Dosimetria de penas é rejeitada por deputados, mas gera expectativa quanto ao Supremo
Ao mesmo tempo em que sanções dos EUA atingem até família de Moraes, parlamentares afirmam aceitação de redução de penas pelo ministro
Foi por água à baixo o projeto original de anistia aos condenados pela tentativa de golpe de Estado que ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023. Agora, o destaque será para a chamada dosimetria de penas que tem o objetivo de ganhar apoio da base e da oposição na Câmara, mas na realidade o que acontece é a rejeição do texto, principalmente por parte da extrema-direita. O deputado federal e relator do novo texto, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), tem feito um malabarismo para fazer com que o projeto seja bem aceito pelos parlamentares e tenta redução de até 11 anos nas penas de condenados pelos atos antidemocráticos, ação essa essa que beneficiaria até o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.
“Na reunião com o deputado Paulinho da Força ficou claro que a oposição não concorda com a chamada dosimetria. O que defendemos é votar uma anistia ampla. O Brasil já fez quase 50 anistias em sua história”, ressalta o deputado Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara. O parlamentar faz um comparativo da aplicação da anistia a militares que cometeram crimes durante a ditadura militar que ocorreu no Brasil entre 1964 a 1985 com a tentativa de implementação do projeto que perdoa os envolvidos na tentativa de golpe em 2023. “Se o país foi capaz de anistiar, em 1979, tanto agentes do regime militar que cometeram crimes quanto revolucionários de esquerda que sequestraram, mataram e roubaram para tentar implantar o comunismo, por que agora não anistiar pessoas inocentes, que não participaram de um golpe de Estado? Quando muito, se envolveram em atos de depredação”, destacou.
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Decisão autônoma ou recuo aos EUA?
Uma vez que o projeto que tem como relator Paulinho da Força não estabelece aceitação nem na própria Casa, espera-se que o mesmo ocorra no Supremo Tribunal Federal (STF), tendo em vista que os magistrados já afirmaram o caráter inconstitucional da proposta original. Porém, a redução de penas que, por consequência, acaba com a ideia de anistia ampla, geral e irrestrita tem seduzido a Corte e gerado expectativa de concordância do ministro Alexandre de Moraes. Cabe destacar ataques recentes dos Estados Unidos contra a esposa de Moraes, Viviane Barci de Moraes, que foi punida com a Lei Magnitsky. Há questionamentos que indicam o uso político da legislação pelo presidente estadunidense Donald Trump, mas a justificativa é que Viviane estaria ligada a uma empresa familiar que teria se beneficiado das ações atribuídas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e, segundo o governo norte-americano, isso pode ser considerado violações de direitos humanos.
Observa-se, também, que a decisão do STF de condenar os envolvidos no 8 de janeiro provocou forte reação do governo norte-americano, que passou a acusar o magistrado de perseguição política contra Bolsonaro, aliado ideológico do presidente Trump. O analista político Pedro Célio comenta sobre o quão o projeto de anistia passou por mudanças e destaca o desuso do nome anistia que foi substituído por dosimetria de penas, o que deixa explícito a inexistência do projeto original que objetivava perdoar todos os participantes e responsáveis pelos atos do 8 de janeiro. “Esse projeto da anistia andou como se fosse um gêmeo siamês com a PEC da Blindagem. Criou-se um clima contrário a essa emenda da impunidade e a anistia foi junto, as duas palavras de ordem eram inseparáveis nas manifestações do último domingo (21). Hoje, o tema da anistia já não é mais da anistia ampla, geral e irrestrita como, supostamente, ele foi votado na Câmara”, pontua o estudioso em política ao O HOJE.