Goiânia lidera inflação no País com alta puxada por combustíveis e energia elétrica
IPCA de outubro sobe 0,96% na Capital, a maior variação entre todas as capitais brasileiras e reflete pressão dos reajustes de gasolina, etanol e energia elétrica sobre o custo de vida das famílias
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no Brasil, voltou a subir em outubro e expôs uma disparidade regional significativa: Goiânia registrou a maior variação do País, com alta de 0,96%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado, o mais elevado desde fevereiro deste ano (1,16%), supera tanto o índice nacional, que foi de apenas 0,09%, quanto o desempenho da capital goiana em outubro de 2024 (0,80%).
De acordo com o superintendente do IBGE em Goiás, Edson Vieira, o principal fator que diferencia o comportamento dos preços em Goiânia em relação ao restante do País é o peso dos combustíveis na cesta de consumo local e a intensidade dos reajustes.
“O reajuste da gasolina e do etanol teve impacto mais intenso em Goiânia do que na média nacional. No caso da gasolina, a média nacional foi de 0,29%, enquanto em Goiânia chegou a 4,78%. Movimento semelhante ocorreu com o etanol, que subiu 0,85% no Brasil e 9,78% em Goiânia”, explica.
Esse movimento é amplificado pela estrutura de consumo local: a gasolina, segundo ele, representa 6,5% da cesta goianiense, ante 5,1% no cálculo nacional. Já o etanol, produto amplamente utilizado no Estado, tem peso de 1,27% em Goiânia, mais que o dobro do índice nacional (0,66%).
O resultado foi um avanço de 2,11% no grupo Transportes, o que elevou não apenas o custo do deslocamento diário da população, mas também o frete de mercadorias, pressionando outros preços na economia.
Outro item com forte influência foi a energia elétrica residencial, que subiu 6,08% em Goiânia, enquanto no Brasil apresentou queda de 2,39%. O aumento, de acordo com o superintendente, é consequência direta do reajuste tarifário anual da Equatorial Goiás, aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), de 18,55%, em vigor desde 22 de outubro.
“Esses aumentos afetam diretamente o orçamento das famílias. O aumento da energia elétrica pressiona os gastos fixos mensais, reduzindo a renda disponível para outras despesas”, ressalta Vieira.
No grupo Habitação, a alta foi de 2,36%, e no acumulado do ano a energia elétrica já soma aumento de 15,09%. Para as famílias, isso significa uma redução perceptível no poder de compra. “Com maior parcela da renda comprometida com com itens essenciais como energia e transporte, sobra menos para o consumo de bens e serviços não essenciais”, acrescenta o superintendente.
Inflação
Embora a inflação em Goiânia tenha sido fortemente influenciada por combustíveis e energia, outros setores também mostraram variações importantes. O grupo Alimentação e bebidas, que vinha em queda há cinco meses, voltou a subir (0,34%) em outubro, puxado por tubérculos, raízes e legumes (9,21%), aves e ovos (2,16%) e óleos e gorduras (3,25%). Por outro lado, houve recuo nos preços de frutas (-1,30%), leites e derivados (-0,82%) e carnes (-0,29%), o que ajudou a conter parte da pressão inflacionária.
Alguns grupos registraram queda: Vestuário (-0,19%) e produtos farmacêuticos (-0,94%) tiveram retração, amenizando levemente o impacto geral. Mesmo assim, o acumulado de 12 meses em Goiânia atingiu 4,68%, alinhado ao resultado nacional, mas com composição distinta, em Goiás, os aumentos vêm de itens de consumo básico, o que torna o impacto social mais severo.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação de preços para famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos, também apresentou alta expressiva de 0,92% na Capital, revelando que a inflação tem atingido com maior intensidade os grupos de menor poder aquisitivo.
“Os aumentos de preços em itens essenciais dos grupos alimentação e bebidas, transportes e habitação impactam mais fortemente as famílias de baixa renda, que destinam maior parte de seu orçamento a essas despesas”, explica Vieira. “Como são itens de consumo básico e de difícil substituição, o efeito inflacionário tem caráter regressivo, penalizando desproporcionalmente os mais vulneráveis e ampliando as desigualdades no poder de compra.”
Além do avanço no IPCA e no INPC, o IBGE apontou alta no Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), que subiu 0,43% em Goiás, acima da média nacional (0,27%). Segundo Edson, esse aumento indica uma possível tendência de encarecimento futuro no setor imobiliário.
“Esse avanço pode elevar os custos de investimentos e moradias, refletindo-se em preços mais altos de imóveis e maior pressão sobre o orçamento de obras públicas nos próximos meses, tanto no setor privado quanto no público”, observa.
Com o resultado de outubro, Goiânia se consolida como a Capital com maior pressão inflacionária do País, reflexo direto de fatores locais como a matriz energética e o perfil de consumo, que amplificam os efeitos de reajustes nacionais. Para o consumidor, o cenário reforça a necessidade de atenção ao orçamento doméstico, enquanto para o poder público, o desafio é monitorar os desdobramentos dessa inflação persistente sobre o custo de vida e a atividade econômica regional.