Seca histórica e queimadas colocam Goiás em risco crítico
Estado já soma mais de 130 dias sem chuvas, registra queda nos níveis dos principais rios e enfrenta aumento dos incêndios florestais, apesar da redução em relação a 2024
Goiás enfrenta uma das secas mais prolongadas dos últimos anos. O boletim emitido pelo Centro de Informações Hidrológicas, Meteorológicas e Geológicas de Goiás (Cimehgo) classifica o Estado em “risco crítico” de incêndios, situação agravada pelo chamado fator 30-30-30: temperaturas acima de 30°C, umidade relativa do ar abaixo de 30% e ventos que favorecem a propagação das chamas.
O cenário contribuiu para o aumento das queimadas. Apenas em agosto, Goiás registrou a destruição de 125.693 hectares, o equivalente a cerca de 176 campos de futebol. Segundo o Monitor do Fogo do MapBiomas, o Estado ocupa a 5ª posição no ranking nacional de áreas mais atingidas, ficando atrás de Tocantins, Mato Grosso e Maranhão.
No acumulado de janeiro a agosto de 2025, o Brasil já registrou 4.233.191 hectares queimados. Apesar do número elevado, houve uma redução de 66% em relação ao mesmo período do ano passado, quando mais de 12 milhões de hectares foram devastados. O Cerrado foi o bioma mais afetado em agosto, com 1.272.321 hectares perdidos, embora o número represente queda de 47% na comparação com 2024.
O gerente do Cimehgo, André Amorim, avaliou o cenário das queimadas no Estado e destacou tanto avanços quanto preocupações. “Apesar da destruição de mais de 125 mil hectares em agosto, Goiás aparece atrás de Estados como Tocantins, Mato Grosso, Maranhão e Piauí, que tiveram áreas queimadas muito superiores. Tocantins, por exemplo, passou de 400 mil hectares. Isso mostra que temos conseguido minimizar os efeitos, com monitoramento constante e uso de aplicativos que ajudam na redução das áreas atingidas”, explicou.
Segundo Amorim, o problema central continua sendo a ação humana. “O nosso período de estiagem favorece as queimadas porque a vegetação está seca, a umidade está baixa e há muito material combustível. Mas elas não acontecem de forma natural. É a pessoa que risca um fósforo ou acende um isqueiro e o fogo rapidamente sai do controle. Falta consciência. É lamentável ver a população insistindo em práticas que já estão proibidas”, afirmou.
Ele também chamou atenção para a qualidade do ar. “Esse céu acinzentado em Goiânia vem das queimadas. A fumaça se dispersa rapidamente e compromete a saúde da população. Por isso pedimos, encarecidamente, que as pessoas evitem o uso do fogo em qualquer atividade”, alertou.
O gerente ressaltou ainda a importância da preservação do Cerrado. “O Cerrado é o berço das águas do Brasil. Se não cuidarmos dele, vamos enfrentar secas ainda mais severas no futuro. É possível plantar, produzir, ter lavouras, mas é preciso preservar. O uso racional da água e o respeito ao meio ambiente são essenciais”, defendeu.
Sobre o debate climático, Amorim foi cauteloso. “O que observamos é uma variabilidade: alguns anos mais secos, outros mais úmidos. Estamos em um ciclo de seca mais severa, com menos chuvas e menor recarga dos rios. Mas não podemos esquecer que a maior parte dos focos vem do ser humano. Por isso, a preservação do ar, da água e do meio ambiente como um todo é uma responsabilidade coletiva”, concluiu.
O boletim do Cimehgo indica que rios importantes, como o Meia Ponte, em Goiânia e Itumbiara, estão em nível crítico, abaixo da mediana histórica. Araguaia, em Aruanã e Nova Crixás, apresenta trechos próximos do mínimo registrado, e o Rio Verde (Verdão), em Paraúna, atinge o nível mais baixo já observado para o período.
O maior incêndio florestal do País
Após 33 dias de combate ininterrupto, o Corpo de Bombeiros de Goiás, em parceria com a Semad, ICMBio, Prevfogo/IBAMA e a Brigada Aliança, conseguiu controlar e extinguir o incêndio que atingia as regiões de Nova Roma e Monte Alegre. Considerado o maior incêndio florestal ativo do Brasil em 2025, o fogo começou em quatro focos distintos, espalhando-se por relevo acidentado e áreas de difícil acesso.
Pelo menos 50 bombeiros especializados participaram da operação, atuando em turnos com apoio aéreo, drones, brigadas parceiras e suporte das comunidades locais. Um dos momentos mais críticos ocorreu próximo às rodovias GO-241 e GO-112, onde as equipes conseguiram evitar que as chamas cruzassem as vias e colocassem novas comunidades em risco.
O êxito da operação só foi possível graças à união entre poder público, brigadistas e moradores, que forneceram apoio logístico, alimentação, hidratação e informações sobre o terreno mostrando que, diante da força da natureza, a resposta coletiva é decisiva para conter a tragédia.
Clima exige cuidados extras para proteger a saúde respiratória
Com índices de umidade relativa do ar frequentemente abaixo dos 60% recomendados pela OMS. Em Goiás, entre maio e setembro, é comum que os registros fiquem entre 30% e 20%, podendo chegar a níveis de alerta em dias mais críticos. Essa condição exige atenção redobrada da população, sobretudo com os cuidados relacionados à saúde respiratória.
Segundo o médico Nirley Arataque, a baixa umidade do ar reduz a lubrificação natural das mucosas e causa ressecamento. “Isso faz com que as vias aéreas superiores se tornem mais vulneráveis a doenças”, explica.
Entre os sintomas que devem servir de alerta para procurar atendimento médico, o especialista cita: “irritação e sensação de sequidão nos olhos, cansaço, sangramento nasal, tosse seca, desconforto ao falar e aumento da frequência de doenças respiratórias. Para crianças e idosos é preciso atenção especial”.
Ele destaca que os extremos da vida exigem cuidados extras. “As crianças têm um sistema imunológico em desenvolvimento, e os idosos apresentam resposta imunológica diminuída. Por motivos diferentes, essas faixas etárias são mais vulneráveis”, alerta.
Para aliviar os efeitos do tempo seco, Nirley recomenda medidas simples no dia a dia: “É preciso procurar hidratar-se, beber bastante água, usar hidratantes, manter a casa limpa e arejada, usar umidificador, toalhas molhadas, bacias com água e fazer lavagem nasal com solução apropriada”.
Sobre o uso de soro fisiológico diariamente para limpar as vias nasais, ele é categórico: “Super recomendo hidratar diariamente as mucosas com soro. Isso evita o ressecamento e, consequentemente, os processos inflamatórios e infecciosos”.
Já quem convive com condições crônicas, como asma, rinite e bronquite, deve ter ainda mais cautela. “Pacientes com doenças respiratórias precisam redobrar os cuidados em períodos de baixa umidade e altas temperaturas. Isso inclui alimentação adequada, hidratação constante e manutenção do ambiente limpo e levemente úmido”, conclui.