Leite materno: o alimento perfeito para um começo de vida saudável
Especialista reforça a importância da amamentação exclusiva até os seis meses e aponta desafios
O simples ato de amamentar é capaz de transformar o início da vida de uma criança. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno é o alimento mais completo para o bebê, garantindo todos os nutrientes necessários nos primeiros meses de vida e fortalecendo o sistema imunológico. A recomendação é clara: a amamentação deve ser exclusiva até os seis meses e, sempre que possível, mantida de forma complementar até os dois anos de idade ou mais.
A pediatra Ana Lúcia Ferreira, especialista em nutrição infantil e integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), reforça que “o leite materno é um alimento vivo, com composição que se adapta às necessidades do bebê conforme ele cresce. Nenhuma fórmula industrializada consegue reproduzir esse equilíbrio perfeito de proteínas, gorduras, vitaminas e anticorpos”.
Entre os inúmeros benefícios para o bebê, a amamentação reduz significativamente os riscos de diarreia, pneumonia, infecções respiratórias e otites, doenças que ainda figuram entre as principais causas de mortalidade infantil em diversas regiões do mundo.
Segundo Ana Lúcia, “os anticorpos presentes no leite materno funcionam como a primeira vacina natural da criança. Eles criam uma barreira protetora que fortalece o sistema imunológico e previne infecções nos primeiros meses, quando o bebê ainda é muito vulnerável”.
Além da imunidade, o leite materno contribui para o desenvolvimento cognitivo e emocional. Estudos mostram que crianças amamentadas tendem a apresentar melhor desempenho escolar e menor risco de obesidade e diabetes na vida adulta. “A amamentação é um investimento em saúde pública, pois reduz custos com internações e tratamentos futuros”, observa a médica.
Benefícios também para a mãe
A amamentação não traz vantagens apenas para o bebê. As mães que amamentam também colhem resultados significativos para sua saúde física e emocional.
O ato de amamentar libera ocitocina, hormônio que ajuda o útero a retornar ao tamanho normal e reduz o sangramento pós-parto. Além disso, a prática está associada a menor risco de desenvolver câncer de mama, ovário e endométrio. “Há um claro efeito protetor hormonal. Quanto maior o tempo de amamentação ao longo da vida reprodutiva da mulher, menor o risco de determinados tipos de câncer”, explica a pediatra.
Outro ponto importante é o fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho. O contato pele a pele e o olhar durante a amamentação estimulam a liberação de endorfina, o que traz bem-estar e reduz a chance de depressão pós-parto. “A amamentação é também um ato emocional, de conexão e amor”, destaca Ana Lúcia.
Desafios e mitos que ainda persistem
Apesar dos benefícios amplamente divulgados, muitas mães ainda enfrentam dificuldades para manter a amamentação exclusiva até os seis meses. Entre os obstáculos mais comuns estão a falta de apoio familiar, o retorno precoce ao trabalho e a desinformação.
“Muitas mulheres acreditam que produzem pouco leite ou que o bebê não está satisfeito, mas na maioria das vezes isso não é verdade. O corpo da mulher é preparado biologicamente para alimentar o filho”, explica a pediatra.
A especialista também alerta para o perigo de crenças populares, como a ideia de que certos alimentos aumentam ou diminuem o leite. “Não há comprovação científica para isso. O mais importante é que a mãe se mantenha bem hidratada, alimentada e confiante em sua capacidade de nutrir o bebê”, afirma.
Programas públicos e bancos de leite humano têm desempenhado papel essencial no apoio às lactantes. No Brasil, o Ministério da Saúde mantém uma das maiores redes de bancos de leite do mundo, que orienta mães sobre a pega correta e incentiva a doação para bebês internados em UTIs neonatais.
O papel da sociedade
Garantir o direito de amamentar vai além das orientações médicas é também uma questão social e política. A licença-maternidade de quatro a seis meses e a existência de espaços adequados para amamentação ou coleta de leite no ambiente de trabalho são fundamentais para o sucesso desse processo.
“A mulher precisa ser acolhida, não julgada. Quando há suporte familiar e institucional, a amamentação flui com muito mais tranquilidade”, afirma Ana Lúcia. Ela ressalta que empresas e gestores podem contribuir criando políticas internas de apoio às mães lactantes, como horários flexíveis e salas de apoio à amamentação.
A amamentação é um dos pilares mais importantes para a construção de uma sociedade mais saudável. Promove nutrição adequada, previne doenças, fortalece o vínculo familiar e ainda contribui para a economia, ao reduzir gastos com fórmulas e medicamentos.
“Cada gota de leite materno representa uma dose de saúde e proteção para o bebê. Amamentar é um ato de amor que transforma gerações”, conclui Ana Lúcia Ferreira.
Enquanto políticas públicas e iniciativas de apoio se fortalecem, o maior desafio continua sendo a conscientização. Informar, acolher e apoiar as mães é o caminho para garantir que mais crianças tenham o privilégio de começar a vida com o alimento mais perfeito que existe: o leite materno.