Matheus Barcelos refaz caminho da infância à consagração nos bastidores da música
Em entrevista ao podcast Manda Vê, cantor e produtor relembra o início aos sete anos e o caminho que o levou dos barzinhos de Goiás aos grandes estúdios do país
Na última segunda-feira (10), o cantor e produtor Matheus Barcelos participou do podcast Manda Vê, apresentado por Juan Allaesse, e percorreu sua trajetória desde a infância em Aparecida de Goiânia até o reconhecimento como um dos nomes mais atuantes nos bastidores do sertanejo atual. Entre lembranças de improviso, gravações caseiras e parcerias que moldaram sua carreira, o artista reconstruiu o percurso que o fez trocar a rua pelo estúdio, sem perder a simplicidade do ponto de partida.
Filho de um trabalhador de Campinas, Matheus cresceu em um bairro popular onde o som das brincadeiras infantis dividia espaço com os primeiros acordes de violão. O interesse pela música surgiu aos sete anos, quando um vizinho começou a tocar canções de MPB após as partidas de futebol e as rodas de conversa da vizinhança. Foi com esse amigo que ele aprendeu a tocar “O Menino da Porteira”, a primeira de muitas músicas que viriam a definir seu caminho.
O incentivo do pai foi decisivo. Ao perceber o entusiasmo do filho, comprou um violão usado do patrão e o presenteou, acreditando que o instrumento logo seria esquecido em um canto. O que veio depois contrariou as expectativas: Matheus passou a estudar com uma professora que tocava em uma banda de forró e mergulhou no aprendizado. Logo começou a cantar, a tocar MPB e, mais tarde, a se interessar pelo sertanejo, gênero que marcaria sua trajetória profissional.
Ainda na infância, montou um pequeno estúdio doméstico com o pai, composto apenas por um computador, uma placa de som e um teclado de disquete. Nesse espaço improvisado, aprenderam juntos a gravar, editar e mixar. O primeiro CD foi produzido com esforço e criatividade. No segundo, um erro de computador fez com que todo o trabalho fosse apagado. Mesmo com o prejuízo, Matheus continuou a gravar e a desenvolver o interesse por produção musical, tornando-se autodidata.
Aos 13 anos, já demonstrava domínio técnico e um gosto evidente pelos bastidores da música. Pouco tempo depois, começou a se apresentar em bares de Aparecida e Goiânia. As apresentações se multiplicavam: em uma mesma noite, chegava a cantar oito horas em locais diferentes, acompanhado apenas do violão e da vontade de viver da arte. O repertório era variado e transitava entre o sertanejo e o acústico, resultado das influências que acumulou na infância.
A rotina dos barzinhos deu lugar às primeiras parcerias profissionais. Matheus formou sua primeira dupla ainda adolescente, experiência que o ajudou a amadurecer musicalmente e a compreender o mercado. Mais tarde, ao lado do cantor Bruno Morais, consolidou uma nova formação que durou cerca de sete anos. Juntos, se apresentaram em eventos particulares, festas e pequenas casas de shows, acumulando repertório, público e aprendizado. Chegaram a gravar um DVD na tradicional Villa Mix, resultado de um investimento modesto, mas carregado de empenho. A produção, feita de maneira independente, refletia o espírito de uma geração de artistas que aprenderam na prática a construir o próprio caminho.
Com o passar dos anos, Matheus consolidou a reputação de profissional dedicado e detalhista, qualidades que o levaram a novas oportunidades. O ponto de virada veio com o encontro com o produtor Rafael Augusto, responsável por apresentá-lo ao cantor Murilo Huff. A conexão transformou-se em parceria profissional: desde o primeiro projeto de Huff, Matheus atua como produtor, diretor vocal e segunda voz. O trabalho técnico e criativo que desenvolve hoje é resultado direto das experiências acumuladas desde a infância, quando experimentava sons em casa com equipamentos simples.
Hoje, com mais de uma década entre palcos e bastidores, Matheus Barcelos é reconhecido como um artista completo, capaz de unir sensibilidade e técnica. Sua presença nos projetos de Murilo Huff consolidou um estilo de trabalho pautado pelo rigor sonoro e pela entrega. A passagem pelo Manda Vê mostrou que, mesmo após tantos anos, ele ainda se vê como aquele menino da quadra de Aparecida, fascinado pelo som de um violão. O sucesso, para ele, não é o ponto de chegada, mas a continuidade de uma história feita de simplicidade, aprendizado e fidelidade à própria origem.

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