A vida quadrada e os 15 anos de um feed infinito
Rede social criada para filtros vintage virou vitrine planetária, com 3 bilhões de usuários mensais e uma linha do tempo que já não cabe na tela
Em outubro de 2010, um aplicativo recém-lançado permitia que qualquer foto de cappuccino, pôr do sol ou pé descalço na areia ganhasse ares de obra de arte. O segredo estava nos filtros vintage com nomes curiosos como X-Pro II ou Valencia. Chamava-se Instagram, tinha nascido em São Francisco e, à primeira vista, parecia apenas mais uma plataforma entre tantas. Quinze anos depois, transformou-se em uma das maiores arenas digitais da história — com mais de 3 bilhões de usuários mensais, uma cifra que rivaliza com o número de pessoas conectadas à internet no planeta.
O percurso até aqui foi rápido e voraz. Em 2012, o Facebook comprou a startup por US$ 1 bilhão, num gesto que parecia desproporcional para um app de fotos quadradas. Dois anos depois, já eram 300 milhões de usuários. Em 2016, o lançamento dos Stories copiou e, ao mesmo tempo, sepultou a primazia do Snapchat, consolidando o hábito de postar fragmentos de vida que somem em 24 horas.
O Instagram não só sobreviveu à avalanche digital dos anos 2010 como ditou novos comportamentos. A invenção dos Reels, em 2020, foi resposta direta ao avanço do TikTok e hoje responde por metade do tempo gasto dentro do aplicativo. São mais de 4,5 bilhões de compartilhamentos diários — um fluxo ininterrupto de coreografias, tutoriais, tretas e memes.
A cada nova função, o app se reinventa e se impõe. DMs, carrosséis, close friends, curtidas em Stories, Threads, Meta AI, contas para adolescentes e agora o Edits e o Rposts.
Por trás das novidades, permanece a mesma promessa inicial: dar a todos a chance de ser vistos. O Instagram se vende como casa da criatividade e da conexão. Mas a linha que separa o espontâneo do ensaiado, o autêntico do fabricado, rareou tanto quanto as bordas brancas que cercavam as fotos nos primeiros dias.
Entre filtros, métricas e algoritmos, a rede social que começou quadrada moldou-se em espelho infinito. E, a cada scroll, confirma que sua maior invenção não foi a fotografia, mas a capacidade de transformar a vida cotidiana em espetáculo.