Goiás se adapta às novas diretrizes de colesterol e pressão arterial
Estado revisa protocolos, prepara capacitações e avalia capacidade da rede para incorporar mudanças nacionais no cuidado cardiovascular, tanto do colesterol e pressão arterial
As novas diretrizes brasileiras para colesterol e hipertensão estão mudando a forma como médicos, gestores e pacientes precisam enxergar o risco cardiovascular. Agora, parâmetros mais rigorosos e ferramentas de avaliação personalizada fazem parte de um movimento nacional para antecipar diagnósticos e reduzir complicações graves, como infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Em Goiás, o processo de adaptação começou, mas ainda exige reorganização da rede, atualização de protocolos e capacitação das equipes. Segundo o cardiologista Murilo Meneses, as mudanças refletem evidências recentes de que mesmo valores intermediários de pressão e colesterol já aumentam o risco cardiovascular.
“O ideal é agir antes que o problema se instale. Quando identificamos alterações, é possível tratar mais cedo, reduzindo significativamente ocorrências como infarto e AVC”, afirma.
Entre as novidades, a diretriz nacional redefine metas de LDL (“colesterol ruim”) de acordo com o risco individual, utilizando o Prevent Score e novos marcadores laboratoriais, como lipoproteína(a) (Lp(a)) e Apo-B.
Para a pressão arterial, a classificação de pré-hipertensão passa a incluir quem tem valores entre 12/8 e 14/9, ampliando a população que exige acompanhamento mais rigoroso e intervenções precoces no estilo de vida. “Com um controle mais próximo, conseguimos ajustar o tratamento de forma individualizada e obter resultados duradouros”, explica Meneses.
Em Goiás, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) confirmou que está revisando as notas técnicas de hipertensão e atualizando a calculadora estadual de risco cardiovascular, publicada em 2021. A nova versão vai incorporar os critérios de pré-hipertensão, metas mais rígidas de LDL e parâmetros que orientam condutas específicas na Atenção Primária e na Atenção Especializada.
Após a publicação das atualizações, a secretaria avalia realizar novo ciclo de capacitações estaduais, em parceria com a Planificação da Atenção à Saúde, seguindo o modelo aplicado em 2022.
Essas capacitações devem abordar a classificação atualizada da pressão arterial, o uso do Prevent Score, a interpretação dos novos exames e a tomada de decisão baseada em risco global. A intenção da SES-GO é que todos os profissionais da Atenção Primária tenham acesso ao conteúdo e à nova calculadora de risco.
Outro ponto sensível é a oferta de exames adicionais. A SES informou que, após a revisão das notas técnicas, fará levantamento nas cinco macrorregiões do Estado, dentro do Plano de Regionalização (PAR), para identificar necessidades e pactuar novos serviços. A secretaria reconhece que a rede laboratorial precisa ser ajustada para incluir testes como Lp(a) e Apo-B.
Acompanhamento nas unidades básicas para colesterol e pressão arterial

Com o aumento do número de pessoas classificadas como pré-hipertensas, o Estado também reforça o acompanhamento nas unidades básicas, com consultas regulares, aferição padronizada da pressão e registro qualificado. A pré-hipertensão passa a ser tratada como condição prioritária, com foco em prevenção, educação em saúde e intervenções multiprofissionais.
A secretaria aponta desafios para a implementação plena das novas diretrizes, como padronizar fluxos entre municípios, capacitar equipes, ampliar exames e melhorar registros clínicos. Segundo a secretaria, o trabalho atual se concentra na atualização técnica, na articulação com regionais de saúde e na reorganização da rede de atenção.
A reportagem também procurou o Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde/GO). O sindicato afirmou que, neste momento, não tem condições de se posicionar tecnicamente sobre a aplicação das novas diretrizes “porque elas ainda não foram incorporadas de forma concreta na rotina das unidades”.
O cenário aponta para um período de transição. Enquanto as diretrizes nacionais avançam para diagnósticos mais precoces e tratamentos personalizados, Goiás ajusta seus protocolos e estrutura a rede para acompanhar as mudanças, um processo que envolve desde capacitação de profissionais até ampliação de exames e padronização de linhas de cuidado.