Manifestação indígena bloqueia entrada da COP30 em Belém
Munduruku bloqueiam acesso principal da COP30 e pressionam governo federal sobre hidrovias e obras nos rios amazônicos
Uma manifestação indígena do povo Munduruku bloquearam na manhã desta sexta-feira (14) o principal acesso à Blue Zone da COP30, em Belém, interrompendo o fluxo de delegações e visitantes logo no início das atividades do quarto dia da conferência. A mobilização, articulada pelo Movimento Ipereg Ayu, buscou pressionar o governo federal diante do avanço de projetos de infraestrutura que, segundo o grupo, afetam diretamente seus territórios na Amazônia.
O bloqueio ocorreu dois dias depois de manifestantes terem conseguido entrar à força no local da conferência na terça-feira (11), episódio que levou o governo brasileiro a reforçar a segurança após críticas da ONU. Na ocasião os manifestantes eram representantes dos Tupinambá, Arapiun, Arara Vermelha e Maitapu, da região do Baixo Tapajós (PA).
Desta vez, militares organizaram o deslocamento do público para uma entrada lateral, medida que gerou filas e atrasos. A ONU Clima afirmou que a “manifestação pacífica” não representou “nenhum perigo”.
O fechamento da entrada principal começou por volta das 9h, provocando concentração de participantes e desvio do fluxo para uma saída usualmente utilizada ao fim do expediente. Voluntários distribuíram água para quem aguardava na fila, enquanto a organização tentava reorganizar o acesso ao evento. A liberação parcial só veio algum tempo depois, mas o deslocamento continuou lento até que todos conseguissem entrar.
Por orientação da segurança, as lideranças foram conduzidas a uma reunião com o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, e com a ministra dos Povos Indígenas. A conversa, porém, não encerrou o protesto. Perto das 11h, parte do grupo retornou ao local e voltou a fechar o portão, levando a organização a abrir outra passagem emergencial para evitar nova interrupção completa da circulação.

Manifestação pede anulação do Decreto nº 12.600/2025
O foco da manifestação é a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que cria o Plano Nacional de Hidrovias e estabelece os rios Madeira, Tocantins e Tapajós como corredores prioritários para transporte de cargas. As lideranças afirmam que a medida “abre a porteira” para dragagens, derrocamentos de pedrais considerados sagrados e expansão de portos privados na região.
O movimento ainda ressalta em comunicado que “esse decreto ameaça exterminar nosso modo de vida, porque transforma o rio em estrada de soja. Presidente Lula, o senhor precisa ouvir o nosso povo antes de decidir sobre nosso futuro”. Para os Munduruku, essas intervenções aceleram impactos ambientais e sociais que atingem diretamente suas comunidades.
A manifestação também denunciou o avanço de grandes empreendimentos nas bacias do Tapajós e do Xingu, apontando que eles vêm sendo conduzidos sem consulta prévia, livre e informada, como prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho. A ausência de diálogo, segundo os indígenas, evidencia que iniciativas federais continuam sendo decididas sem considerar os territórios afetados.
Os integrantes do movimento reiteraram que Lula, que estava em Brasília, precisa receber o grupo para tratar das reivindicações. Eles afirmam que projetos em curso configuram uma espécie de “venda da floresta”, ao permitir que empresas ampliem atividades em áreas tradicionalmente ocupadas por povos indígenas.
As COPs buscam alinhar interesses globais em metas de emissões, financiamento climático e transição econômica. Sob comando de André Corrêa do Lago e Ana Toni, a presidência define prioridades. Em duas semanas, negociações técnicas e políticas avançam até acordos que exigem consenso.