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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
mau hálito

Halitose atinge milhões de brasileiros e ainda é tratada como piada

Ações educativas querem transformar o tema de motivo de vergonha em pauta de saúde, prevenção e acolhimento nos consultórios

Luana Avelarpor Luana Avelar em 24 de setembro de 2025
16 MATERIA CREDITOS FreePik
Foto: FreePik

A cena é recorrente: alguém percebe o hálito alterado de outra pessoa, mas prefere o silêncio constrangido ou a piada disfarçada. Para os especialistas, essa reação ilustra um problema que vai muito além do incômodo momentâneo. Estima-se que mais de 30% da população brasileira conviva com o mau hálito, condição médica conhecida como halitose. Apesar da prevalência, o tema segue relegado ao campo do constrangimento social, tratado como falha de higiene pessoal ou mero detalhe estético.

Entre 22 de setembro e 25 de outubro, a Campanha Nacional de Combate ao Mau Hálito 2025, promovida pela Associação Brasileira de Halitose (ABHA), pretende virar essa chave. A proposta é transformar tabu em cuidado, empatia e informação, aproximando pacientes de profissionais habilitados para diagnóstico e tratamento.

“Ao contrário do que muitos pensam, há tratamento, há solução e há acolhimento”, afirma a cirurgiã-dentista associada da ABHA, Karyne Magalhães, que acompanha de perto o impacto do problema em consultórios odontológicos. Segundo ela, o primeiro obstáculo é a falta de informação. “As pessoas desconhecem que estão passando pela alteração ou não sabem a qual profissional recorrer. Além disso, parece ser mais fácil falar do hálito dos outros do que comunicar que estão percebendo o hálito alterado de alguém”.

Causas e mitos

A halitose pode ter origens variadas, mas a saburra lingual é apontada como a principal causa. Trata-se de uma camada esbranquiçada que se forma sobre a língua e pode estar associada a doenças periodontais, disfunções salivares, infecções bucais e dificuldade de limpeza adequada. Karyne acrescenta que o problema também pode se relacionar a doenças das vias aéreas superiores, como rinite, sinusite e gotejamento pós-nasal, além de condições metabólicas ou neoplasias.

“Sim, o mau hálito pode indicar câncer, diabetes, doenças renais e hepáticas”, alerta a especialista, ao rebater outro mito frequente: a crença de que a halitose tem origem no estômago ou é sempre consequência de má higiene.

Impactos invisíveis

As consequências, embora pouco faladas, são profundas. “Isolamento social, depressão, baixa autoestima, perda de oportunidades na vida profissional e até perda do emprego”, enumera a especialista. Em muitos casos, pacientes chegam ao consultório relatando que evitam falar em público ou expor ideias para não se expor ao constrangimento. “É muito comum escutar: ‘Dra., eu não abro a boca mesmo tendo excelentes ideias, perco oportunidades, poderia estar muito melhor do que estou hoje’”. 

Da clínica à política pública

A ABHA tem insistido na necessidade de trazer o debate para a esfera das políticas públicas. Para Karyne, a dificuldade é que a halitose não é reconhecida como especialidade nem da odontologia nem da medicina. “É necessário que o Conselho Federal de Odontologia reconheça que a halitose tem origem, em mais de 90% dos casos, na cavidade bucal. Assim, é importante que a halitose se torne uma habilitação ou especialidade da odontologia para que políticas públicas eficazes possam ser aplicadas”.

Superando o constrangimento

A Campanha Nacional de Combate ao Mau Hálito não se limita à divulgação de dados. A cada edição, a iniciativa aposta em ações de orientação, rodas de conversa e esclarecimento de dúvidas em consultórios. “O objetivo é alertar a população, mostrar soluções, auxiliar a comunicação entre as pessoas que percebem que alguém do convívio está passando por isso e desmistificar ideias equivocadas”, resume Karyne.

Ao deslocar o mau hálito do campo da vergonha para o da saúde, a campanha busca abrir espaço para um diálogo mais honesto e solidário. Afinal, se milhões de brasileiros convivem com o problema, a solução passa tanto pelo atendimento clínico quanto pela superação do constrangimento social.

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