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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
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O exame que ninguém quer fazer e o número que não para de subir

Em 2024, o câncer de próstata matou 17,5 mil brasileiros, um retrato da resistência masculina diante da prevenção

Luana Avelarpor Luana Avelar em 4 de novembro de 2025
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O toque retal, exame simples e decisivo para detectar o câncer de próstata, ainda é evitado por muitos homens por vergonha ou desinformação. Foto: Divulgação

O câncer de próstata continua sendo um dos maiores desafios da saúde masculina no Brasil — e não apenas por razões clínicas. Em 2024, a doença matou 17.587 homens, o equivalente a 48 mortes por dia, segundo dados do painel de mortalidade do Ministério da Saúde. Mesmo com alto índice de cura quando diagnosticado precocemente, o tumor ainda é cercado de preconceitos que retardam o diagnóstico e, muitas vezes, custam a vida dos pacientes.

Entre 2015 e 2024, o número de mortes cresceu 21%, passando de 14,9 mil para 17,5 mil óbitos. No total, mais de 159 mil brasileiros perderam a vida para a doença nesse período. O avanço foi mais expressivo no Centro-Oeste (26,1%), seguido pelo Sul (24,1%), Sudeste (21%), Nordeste (19,7%) e Norte (19,5%). Os números mostram que o país ainda falha em convencer os homens a fazer o que deveria ser um gesto simples de cuidado: ir ao consultório e realizar os exames de rotina.

Entre eles, o toque retal segue sendo o maior tabu. Embora rápido, indolor e decisivo para identificar alterações na glândula, o exame é frequentemente evitado. O preconceito, a desinformação e o constrangimento afastam milhares de homens dos consultórios. Em muitos casos, a resistência só cede quando os sintomas já indicam que a doença avançou demais — e o tempo de cura, antes tão acessível, se perde.

Quando não diagnosticado no início, o câncer de próstata se manifesta por sinais que podem ser confundidos com distúrbios benignos: dificuldade para urinar, jato fraco, sensação de bexiga cheia, dor nas costas e até sangramentos. Em estágios mais graves, quando há metástase, as dores ósseas intensas e a perda de peso indicam que o tumor se espalhou. Mas nem todos os casos exigem tratamento imediato. Em situações de crescimento lento, a conduta médica pode ser o acompanhamento contínuo, chamado de vigilância ativa. O risco, nesses casos, está no abandono do acompanhamento — quando o tumor pode ganhar força e escapar da janela de cura.

A principal porta de entrada para o diagnóstico é o exame de sangue PSA (Antígeno Prostático Específico), que mede alterações na glândula. Mas ele, sozinho, não é suficiente. Quando o PSA indica anormalidades, o toque retal se torna indispensável. E, se ambos levantam suspeitas, a ressonância magnética completa o quadro, permitindo avaliar o tamanho e a agressividade do tumor antes da biópsia.

Por ser um câncer silencioso, sem sintomas iniciais, a prevenção é a única estratégia realmente eficaz. O rastreamento deve começar aos 50 anos, ou aos 45 para grupos de risco — homens negros, obesos ou com histórico familiar da doença. Entre essas populações, o risco é duas vezes maior, e as taxas de mortalidade, mais altas.

A curva crescente de mortes contrasta com o avanço dos métodos de diagnóstico e tratamento. Hoje, as cirurgias são menos invasivas e os medicamentos, mais eficazes. O que ainda não evoluiu, no mesmo ritmo, é o comportamento masculino diante da própria saúde. O medo, a negligência e a ideia de invulnerabilidade seguem adiando consultas que poderiam salvar vidas.

O câncer de próstata é o segundo mais frequente entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. É também um dos mais previsíveis e controláveis — desde que seja detectado a tempo. O que está em jogo, no fundo, é menos uma questão médica do que cultural. Enquanto o exame for visto como ofensa à masculinidade, e não como ferramenta de autopreservação, os números continuarão a subir.

Mais do que um tema de campanha em novembro, o enfrentamento ao câncer de próstata é um convite à mudança de mentalidade. A coragem, neste caso, está em fazer o que salva.

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O toque retal, exame simples e decisivo para detectar o câncer de próstata, ainda é evitado por muitos homens por vergonha ou desinformação. Foto: Divulgação

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