação, prática comum entre os brasileiros.
Segundo a médica, a facilidade de acesso a esses medicamentos e a crença de que se trata de um produto inofensivo contribuem para o uso equivocado. “As pessoas repetem com os colírios o mesmo hábito da automedicação por via oral. É comum que um paciente utilize o colírio indicado a outra pessoa ou compre por conta própria na farmácia sem saber que aquele medicamento pode ser um antibiótico, um corticoide ou um anti-inflamatório com potenciais efeitos colaterais graves”, afirmou Rafaella Nakagaki.
No entanto, mesmo os colírios lubrificantes, que em geral apresentam risco reduzido, devem ser usados com orientação médica em situações de uso frequente ou prolongado. Isso porque a persistência de sintomas de irritação ou vermelhidão pode indicar doenças mais sérias, que exigem acompanhamento profissional.
Riscos da automedicação
De acordo com Rafaella Nakagaki, a automedicação com colírios pode trazer danos irreversíveis. “Alguns colírios causam aumento da pressão ocular, o que pode resultar em glaucoma induzido pelo medicamento. Outros, quando utilizados sem necessidade, podem provocar lesão na córnea, caracterizada pela perda de células da camada epitelial, deixando o olho mais vulnerável e dolorido”, explicou a oftalmologista.
Outro risco citado é o mascaramento de sintomas. Ao usar colírios com corticoides ou anti-inflamatórios, o paciente pode ter uma melhora momentânea na vermelhidão ou desconforto, mas a doença de base, como uma infecção bacteriana ou viral, continua evoluindo. Isso atrasa o diagnóstico correto e pode agravar o quadro.
Casos comuns em consultório
Rafaella Nakagaki afirma que é comum atender pacientes que usaram colírios por conta própria e apresentaram complicações. Entre os exemplos mais recorrentes estão os casos de conjuntivite tratados de forma equivocada. Muitas pessoas recorrem a colírios antibióticos sem saber se a causa é viral, bacteriana ou alérgica, o que pode não apenas ser ineficaz, mas também gerar resistência bacteriana.
Outro cenário frequente envolve o uso indiscriminado de corticoides. Apesar de muito eficazes em situações específicas, esses medicamentos podem aumentar a pressão intraocular e desencadear crises de glaucoma, além de favorecer infecções oportunistas. “O paciente pode acreditar que está tratando um problema simples, mas na verdade está abrindo caminho para uma complicação ainda mais grave”, alertou.
Prevenção e cuidados necessários
O primeiro passo para evitar complicações é buscar atendimento médico ao identificar sintomas oculares persistentes, como vermelhidão, dor, secreção, visão embaçada ou sensibilidade à luz. O especialista é o profissional capacitado para indicar o colírio correto, na dosagem adequada e pelo tempo necessário.
Outro cuidado essencial é verificar a validade e a forma de armazenamento dos colírios. A maioria deles deve ser mantida em locais frescos, e alguns precisam de refrigeração. Após aberto, o frasco geralmente tem prazo curto de utilização, variando entre 15 e 30 dias. O uso após esse período aumenta o risco de contaminação e perda da eficácia.
A importância do acompanhamento regular
Os olhos são órgãos sensíveis, e pequenas alterações podem indicar o início de problemas mais sérios. Por isso, consultas regulares ao olhos são fundamentais, especialmente para pessoas com histórico de doenças oculares na família, como glaucoma e catarata, ou para quem já apresentou quadros recorrentes de irritação, olho seco ou alergias.
O acompanhamento médico também é essencial para pacientes que fazem uso contínuo de colírios, como os portadores de glaucoma. Nesses casos, apenas o especialista pode avaliar a eficácia do tratamento, monitorar possíveis efeitos colaterais e ajustar a prescrição quando necessário.
Conscientização e responsabilidade
A automedicação é um hábito cultural no Brasil, e quando envolve medicamentos oftalmológicos, pode ter impacto direto na visão. A orientação de Rafaella Nakagaki é clara: nunca utilizar colírios sem prescrição médica. “O que parece ser um simples desconforto pode, na verdade, sinalizar doenças que precisam de tratamento específico. O cuidado com os olhos deve ser sempre levado a sério”, enfatizou.
A conscientização sobre os riscos e a informação correta são ferramentas essenciais para reduzir o uso inadequado de colírios. A saúde ocular depende não apenas do acesso a medicamentos, mas do uso responsável e orientado por profissionais capacitados.