A cantora Gaby Amarantos, de 47 anos, revelou recentemente que recorreu ao ‘enema’, popularmente conhecido como lavagem intestinal como parte de seu processo de emagrecimento. Segundo ela, a prática fez com que ela eliminasse 14 quilos. A declaração, durante entrevista ao programa “De Frente com Blogueirinha”, repercutiu nas redes sociais e em veículos de imprensa, reacendeu o debate sobre o procedimento fora de contextos médicos. Embora seja apresentado por alguns como um método de “desintoxicação” ou “limpeza do organismo”, especialistas alertam que a prática pode trazer sérios riscos à saúde quando realizada de forma inadequada.

O coloproctologista Danilo Munhóz explica que o enema é um procedimento legítimo, utilizado pela medicina em situações específicas, mas que vem sendo explorado de forma incorreta por quem busca emagrecer ou se livrar de supostas toxinas. “O enema, também conhecido como lavagem intestinal, é um procedimento em que se introduz líquido pelo reto com o objetivo de esvaziar o intestino grosso. Embora seja um recurso utilizado pela medicina em situações específicas — como na preparação para exames, cirurgias ou para aliviar casos graves de prisão de ventre —, ele vem sendo cada vez mais explorado de forma inadequada por quem busca ‘desintoxicar o organismo’ ou até emagrecer rapidamente”, explica o médico.

Segundo Munhóz, o grande problema está justamente no uso fora do ambiente médico e sem orientação adequada. “O problema é que, fora do ambiente médico e sem orientação adequada, o enema pode trazer riscos sérios. O uso frequente ou exagerado desse tipo de lavagem pode causar desequilíbrio de minerais no corpo, desidratação, irritações na mucosa intestinal, alterações na flora de bactérias boas do intestino e, em casos extremos, até perfuração do reto. Isso sem falar na falsa ideia de que ‘limpa o corpo’: o organismo humano já possui um sistema natural e eficiente de eliminação de toxinas, que não depende desse tipo de procedimento.”

Popularização do enema

A popularização do enema, muitas vezes associada a promessas estéticas e de bem-estar, preocupa profissionais de saúde. Em redes sociais e vídeos de influenciadores, o enema é frequentemente mencionado como uma forma rápida de “fazer uma faxina no corpo”, “melhorar a digestão” ou “eliminar o inchaço abdominal”. Essas narrativas, no entanto, não têm respaldo científico.
“Por isso, alertamos: o enema não é um método para emagrecer nem para ‘fazer faxina’ no corpo. Ele deve ser feito apenas sob indicação médica, com técnica adequada e por um motivo real de saúde”, reforça o coloproctologista.

Além de representar um risco físico, o uso indevido do enema pode criar uma falsa sensação de controle corporal e alimentar a ideia de que é possível “resetar” o organismo com intervenções pontuais. A medicina, porém, alerta que o equilíbrio intestinal é construído ao longo do tempo, por meio de hábitos consistentes de saúde.
“Quem busca cuidar do intestino de forma segura deve focar em bons hábitos — como alimentação rica em fibras, consumo regular de água e prática de atividade física — e procurar um profissional caso haja sintomas como constipação persistente ou desconforto abdominal. Cuidar do intestino, sim. Mas com responsabilidade”, conclui Munhóz.

Enquanto celebridades e influenciadores continuam a promover técnicas de “limpeza interna”, médicos e nutricionistas reforçam a importância de avaliar criticamente as modas do bem-estar. O corpo humano, afirmam, é um sistema complexo, e intervenções sem supervisão médica podem trazer mais prejuízos do que benefícios.

Mais do que buscar soluções imediatas para o emagrecimento, especialistas recomendam educação em saúde e autocuidado como caminhos reais para o bem-estar. O intestino, considerado por muitos o “segundo cérebro” do corpo humano, desempenha funções essenciais na imunidade e na absorção de nutrientes — e deve ser tratado com o respeito e o acompanhamento que merece.

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