Intoxicação medicamentosa: entenda a doença que levou o músico Lô Borges à morte
Especialista explica como o uso incorreto de remédios pode causar danos graves ao fígado, rins e sistema nervoso
O cantor e compositor Lô Borges, de 73 anos, morreu neste domingo (2), em Belo Horizonte (MG), em decorrência de uma intoxicação medicamentosa. O músico, um dos fundadores do movimento Clube da Esquina, estava internado desde 17 de outubro em um hospital da Unimed, onde chegou a ser intubado e passou por uma traqueostomia. O quadro se agravou nos últimos dias, e ele não resistiu.
De acordo com especialistas, a intoxicação medicamentosa é uma condição séria, que pode ocorrer tanto por erro na dose quanto por uso prolongado ou combinação indevida de remédios. O caso reacendeu o alerta entre médicos sobre os riscos da automedicação e do consumo de medicamentos sem acompanhamento profissional.
O que é a intoxicação medicamentosa
A médica Milena Ricardo Alves Moreira, generalista do Hospital Mater Dei Goiânia, explica que a intoxicação medicamentosa é “uma condição causada pelo uso excessivo, inadequado ou impróprio de medicamentos”. Segundo ela, o problema pode ocorrer por ingestão exagerada, intolerância ao remédio, erro na administração ou interação entre substâncias usadas ao mesmo tempo.
“Os sintomas variam de acordo com o medicamento e com a quantidade ingerida. Podem incluir alterações no estado mental, problemas cardiovasculares, respiratórios, hepáticos ou renais”, detalha a médica. “Toda medicação tem uma dose máxima e um tempo de intervalo entre uma dose e outra para evitar que isso aconteça.”
Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam que os medicamentos são a principal causa de intoxicações no Brasil. O levantamento mostra que cerca de 30% dos casos registrados envolvem uso incorreto de remédios de prescrição ou de venda livre.
Riscos de medicamentos de uso comum
Mesmo remédios amplamente utilizados podem representar perigo quando usados sem orientação médica. Analgésicos, anti-inflamatórios e antidepressivos estão entre os mais associados a quadros de intoxicação.
De acordo com Milena Moreira, “anti-inflamatórios podem causar lesões nos rins, analgésicos em excesso causam lesão no fígado e alteração no nível de consciência, enquanto antidepressivos podem levar ao rebaixamento da consciência e dificuldade respiratória”.
A automedicação é outro fator que agrava o problema. O uso contínuo de fármacos sem acompanhamento pode provocar sobrecarga nos órgãos responsáveis pela filtragem e eliminação de substâncias — especialmente fígado e rins. Interações entre diferentes medicamentos também podem alterar seus efeitos e causar reações inesperadas.
A intoxicação medicamentosa se torna grave quando afeta órgãos vitais ou compromete a respiração. A médica alerta que qualquer pessoa que apresentar dificuldade para respirar, vômitos incontroláveis ou mudança do nível de consciência deve procurar atendimento médico imediatamente.
Entre os principais sinais de alerta estão:
- Náusea e vômito;
- Dor abdominal;
- Confusão mental e desorientação;
- Sonolência ou perda de consciência;
- Alterações no ritmo cardíaco;
- Dificuldade respiratória;
- Tremores ou convulsões;
- Sudorese intensa;
- Pupilas dilatadas ou contraídas;
- Alterações na pressão arterial;
- Irritação na boca e garganta (em casos de ingestão tópica).
Esses sintomas podem surgir minutos ou horas após a ingestão, dependendo do tipo e da quantidade de medicamento envolvido. Em muitos casos, o tratamento exige internação hospitalar e suporte respiratório, como aconteceu com o músico mineiro.

Cuidados e prevenção
Para evitar esse tipo de situação, Milena recomenda que os pacientes tenham sempre acompanhamento médico e farmacêutico. “Mesmo as medicações que não exigem receita oferecem riscos à saúde. É importante seguir corretamente a prescrição e nunca ultrapassar as doses indicadas”, orienta.
A médica reforça ainda a importância de armazenar os remédios de forma segura e descartar corretamente os que estiverem vencidos ou sem identificação. A prática de compartilhar medicamentos entre familiares ou amigos também deve ser evitada.
De acordo com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp (CIATox), o Brasil registra anualmente milhares de casos de intoxicação medicamentosa, com aumento significativo entre idosos e pessoas que fazem uso contínuo de mais de um remédio.
O caso de Lô Borges chama atenção para uma causa que é comum e muitas vezes silenciosa. O uso inadequado de medicamentos continua sendo um dos principais motivos de internações por intoxicação no país, segundo dados da Fiocruz e do Ministério da Saúde.