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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
flup

A escrevivência atravessa o Atlântico

Conceição Evaristo e a Flup levam literatura afro-diaspórica para Leeds e Berlim

Luana Avelarpor Luana Avelar em 13 de outubro de 2025
escrevivência
Foto: Lucas Seixas

A Festa Literária das Periferias (Flup), que nasceu nas favelas do Rio de Janeiro em 2012, atravessou fronteiras neste mês. Depois de mais de uma década projetando vozes da margem para o centro do debate cultural brasileiro, o festival desembarcou em Leeds, no Reino Unido, e segue agora para Berlim, na Alemanha. A programação integra dois encontros dedicados à literatura afro-diaspórica e reforça a dimensão internacional de um movimento literário que tem a escrevivência como eixo.

Em Leeds, a Flup participou do festival Out of Maxny, em parceria com o recém-criado National Poetry Center, dirigido por Nick Barley, ex-Edinburgh Book Festival. A escritora Conceição Evaristo, referência da literatura negra brasileira, foi homenageada ao lado de nomes como Linton Kwesi Johnson, Roger Robinson e Malika Booker, expoentes da poesia afro-caribenha britânica. O evento também anunciou a tradução para o inglês dos livros Becos da Memória e Canção para Ninar Menino Grande, prevista para 2026.

“É a minha literatura que me trouxe aqui”

Durante o primeiro dia de atividades, Evaristo refletiu sobre a experiência de ser homenageada em território europeu. “Eu, menina, jamais poderia pensar em vir à Europa. Agora, o vislumbre se dá por eu pensar que é a minha literatura que me trouxe aqui. Uma literatura profundamente marcada pela minha condição de mulher negra”, afirmou.

A autora destacou não ter aberto mão de sua identidade na construção de sua obra e criticou a história colonial do continente: “Toda essa riqueza da Europa foi construída em cima da exploração. Que nos aguentem. A Europa tem de nos aguentar”.

Da favela ao centro europeu

Além de Evaristo, a delegação da Flup incluiu as escritoras Leda Maria Martins e Eliana Alves Cruz, e a jornalista Andreia Coutinho Louback, que documenta a viagem em reportagens, vídeos e análises. A próxima etapa acontece em Berlim, no festival Middle Ground: Interactions – Transitions and Reciprocities, onde Evaristo fará a conferência de abertura intitulada Escrevivência: mastigando silêncios da História e da Memória, ao lado de Cruz e de Julio Ludemir, diretor-fundador da Flup.

Para Ludemir, a escolha de Leeds como primeiro palco é estratégica. A cidade abriga uma das maiores comunidades jamaicanas do Reino Unido, núcleo importante da cultura afro-caribenha. “Fazer o evento nesse território é um gesto político. É reconhecer que a arte e a memória da diáspora estão cada vez mais presentes na literatura britânica contemporânea”, afirmou.

A presença da Flup na Europa desloca o eixo da produção literária ao inscrever a escrevivência em um circuito historicamente marcado pelo colonialismo. Ao ocupar Leeds e Berlim, o festival conecta a experiência das favelas brasileiras às vozes da diáspora africana, não como apêndice, mas como centro de enunciação. O gesto reafirma que a literatura negra, forjada na resistência e na memória, não se limita a registrar desigualdades: ela reivindica pertencimento e altera as coordenadas do mapa cultural.

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Conceição Evaristo, referência da literatura brasileira, em evento da Flup no Reino Unido. Foto: Instagram

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