Setembro Amarelo reforça a importância da saúde mental dos idosos
Especialistas apontam que a população idosa está entre os grupos mais vulneráveis
O Hospital Estadual de Dermatologia Sanitária Colônia Santa Marta (HDS) chama a atenção para a saúde mental dos idosos durante o Setembro Amarelo, campanha nacional dedicada à prevenção do suicídio. Embora o tema costume ser mais associado aos jovens, especialistas destacam que os mais velhos também enfrentam quadros silenciosos de depressão e ansiedade, agravados por fatores como perdas, isolamento social e mudanças de saúde.
A gerente médica e geriatra Marina Moreira explica que envelhecer traz ganhos, mas também desafios emocionais. Ela ressalta que perdas, isolamento social e doenças crônicas podem impactar diretamente o bem-estar psíquico. “É comum que muitos idosos acreditem que sentir tristeza faz parte natural do envelhecimento, mas esse é um mito que precisa ser desconstruído. Envelhecer com qualidade envolve cuidar do corpo e também da mente”, afirma.
No HDS, as ações de acolhimento e acompanhamento multiprofissional buscam oferecer atenção integral à pessoa idosa. A instituição destaca a importância da escuta, da convivência social e do acesso a atividades que preservem vínculos e tragam sentido à vida. O apoio das famílias e da comunidade é apontado como elemento central para a prevenção do adoecimento emocional.
Setembro Amarelo
Criada em 2015, a campanha Setembro Amarelo busca conscientizar sobre a valorização da vida e a prevenção do suicídio. De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 14 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos no Brasil, o que equivale a uma média de 38 mortes por dia. Apesar de a juventude ser frequentemente o foco das discussões, os números mostram que a população idosa também se encontra entre os grupos mais vulneráveis.
Na terceira idade, fatores como luto, aposentadoria, perda de autonomia física e ausência de rede de apoio podem desencadear ou intensificar sintomas de depressão. Esses sinais muitas vezes passam despercebidos por familiares e até por profissionais de saúde, já que costumam ser confundidos com consequências naturais do envelhecimento.
Envelhecimento e saúde emocional
O psicólogo Guilherme Rocha, especialista em psicogerontologia, reforça que é fundamental compreender as especificidades emocionais da velhice. Ele explica que a psicogerontologia é a área da psicologia dedicada ao envelhecimento, atuando na promoção de saúde mental e no enfrentamento dos desafios típicos dessa fase.
“Na terceira idade, o indivíduo pode se deparar com situações de luto, solidão, doenças crônicas e mudanças no papel social, como a saída do mercado de trabalho. Essas transformações impactam diretamente a autoestima e a sensação de pertencimento. Por isso, oferecer apoio psicológico é essencial para garantir qualidade de vida e bem-estar”, explica Rocha.
Segundo o especialista, uma das maiores dificuldades é a crença de que o sofrimento emocional faz parte do envelhecer. “Muitos idosos deixam de buscar ajuda por acreditar que tristeza, angústia ou desânimo são naturais da idade. Esse pensamento é perigoso porque impede o diagnóstico precoce e a possibilidade de tratamento adequado”, alerta.
O papel da família e da comunidade
Um ponto central na prevenção do adoecimento mental dos idosos é o fortalecimento da rede de apoio. Guilherme Rocha destaca que a participação da família é decisiva, mas a comunidade também deve se engajar em criar espaços de convivência e inclusão.
“Quando o idoso é ouvido, valorizado e convidado a participar de atividades sociais, ele se sente parte de algo maior. Esse vínculo social contribui para a autoestima, diminui a solidão e reduz os riscos de depressão”, afirma.
Ele acrescenta que iniciativas como grupos de convivência, oficinas culturais, práticas esportivas adaptadas e encontros intergeracionais podem trazer resultados significativos. “A convivência com pessoas de diferentes idades fortalece a troca de experiências e cria um ambiente de aprendizado contínuo, no qual o idoso também se sente valorizado.”
Sinais de alerta
Segundo Rocha, a identificação precoce de sinais de sofrimento emocional pode salvar vidas. Entre os principais indícios estão mudanças bruscas de humor, isolamento, perda de interesse em atividades antes prazerosas, insônia, alterações no apetite e falas relacionadas à desesperança.
“O diálogo é a principal ferramenta. Muitas vezes, a família percebe alterações no comportamento, mas evita tocar no assunto por medo de piorar a situação. O contrário é verdadeiro: falar sobre sentimentos abre caminho para a escuta e para o acolhimento”, reforça o psicólogo.
Ele lembra que procurar um psicólogo ou psiquiatra é um passo fundamental quando os sinais se intensificam. Além disso, serviços públicos de saúde oferecem atendimento gratuito, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que contam com equipes multiprofissionais.
Políticas públicas e inclusão social
Especialistas consideram o fortalecimento de políticas públicas voltadas para o envelhecimento saudável uma peça-chave na promoção da saúde mental dos idosos. Para Guilherme Rocha, a sociedade ainda precisa percorrer um longo caminho nesse sentido.
“Precisamos de políticas que incentivem a participação social do idoso, garantam acesso a serviços de saúde mental e combatam o preconceito relacionado à idade. A sociedade precisa enxergar o envelhecimento como uma fase produtiva, na qual é possível construir novas histórias e manter projetos de vida”, defende.
A criação de centros de convivência, a ampliação do acesso a atividades culturais e a promoção de campanhas de conscientização específicas para a terceira idade estão entre as medidas sugeridas por especialistas.
Reflexão coletiva
O Setembro Amarelo se consolida como um momento de reflexão coletiva sobre a valorização da vida. Para os idosos, essa data representa também a chance de quebrar estigmas e ampliar o diálogo sobre saúde mental.
“Precisamos falar sobre o tema sem tabus. O idoso tem direito a envelhecer com dignidade, bem-estar emocional e qualidade de vida. Cada história de vida merece ser respeitada e acolhida. Esse é o verdadeiro sentido da campanha: promover cuidado, escuta e valorização em todas as fases da existência”, conclui Guilherme Rocha.