Chefes do CV criaram aplicativo para ordenar torturas e escalas de segurança no Rio de Janeiro
Investigações revelam que líderes do CV definiam punições, execuções e até escolta de traficantes por aplicativos
As investigações que deram origem à megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, revelaram um esquema macabro de controle e violência imposto pelo Comando Vermelho (CV). De acordo com a Polícia Civil e o Ministério Público, os chefes da facção utilizavam grupos em aplicativos de mensagens para determinar torturas, execuções e escalas de seguranças armados que atuavam nos pontos de tráfico e na escolta de líderes criminosos.
Entre os principais nomes investigados estão Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, apontado como um dos chefes do tráfico na região, e Juan Breno Ramos, o BMW, responsável por aplicar as punições decididas pela cúpula da facção. As ordens, segundo os investigadores, incluíam agressões, torturas e homicídios de moradores e rivais que desrespeitassem as normas impostas pelo grupo.
Membros do CV ordenava as torturas por mensagens
As mensagens interceptadas mostram a frieza com que os crimes eram conduzidos. Em uma delas, BMW descreve, em tom de deboche, o castigo imposto a Aldenir Martins do Monte Junior, morador que teria sido arrastado algemado e amordaçado por sete minutos pelas ruas da comunidade. Durante a tortura, a vítima foi obrigada a delatar membros de uma quadrilha rival, enquanto BMW fazia uma chamada de vídeo com outro traficante, Carlos Costa Neves, o Gadernal. Aldenir está desaparecido, e a polícia acredita que tenha sido morto.
Outra prática cruel revelada nas conversas entre os membros do CV é a punição de mulheres em bailes funk, colocadas em galões de gelo como forma de castigo por desavenças com integrantes da facção.

Os criminosos também usavam os grupos de mensagens para organizar escalas de seguranças de Doca, indicando quem o acompanharia nas ruas. Em uma das comunicações, o traficante é informado de que teria seis homens armados em sua proteção no dia seguinte.
Doca, BMW e Gadernal já haviam sido denunciados pelo Ministério Público pelos assassinatos de três médicos na Barra da Tijuca, em 2023. Segundo a polícia, Doca acumula 269 anotações criminais e 26 mandados de prisão e é considerado o principal responsável pela expansão do Comando Vermelho (CV) em diferentes bairros do Rio. Ele conseguiu escapar do cerco policial durante a operação “Contenção” e segue foragido.
A operação contra o CV, deflagrada na terça-feira (28), é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, com 64 mortos e 81 presos até a tarde do mesmo dia. As forças de segurança seguem atuando na busca pelos líderes fugitivos e na tentativa de enfraquecer a estrutura de comando do tráfico na região.